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17 de dezembro de 2011

Entrevista ao ator José Fidalgo: "Nunca aceitei ser protagonista"

Aos 32 anos, aceita o primeiro protagonista: os convites anteriores "não tinham sumo". Confiante no rumo da ficção da SIC, diz que a da TVI terá de melhorar, elogia a humildade de Cláudia Vieira e frisa que quem só faz novelas estupidifica. O actor desabafa ainda sobre os estigmas de sex symbol e fala das saudades de casa.

Há cinco meses que começou a gravar a novela Rosa Fogo (SIC). Interpretar um Diogo Montez tão dissimulado e mau carácter é desgastante?

Tem sido, antes, muito desafiante no sentido da relação que tenho com as outras personagens da novela. O Rogério Samora obriga-me a uma postura muito diferente da que tenho com Cláudia Vieira, com Ângelo Rodrigues, Andreia Dinis ou Sandra Barata Belo, por exemplo. São várias maneiras e posturas que tenho de assumir, diariamente. Todas elas acabam por não ser verdadeiras e isso é confuso na mentalidade humana.

Como é que gere isso?

É muito confuso. Uma pessoa chega a casa ao final de um dia de trabalho e, se calhar, pergunta-se quem é. É um pouco difícil. Mas compreendo muito esta personagem porque acredito que há muita gente assim.

A sua personagem é uma espécie de homem com cara de anjinho e alma de diabinho. É difícil gerir este equilíbrio?

Tenho-me preocupado com isso. Com o facto de se assumir que se tem uma certa imagem, de tantas vezes que se ouve isso, e associar essa imagem à personalidade da personagem. E este Diogo joga com a sua beleza. É uma arma. É um jogo de inteligência. Mas ele acorda para a vida mais para a frente na novela, começa a dar valor a outras coisas e a perceber que este limbo em que se sente não faz bem a ninguém. Esse é o desafio. A partir de uma certa altura da escrita da Patrícia Müller, o objectivo da personagem é passar por ser "ele" e não conseguir. O Diogo está num enredo tão difícil que não há ninguém com quem ele possa desabafar.

Inspirou-se em alguém em específico para construir este vilão?

Não. Existem sempre referências aqui e ali e essas estão sempre no nosso dia-a-dia. E depois, basta enfrentarmos as evidências das histórias.

Qual foi, então, o ponto de partida?

Este Diogo Montez teve um passado ligado à toxicodependência. Esta era a única coisa que eu tinha escrito na sinopse que me foi entregue. A partir daí, e do que vemos, lemos e ouvimos das pessoas com quem nos relacionamos, começamos a introduzir condimentos. Mas é muito fácil entrar-se por lugares-comum.

Tem 32 anos. A sua primeira novela foi há nove anos, O Olhar da Serpente, da SIC. Porquê só agora um primeiro papel como protagonista?

Porque nunca aceitei um protagonista. Houve convites. Os papéis protagonistas até hoje não tinham sumo suficiente para eu aprender como actor. E pensei: "Vou fazer um protagonista porquê? Porque me vai dar notoriedade e não reconhecimento? Fama? Ter mais campanhas publicitárias?" Nunca me levaram a mal estas negas. Não vejo isto como um acto vanglorizador, mas sim como um gesto humilde.

Há pressão e responsabilidade acrescidas por estar a interpretar o seu primeiro protagonista?

Sim. A pressão que eu coloco. Digo aos meus amigos que estou encostado à parede e com uma faca nas costas (risos). Claro, sinto essa responsabilidade maior por já ter negado outros protagonistas e não pela necessidade de provar ao público que sou bom ou mau. Isso também me preocupa, mas passa-me um pouco mais ao lado. A prova é para mim mesmo.

Como tem sido trabalhar ao lado de Cláudia Vieira [Maria]. No início da novela, de resto, de uma forma bem intensa...

Já conheço a Cláudia há dez anos. Nunca tinha trabalhado com ela, mas sempre tive a certeza de que ela era uma pessoa excepcional. É de uma humildade incrível. O que me fascina nela é a percepção que ela teve de tentar dissociar-se da imagem que tinha como "Cláudia Vieira-produto-Morangos com Açúcar" para uma Maria, que é uma mulher segura de si e com tudo aquilo que a palavra mulher consegue acarretar. Ela conseguiu fazer isso: conseguiu tirar a mulher dentro dela e sair de uma imagem de Cláudia Vieira que existe e que ela continua a ter, porque é bonita e é a escolha de vida dela. Mas ela teve essa percepção.

Esta novela é a prova de fogo de Cláudia?

Rosa Fogo era a oportunidade que a Cláudia merecia. Acreditava que ela ia ter um desafio com esta novela e que ia querer superar as expectativas de muita gente. A Cláudia atingiu uma notoriedade e fama muito grandes. Mas nunca se viu a Cláudia a desrespeitar alguém ou a ser snobe.

E no final da novela, que termina as gravações em Fevereiro, a Maria merece ficar com o Diogo ou com o Estêvão [Ângelo Rodrigues]?

Não sei (risos). Na minha opinião de actor acho que cada um devia seguir a sua vida. Ao longo da novela, vão passar-se tantas coisas que as pessoas vão cansar-se. Quando há muita confusão e zanga até é bom haver uma pausa. O sufoco que há naquele triângulo não faz bem a ninguém, mas não sei qual será o final. Ou há uma mudança radical na história, e que me faça acreditar que eles merecem ficar os dois, ou o destino será o afastamento.

A última novela em que entrou [se excluirmos a participação pontual no primeiro episódio deLaços de Sangue] foi Perfeito Coração, também da SIC, em 2009. Porquê esta pausa tão grande nas novelas? É um formato que cansa facilmente um actor?

Não cansa, mas cansa se um actor fizer um percurso de carreira só de novelas. Aí um actor está a cansar-se e a estupidificar-se como actor. Há quem o faça por razões financeiras, mas até isso faz parte do próprio limbo de um actor, passar por esta experiência. Isso até faz que a entrega a uma personagem depois seja maior. A crise, a nós actores, já nos bate desde o início. Esta crise por que todos passam, nós sempre a passámos. Ou se tem problemas financeiros e se aceita fazer novelas toda a vida, ou então alguma razão deve existir para fazer só novelas. Se são maus ou bons actores, não sei. Eu, enquanto homem e actor, tento perceber qual é o meu papel. É fazer sempre novelas? Não.

Porque diz que fazer apenas novelas é estupidificar?

Um actor tem de ficar munido do maior número de ferramentas para dar resposta ao maior número de problemas que surjam na sua vida e carreira: os castings, as conversas que podem surgir. Não condeno quem faça só novelas, nem tão-pouco os julgo. Mas os meus objectivos e prioridades dizem que um actor tem de ser polivalente. Até porque um actor não vai fazer melhor as novelas se só fizer novelas. A sua personagem vai pertencer a um quadro estereotipado daquilo que sempre aprendeu.

Quais são, em contrapartida, as vantagens da novela face ao teatro e ao cinema, excluindo a questão financeira?

Em relação ao teatro, ao cinema e até à publicidade, os pormenores, as nuances de carácter e de personalidade evidenciam-se muito mais em formato de novela. Há muitas histórias a acontecer. É um mundo difícil, mas a que dou muito valor. Se conseguirmos ultrapassar as dificuldades inerentes ao trabalho de uma novela, em todas as outras áreas teremos maior amplitude de raciocínio. Se um actor for inteligente e souber fazer uma boa novela, vai fazer um bom papel. Na minha opinião, Rosa Fogo é uma boa novela e o Diogo Montez é uma boa personagem para mim.

É um actor preocupado com as audiências ou abstrai-se dos números?

Sempre que visto a camisola, defendo-a até ao fim. Sou um actor exclusivo da SIC e como tal preocupo-me com as audiências, claro, apesar de nunca deixar que isso interfira na qualidade do meu trabalho.As audiências de Rosa Fogo [ronda os 700, 800 mil telespectadores, por dia] estão um pouco aquém das expectativas, depois do sucesso que foi Laços de Sangue... Nós começámos por baixo, mas ainda assim ficámos uns pontos acima de Laços de Sangue no seu início, o que só pode perspectivar boas audiências. A novela tem estado nos dez mais vistos do dia, apesar de não estar no lugar que queríamos. Mas este percurso tem sido melhor em relação a Laços de Sangue, se compararmos com o mesmo período.

Consegue medir a temperatura da ficção da SIC?

Essa pergunta tem rasteiras (pausa).

Acredite que não...

A SIC está a passar por uma fase à qual nós actores damos todos muito valor. No futuro, tudo vai depender da própria gestão da SIC e, nomeadamente, de Gabriela Sobral [directora de Produção Nacional de Carnaxide] e de quem a rodeia. A ficção está numa fase ascendente desde Perfeito Coração, com o pico máximo em Laços de Sangue. A grande prova de fogo é a nossa novela. Não há aqui nenhuma co-produção com a TV Globo. Aquilo que nós conversamos, entre nós actores, é que a SIC invista também em séries. A RTP já o está a fazer, e bem. Mas a ficção está muito quente, porque há muito brain storming, neste momento, dentro da SIC. Espero que Rosa Fogo alcance um sucesso maior do que Laços de Sangue.

Mas em termos práticos, o que é que a ficção da SIC tem que a da TVI, por exemplo, não tem?

Para já, os segmentos. A SIC atinge um segmento e a TVI outro. Comercialmente falando, é assim que as coisas funcionam. A SIC tem um público de classe média, média alta. E a TVI de classe média, média baixa. Com a crise actual que vivemos, estas classes ficam mais díspares. Começa a desaparecer a classe média e a haver, cada vez mais, uma classe alta e outra baixa. Há aqui um grande desafio para a TVI: obrigar a impor mais qualidade no seu produto. E também tem de se aprimorar mais no aspecto da fotografia.

Que programas é que não perde na nossa televisão?

Os noticiários da SIC Notícias, o Café Central da RTP2. (pausa) Ah, o futebol! E há uma série que adoro que se chama Sons of Anarchy [emitida no AXN]. Adoro a temática da série: as motos e o estilo de vida dos motards.

Muitas pessoas olham para si como um galã ou um sex symbol nacional. Isso incomoda-o? Aprende-se a viver com isto?

Nunca foi uma preocupação, para ser sincero. Aceitando esse facto como um elogio, é bom e fica-se contente. Depois, é uma questão de se saber lidar com isso e perceber em que é que isso vai ou não afectar a nossa vida.

E afecta?

Afecta q.b. É uma questão de saber gerir isso, mas é um assunto que nunca me influencia ou influenciou no dia-a-dia. Sou como sou.

Mas sejamos sinceros: na representação, ajuda ser-se bonito?

Claro que ajuda! Que venha outra pessoa dizer que não. Mas o público também acaba por dar valor a quem tem esses atributos e é um actor reconhecido. Isso dá uma satisfação enorme. Mas ser bonito ajuda só um bocadinho, depois falta o resto: a garra, o talento, a inteligência, a perspicácia. Tanta coisa. Se não há isto, é-se apenas mais um "actorzeco".

Desde que começou a gravar a novela, tem estado a viver num hotel em Lisboa durante a semana e vai para Fafe [onde vive a mulher e o filho] aos fins-de-semana. Como tem sido deixar o Norte?

Não é nada fácil, mas se formos a ver já faço isto há sete anos. Às tantas já acabo por tratar a A2, a A8, a A29 e a A16 como a minha casa (risos).

Visitar a sua mulher, a empresária Fernanda Marinho, e o seu filho, Lourenço, que fez recentemente 2 anos, apenas aos fins-de-semana é a parte mais difícil?

Não é fácil, mas é a vida que cada um escolhe. É a vida de actor. Eu já tinha esta profissão e já sabia o que queria da vida quando conheci a Fernanda. Adaptámos os nossos estilos de vida, naturalmente. Mas não é nada fácil.

O José mantém uma relação de vários anos com Fernanda. Qual o segredo da estabilidade amorosa? Se é que existe...

Acho que não existe. Enquanto há vontade, necessidade de descoberta, respeito, vontade de viver com outra pessoa, vontade de agradar ao outro, enquanto se sente a falta do calor dessa pessoa, enquanto se pensar nela durante o dia, enquanto se vê uma notícia pouco tempo depois de ela ter um acidente e imediatamente a seguir nos lembramos dela, enquanto se vê uma pessoa parecida e lembramo-nos logo, enquanto houver esse grande fascínio pela outra pessoa, isso é amor. Depois o próprio tempo vai fazer que isso se consolide e seja tão necessário como viver. Enquanto houver essa faísca, não há razões para explicar o amor. Mas enquanto houver tudo isso, eu acredito nele.

A Fernanda é crítica em relação ao seu trabalho?

É!

Como é que a sua mulher reagiu às cenas quentes que protagonizou com Cláudia Vieira no início de Rosa Fogo?

Muito sinceramente, a minha mulher já está habituada a esse tipo de cenas. O próprio anúncio que fiz com a Mónica Bellucci [em 2007, para a marca Intimissimi] também foi um pouco nesta temática. A minha mulher já me conhecia neste tipo de trabalhos. Ela lida bem, como qualquer mulher pode lidar nestas circunstâncias. Havendo sinceridade, conversa e honestidade, supera-se tudo.

Como compensa o seu filho Lourenço aos fins-de-semana?

Vejo-o sempre e apenas aos fins-de-semana, o que não é nada fácil, mas ele está bem! O Lourenço está sempre a perguntar pelo pai, o que me deixa muito contente (risos). Ao fim-de-semana, tento sempre fazer tudo e mais alguma coisa com ele. Mas claro que é muito difícil. A minha principal preocupação é ser um pai presente com qualidade e não um pai ausente. E há sempre o Skype! (risos).

Ainda que fale abertamente e um pouco de tudo, o José mantém uma postura discreta. Mate a curiosidade das suas admiradoras e conte uma curiosidade que ninguém saiba sobre si.

(pausa) Não faço a mínima ideia!

Qualquer coisa insólita...

Olha, por exemplo, para eu adormecer tem de ser sempre virado para o lado direito e com o braço esticado (risos). Tem de ser assim, senão não dá (risos).

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