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28 de abril de 2012

Jel dos “Homens da Luta” em entrevista

Como está a ser o regresso dos ‘Homens da Luta' à televisão, no ‘Gosto Disto!' da SIC?

Tem sido um ritmo alucinante. Já não fazíamos TV desde 2008. Estar num canal generalista e num programa que se está a safar tão bem dá uma grande visibilidade. O maior impacto que sentimos é a franja nova de público que são os miúdos. Estou a falar de miúdos entre os 5 e os 7 anos, fãs dos Homens da Luta. Este ano até nos mandaram várias fotos de miúdos mascarados de Homens da Luta, o que foi muito engraçado e dá que pensar.

Para quando um programa só dos Homens da Luta?

Não sei. Há muito tempo que deixei de fazer planos a longo prazo. Estamos aqui bem. Temos ritmo e como fazemos sátira política tema não nos falta. Sentimos que estamos a fazer bem o nosso trabalho. Parece que a SIC quer continuar com o programa e nós vamos continuar também. É viver as coisas dia a dia e malhar enquanto o ferro está quente.

Têm total liberdade para criar os vossos sketches?

Total. Aliás essa é uma das condições. A única premissa é não cometermos crimes. O que não quer dizer que, de vez em quando, não vamos até à esquadra...

Este governo é melhor ou pior para fazer humor?

É a mesma coisa. Apanhámos o Sócrates e agora temos o Passos. Há muito material para fazer sátira política. Damos por nós no olho do furacão e, ao mesmo tempo, com uma atitude de rir de coisas que não têm graça nenhuma. Encaramos a nossa atividade um pouco como o surfista: apanhamos a onda e tentamos manter-nos equilibrados. Nunca fazemos apologias ou ideologias políticas, pois isso seria a morte do artista, mas votamos na luta. E vamos a várias, o que faz com que as pessoas se sintam identificadas connosco.

Os políticos são cada vez mais inacessíveis?

Sim é muito difícil chegar até eles. Há muitas barreiras de segurança. Os políticos têm muito medo do ridículo, mais do que do tribunal. E eles sabem que ao cruzarem-se connosco vão sempre cair no ridículo. No início tínhamos o factor surpresa como arma e agora não. Mas continuamos a ir aos Ministérios e a ser levados pela polícia. A vantagem que temos em relação a outros comediantes é que nós somos personagens e isso liberta-nos. O nosso humor é uma arma muito forte. E eu tenho orgulho nisso.

Gosta da intimidação que causa?

Não é o gozo da intimidação. Simplesmente seria mau sinal se eles nos recebessem de braços abertos. Era sinal que não estávamos a fazer bem o nosso trabalho. A nossa intervenção é ultra-demagógica, populista. Estamos sempre solidários com quem se está a manifestar, seja qual for o intuito. As pessoas acolhem-nos muito bem, com aplausos e sorrisos. Isso para nós é muito forte.

A vossa presença é quase obrigatória em manifestações?

Não conseguimos estar nem em dez por cento dos sítios para onde nos convidam. Ou porque não podemos ou porque são coisas muito politizadas e temos de ter cuidado com isso. Mas saímos energizados.

O que são, afinal, os Homens da Luta?

Os Homens da Luta não têm barreiras morais. Para eles não há incoerências. Para eles manifestarem-se ou gostar de marisco é a mesma coisa. São viciados em liberdade. Eles energizam sem julgar. O tema da luta é o segredo e é mais importante do que os homens. E, mais uma vez, por sermos personagens podemos dizer tudo o que nos vem à cabeça.

Mas sem ofender...

Ó pá, há muita gente que não gosta de nós. Mas isso faz parte da luta. Mexemos com a malta. Há muita gente que diz que somos uns vendidos. Ora os Homens da Luta, que estão na luta para viverem bem, para comer bife do lombo e ir de férias, jamais se venderão porque, na sua génese, já são uns vendidos.

As pessoas conseguem distinguir o homem do personagem?

Não, eu quando ando na rua sou o Homem da Luta. Eu sei que existe essa distinção, mas as pessoas não, nem devem! Isso também é sinal de que estamos a fazer as coisas bem.

Quantas vezes já foram detidos?

Dezenas de vezes.

E agredidos?

Agredido não, mas já levei uns empurrões e uns apertões.

Encarnar os Homens da Luta dá-vos coragem para enfrentar determinadas situações?

Não se explica racionalmente isso, pois envolve adrenalina. Por exemplo, estivemos na manifestação na Maternidade Alfredo da Costa, vestidos de mulheres, com barrigas de grávidas, ridículos. Antes de chegarmos estamos nervosos, é sempre assim. Mas depois começa a música, o quiririri, o barulho da malta e pronto.

Espera-se alguma candidatura política da vossa parte este ano?

Não, essa aspiração já nos passou. Mas as pessoas pedem-nos para o fazer.

E ao estrangeiro?

Não sei, vamos ver. Para a luta continuar viva temos de estar sempre a lançar desafios novos. Mas o futuro não sei.

Como foi a experiência nos Estados Unidos?

Fomos participar na campanha do Obama e foi muito mais difícil lá do que cá, sobretudo por causa da barreira da língua. Pois o programa era para ser visto cá. Por acaso, de todos os que fizemos na SIC Radical foi o que teve piores audiências. Mas gostámos muito de lá estar e divertimo-nos muito.

Como começou a sua carreira na comédia?

Quando percebi que não ia ser jogador de futebol nem o Jim Morrison aceitei fazer aquilo que faço melhor: ter muita lata. Mas o mérito é dos Gato Fedorento. Quando eles começaram, em 2004, todos diziam que eles eram muito bons e eu não achava graça. Aquilo picava-me. Achei que também podia fazer comédia. Juntei dinheiro, tirei um curso de editor de vídeo e criei os meus primeiros personagens: o russo, o toxicodependente, o Miguel Martins, um gajo que vendia Portugal aos terroristas. Peguei naquilo e levei ao Rui Unas. Ele curtiu e deu-me uma rubrica no ‘Cabaret da Coxa', da SIC Radical. Daí fui para o ‘Revolta dos Pastéis de Nata', na RTP. No fundo foi o facto de não gostar dos Gato que me estimulou a fazer comédia. É um pouco o segredo de conseguir manter uma certa sanidade mental. Se os visse, não gostasse e não fizesse nada tornava-me ressabiado e invejoso.

E como é que nasceram os Homens da Luta?

De uma piada entre mim e o meu irmão, como aliás já é habitual. Estávamos a ver imagens de uma manifestação na televisão e começámos a dizer coisas do género: "É pá, hoje a luta foi cansativa. Amanhã vou meter folga à luta..." Como se fossemos dois profissionais daquilo. E logo sentimos que tínhamos criado ali qualquer coisa. Começámos por fazer a luta pura e dura, a dizer mal, a criticar. Um dia, em 2008, num comício do Sócrates, decidimos ir lá dizer bem. "Força Sócrates, tu és bom para a luta". E isso fez-nos ganhar um fôlego novo, pois entrámos na ironia. Agora entrámos noutra fase, quase surreal, de levar os temas à letra. Por exemplo: o pacote de ajuda (arranjamos uma brasileira com um ganda ‘pacote' e lá vamos nós). Não há limites. Somos livres e esse é o nosso segredo.

Quando estiveram afastados da TV apostaram na internet. Como foi?

Para quem faz conteúdos, como nós, é uma revolução. O facto das coisas que fazemos estarem disponíveis online é que faz com que se consiga fazer o crossover. Isso aconteceu com os Gato Fedorento e com muitos outros. Com o aparecimento do facebook é que temos trabalhado mais nessa área e lançámos a nossa banda. Estamos com cerca de 440 mil pessoas inscritas e isso permite-nos divulgar tudo aquilo que fazemos.

Como é o homem por detrás do Neto?

Tranquilo. Tenho uma vida normal, uma mulher, uma filha. Encaro o que faço como uma profissão e não como uma missão.

Consegue separar bem as coisas?

No início era mais inquieto. Felizmente isso tem-me passado. Até porque tenho conseguido trabalhar. A verdade é que não me iludo com facilidade. Sei que dependo sempre dos resultados. Não tenho padrinhos, nunca tive. E isso faz-me ter força todos os dias. E o facto de isso não ser uma regra em todas as áreas revolta-me. Se calhar esse é o maior mal de Portugal.

Refere-se a algum caso em particular?

Refiro-me a todas as situações que são alheias aos resultados. Vamos imaginar que sou humorista e algumas pessoas bem colocadas acham-me graça, acham que sou genial. Por isso dão-me um programa e este tem maus resultados. Acham que o problema são as pessoas, que são burras. Por isso dão-me mais um programa e este volta a ter maus resultados. Mais uma vez a culpa é das pessoas, que não percebem como sou genial. Por isso dão-me mais um programa... Isto acontece muito. Mas eu defendo a ditadura do resultado. Não levo a mal que quando fizer uma coisa que não dê certo me peçam para encostar. Isso aconteceu-me na SIC Radical e fez-me bem, obrigou-me a abrir a pestana, fazer-me à vida. A única justiça que pode haver é a justiça dos resultados. Há muita gente que pensa que o povo é burro, o que é um bode expiatório excelente. Mas o povo é sábio. E se o povo não acolhe o que eu faço sou eu que não estou a fazer bem. Isso tem sido o segredo da nossa longevidade. Por isso é que os Homens da Luta se assumem como populista.

Qual foi a maior loucura que já fez?

Saltar de pára-quedas. Brincámos com a emigração e o conceito de ‘dar o salto'. O problema é que eu e o meu irmão temos medo de alturas. Depois logo se vê.

O Falâncio inspirou-se no Zeca Afonso. É um ídolo vosso?

O Zeca Afonso é uma das minhas maiores referências artistas. Levamos muita porradinha de muita gente por causa disso, de pessoas que gostam de sacralizar. Penso exactamente o contrário. Sou muito influenciado pelo Zeca. Tenho quase uma dívida pessoal para com ele, pois as músicas dele ajudam-me. O Falâncio é claramente uma homenagem ao Zeca Afonso. A filosofia dos Homens da Luta, a nossa bitola, é precisamente ‘o que faz falta é animar a malta'. Mas há muitos amigos do Zeca Afonso que não gostam nada de nós, levam a mal, acham que estamos a gozar. Curiosamente, sou amigo pessoal da família do Zeca Afonso e ela gosta de nós. Inconscientemente estamos a levar o Zeca Afonso aos miúdos.

E o Neto é inspirado em quem?

Um pouco no José Mário Branco, um pouco no meu avô que tinha o seu toque revolucionário. Em personagens histriónicas. O Neto levanta a voz e dá uma sensação de poder muito forte. É quase um alter-ego. Ajudou-me muito a ser uma pessoa mais tranquila. O seu lado de afirmação, quase sexual, preenche-me. Quando chego a casa estou relaxado.

Nunca tiveram medo?

Talvez no 12 de Março. Foi um dia histórico, com muita gente na rua, muita gente com raiva. Estava com receio, mas fomos, pois tínhamos de ir. De repente estávamos na Avenida da Liberdade no meio de 200 mil pessoas, todos a cantar. Estivemos mais de cinco horas seguidas naquilo. A certa altura, uma velhinha veio ter comigo, abraçou-me e disse: "Ó filho, todas te querem."

Vocês que andam no meio das pessoas sentem mais revolta?

Infelizmente sinto mais resignação. Por um lado, o sentimento de revolta e mostrá-la é uma válvula de escape. Mas quando começamos a sentir que já nem vale a pena dar esse grito é quando se entra numa fase negativa e perigosa, em que começamos a carregar para dentro e chega a um ponto a coisa explode. Isso está a acontecer na Grécia, por exemplo. As pessoas já começam a perder a esperança. É como a injustiça que eu estava a falar, de ver gajos a fazerem m... e não lhes acontece nada. Isso só gera sentimentos como a inveja.

Foi pai há cerca de três meses. Como é que isso o mudou?

Mudou muito. Não mudou a forma como vejo as coisas, mas em termos de força. Sinto-me mais forte e sei que não posso vacilar. Não posso estar com ideias malucas. Mas tenho uma coisa que joga a meu favor: já fiz muita coisa nesta vida e não sinto necessidade de as fazer pois já as fiz. Já fiz muita maluqueira que não sei como vou explicar à minha filha quando ela crescer. Mas dá-me muita força e alegria. Adoro chegar a casa, pegar nela e mudar-lhe a fralda cheia.

PERFIL

Nuno Duarte, conhecido por ‘Jel', tem 37 anos. Depois de uma rubrica no ‘Cabaret da Coxa', entrou em ‘A Revolta dos Pastéis de Nata' (2005). Voltou à SIC com ‘Vai Tudo Abaixo' e os Homens da Luta que, em 2011, ganharam o Festival da Canção. É casado e tem uma filha.

CM

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