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27 de janeiro de 2013

Sara Antunes de Oliveira: "A justiça tem de repensar a forma como comunica"

Amante da escrita e de contar histórias, Sara Antunes de Oliveira sonhava com uma carreira na imprensa mas a curiosidade pela "caixinha mágica" levou-a até à SIC. À Notícias TV, a jornalista revela as conquistas, os obstáculos e os sonhos.

É um dos rostos femininos da informação da SIC. Como e quando descobre a vontade de ser jornalista?

Descobri cedo. O meu pai foi jornalista numa rádio local em Matosinhos, de onde eu sou, e como a rádio não tinha dinheiro para pagar o telex da Lusa, eu acordava de manhã a ouvir as notícias. Ele ouvia todas as manhãs a TSF. A minha exposição à atualidade dá-se muito cedo. Sempre gostei de saber o que se passava e de contar o que ouvia.

Ingressa no curso de Jornalismo com total apoio do pai e restante família...

Ele tinha orgulho que partilhássemos os mesmos interesses e pudéssemos viver as notícias da mesma maneira. Os jornalistas têm sempre esta coisa de ser quase dependentes de informação e das notícias, e é bom partilhar isso com ele.

Desejava desde estudante enveredar por uma carreira em televisão?

Não. Completei o curso em Braga e no quinto ano tive de escolher um local para estagiar. O meu desejo era trabalhar em imprensa. Nunca pensei em televisão. Cheguei a trabalhar num jornal regional, o Barcelos Popular... Até aí, já tinha experimentado trabalhar em imprensa, já conhecia a rádio e, por isso, decidi apostar em televisão porque era algo que não conhecia. A universidade tinha protocolo com a SIC. Quando vim para cá nunca achei que ia ficar. Eu gostava muito de escrever...

Mas a vida trocou-lhe as voltas e acabou por ficar na SIC.

Mais ou menos [risos]. Quando terminei o estágio, o Ricardo Costa, que na altura era diretor da SIC Notícias, disse-me: "Gostamos muito do teu trabalho, mas não podes ficar." Fiquei desolada. Voltei para Matosinhos e enviei dezenas de currículos. Estava numa fase de despero quando recebi um telefonema do Porto. A SIC ia ter um programa da manhã, o Companhia das Manhãs, que foi apresentado pelo Pedro Mourinho e pela Vanessa Oliveira, e era preciso uma equipa de jornalistas no Porto. Comecei a trabalhar em janeiro de 2006.

Tem memória do seu primeiro direto?

Sim, fi-lo a partir da Estação de Campanhã para mostrar o despertar do Porto. Foi integrado no programa da manhã. Foi horrível [risos].

Porquê?

Estava nervosa, muito nervosa! Tremia-me o corpo todo mas à frente da câmara não mexia um músculo. Se me tocassem, caía! Nunca tinha feito aquilo na vida. Mas costumo dizer que fiz tantos diretos - tinha de fazer seis numa hora - que me vi obrigada a aprender [risos]. Mas tive muita sorte por ter começar na redação do Porto.

Foi diferenciador na sua formação enquanto jornalista?

Sim, no Porto toda a gente brinca e ensina e isso faz que seja o sítio ideal para aprender, e era do que eu precisava. O programa da manhã esteve no ar três meses, mas depois fui contratada para ficar na redação do Porto até janeiro de 2009.

Atualmente como lida com o direto?

Lido bem. Só não o faço em duas situações: uma, quando o Rodrigo Guedes de Carvalho apresenta o Jornal da Noite [risos]. Gosto muito dele e tenho sempre medo de o dececionar.

E a outra?

Quando estou prestes a entrar em direto e percebo que não estou concentrada. Se perceber isso fico imediatamente nervosa e isso é bom.

Está a contradizer-se...

Eu explico: é bom porque os nervos acabam por me concentrar. Os nervos dão-me medo de fazer figura de parva e esse medo faz-me estar concentrada. Agora já não sofro com os nervos.

Chega à redação da SIC, em Lisboa, em 2009 e desde então tem estado em várias "frentes". Fez a cobertura, entre outras, de incêndios na ilha da Madeira, foi a jornalista que acompanhou desde o início o caso do assassínio do cronista social Carlos Castro...

As redações precisam de repórteres polivalentes. Na SIC tenta-se que os repórteres façam preferencialmente uma área onde são melhores mas, depois, todos os jornalistas também fazem outras coisas. Aqui, também faço Economia e Política. Quando vim para Lisboa, o Alcides Vieira, diretor de Informação da SIC, propôs-me que me especializasse na área de Justiça. Eu que não percebia nada, aceitei o desafio de aprender. A Justiça é uma área complexa. Para mim é um desafio tentar traduzir os termos e histórias de maneira a que a minha avó, se ainda fosse viva, percebesse.

Que balanço faz da cobertura jornalística que fez durante os incêndios que afetaram a Madeira? Foi um desafio profissional duro?

Eu já tinha feito a cobertura televisiva de incêndios no Porto, durante as emissões do Campanhia das Manhãs. A Madeira foi o segundo cenário de grande incêndio onde estive. Lembro-me de que no primeiro dia em que chegámos à Madeira fizemos um direto do Rochão, na zona norte da Camacha, e lembro-me de que tive muita dificuldade em controlar as emoções. Antes de ali chegarmos tínhamos fugido de um outro local afetado pelas chamas e, nesse sítio, houve pessoas que ficaram para trás e eu não conseguia tirá-las da minha cabeça. Foi importante ter comigo o repórter de imagem Rui do Ó porque ele ajudou-me a posicionar e a estar no terreno.

Qual a sua opinião: um jornalista deve ou não prestar ajuda a alguém em perigo?

Perante uma situação de perigo, qualquer jornalista vai parar para ajudar. Não era o caso, ali. A única coisa que poderia ter feito era arrancar e levar pessoas ao colo. Estavam preocupadas, sim, em salvar as suas casas. Para tudo, o bom senso é o condimento essencial no jornalismo. Eu não teria a menor dúvida em ajudar se fizesse sentido.

As televisões assaltam em excesso a vida privada de quem perde tudo num incêndio?

É difícil quando se está lá... fazer uma avaliação a preto e branco. Mas posso dizer que, quando estava na Madeira, quis fazer um falso direto porque sabia que se o fizesse os bombeiros iam aparecer. Podemos estar a mostrar o desespero de uma pessoa que está com uma mangueira a salvar uma casa, mas eu sei que ao expor isso é porque as pessoas precisam de muita ajuda.

Mas faz boa crítica ao trabalho desenvolvido pelas nossas estações de televisão?

Quanto aos outros, não faço críticas. Os canais têm ótimos profissionais, em todo o lado há maus jornalistas como há maus médicos ou advogados. Na SIC temos o cuidado de respeitar as pessoas e de nos proteger.

Acha que a cobertura televisiva dos incêndios e que acontece nos noticiários é um incentivo aos pirómanos?

Esse é um assunto que deve ser debatido. Nós temos de informar e as pessoas têm o direito de ser informadas.

Em janeiro de 2011 é enviada para Nova Iorque, EUA, para seguir o caso da morte do jornalista e cronista Carlos Castro. Foi, até à data, a maior "prova de fogo" por que passou na sua carreira?

Não. Acho que foi uma boa oportunidade. A SIC tem-me dado boas oportunidades. O caso do homicídio de Carlos Castro foi só mais uma. Acho que a Madeira foi mais uma prova de fogo, como a campanha eleitoral do Bloco de Esquerda, que também fiz.

O que foi mais desafiante e difícil durante o tempo em que seguiu o caso?

Tive de aprender muito rapidamente como era o sistema jurídico norte-americano. E no início não tinha fontes em Nova Iorque e, por isso, foi complicado apesar de a polícia ter sido excecional. O sistema está muito atento à comunicação social. A informação é dada de forma rigorosa e oficial. É dado o resumo da confissão, o resultado da autópsia, tudo isso é dado e não temos de andar a dar volta ao sistema.

É um modelo que deveria ser implementado cá, em Portugal?

Completamente. Nós ouvimos muitas críticas ao segredo de justiça... Lá, nos EUA, tive colegas norte-americanos a quem expliquei o conceito de segredo de justiça e eles perguntaram-me: "Por que razão a justiça tem de ser secreta?" Eles não entendiam isso. Não sou contra o segredo de justiça, mas se a informação essencial fosse entregue aos jornalistas de forma rigorosa e oficial, provadamente não teríamos mentiras e enganos nos jornais.

É contra o segredo de justiça?

Não. Acho é que a justiça tem de repensar a forma como comunica. A justiça fechou-se sobre si própria. Já falei com juízes e magistrados em off sobre este assunto e todos eles são da mesma opinião... só que a lei não permite a um juiz falar com um jornalista. É até malvisto que o faça porque parece que quer protagonismo, tudo isso tem de se repensado.

Se tivesse oportunidade de entrevistar o manequim português Renato Seabra, que está já a cumprir pena, o que lhe perguntaria?

Não teria grande coisa para lhe perguntar sobre o que aconteceu porque isso está tudo registado na polícia e em relatórios médicos. Perguntar-lhe-ia, sim, o que é que ele deseja, o que é que ele vê à sua frente. Ainda vão decorrer recursos, há a perspetiva de sair da cadeia depois dos 40 anos...

É possível que uma estação de televisão portuguesa consiga, num futuro próximo, obter uma entrevista com Renato Seabra?

Acho altamente improvável que isso aconteça nos primeiros anos. A acontecer, só quando ele estiver estabilizado no sistema prisional. Eu tentei fazer uma reportagem na prisão de Rikers Island e o diretor disse-me: "Você é mulher, quer provocar-me aqui um motim? Vir até cá uma estação de televisão é mau e ter aqui uma mulher, deita uma prisão abaixo!"

Por que razão acha que em Portugal é ainda difícil fazer reportagens no interior de um estabelecimento prisional ou entrevistar reclusos?

As instituições fecharam-se, têm medo dos jornalistas.

Tem 30 anos. Deseja, um dia, trabalhar como pivô?

Gostava de fazer pivotagem. É uma palavra feia, mas nós transformámo-la em verbo [risos]. Eu gosto de fazer reportagem, de ir para a rua. Não me vejo a trabalhar no entretenimento, sou muito cinzenta.

O que é preciso para se ser um jornalista de êxito e com carreira?

É preciso trabalhar muito para aprender e, claro, é preciso gostar de contar histórias.

NTV

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