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14 de setembro de 2013

Ator Mateus Solano: Há algum vilão pior do que o meu? Os vilões das telenovelas


Eles são os maus da fita, aqueles cujas atitudes são repreensíveis. Porém, são também os mais populares, os que os espectadores não conseguem odiar. Atores e autores explicam porque é que a maldade na ficção se traduz em sucesso na vida real.
O que seria da doçura sem a amargura? Da escuridão sem a claridade? Do quente sem o frio? Ou até do amor sem o ódio? Se na vida real estas sensações andam de mãos dadas, na ficção a sua ligação é ainda mais acentuada. E é por isso que um herói não sobrevive sem um vilão, chegando este a ser muitas vezes o mais popular da trama. Carminha, a má da fita de Avenida Brasil, foi adorada pelo público. Também o Félix de Amor à Vida, a novela que começa a dar os primeiros passos na SIC, e com grande sucesso, não consegue deixar ninguém indiferente.
O que explica, afinal, esta súbita popularidade dos maus da fita que deveriam ser odiados pelos espectadores? "O autor da novela já escreveu o Félix para ser um sucesso. Não só pelo ineditismo, um vilão gay, mas também por ele ter muito humor, muitas frases e expressões que repete. Estava preparado para ser odiado pelo público. Para encarar tanto o ódio como o aplauso, mas o lado cómico do Félix ajuda a amenizar isso", explica à Notícias TV Mateus Solano, ator brasileiro que interpreta o vilão de 'Amor à Vida'. Também Adriana Esteves, que foi aplaudida pela crítica graças à sua Carminha de Avenida Brasil, defende que foi o bom humor da sua vilã que impulsionou a popularidade. "Ela tem humor, tem boas tiradas, é esperta e está sempre atenta a tudo. Acho que o humor está ligado a uma coisa que é trágica. As maldades da Carminha estavam relacionadas com a sobrevivência dela", argumenta.
O autor Rui Vilhena, que escreveu várias novelas para a TVI e que agora trabalha para a TV Globo, não tem dúvidas de que "uma novela é sempre tão boa quanto o seu vilão" e atira: "Novelas que têm grandes mistérios e uma vilã muito forte já têm 70% do caminho andado para fazer sucesso." O também argumentista António Barreira salienta que "um vilão pode ser um herói" e frisa que "são eles os grandes motores das histórias".
"O Vilão está a ser cada vez mais humanizado"
Se nos primórdios da ficção o vilão era quase uma encarnação do mal, que agia por instinto e era despido de qualquer tipo de sentimento, a tendência agora passa por mostrar que até o mau da fita tem as suas justificações. "Uma das coisas que está a acontecer tanto na ficção nacional como na internacional é que o vilão está a ser cada vez mais humanizado. Antigamente, ele tinha uma espécie de máscara que não nos deixava ver para lá daquele manto de maldade que o caracterizava, e cada vez mais temos personagens que são complexas do ponto de vista humano", diz Pedro Lopes, que escreveu a popular vilã Diana da novela Laços de Sangue.
Uma coisa acaba por levar à outra. O facto de os maus da fita terem um lado humano cada vez mais acentuado faz que o público sinta uma maior simpatia por eles. Mas há um outro motivo: "Acho que, de alguma maneira, o espectador pode exorcizar o seu lado mais negativo através destas personagens e aí sentir simpatia pelos vilões. Por outro lado, existem aqueles vilões com histórias de vida muito marcantes, com muitas mágoas e marcas, e as pessoas acabam por ser mais compreensíveis", destaca o autor António Barreira.
A identificação com as personagens é outro dos segredos do sucesso de um vilão, como acontece em Amor à Vida. "A inspiração para o Félix está aí, ao nosso lado, em qualquer lugar. Brincar por ser gay é uma coisa a que todo o mundo já brincou. Não tive de ir muito longe para achar os trejeitos da personagem. Há muitos Félix aqui no Brasil. Não só no Brasil, no mundo. E na Internet é onde vemos mais o Félix que há em cada um. Toda a gente tem um Félix dentro de si. O que seria o Félix dentro de nós? É uma parte nossa, cruel, da qual evitamos falar para não perdermos amigos, namorada. O Félix vai lá e diz o que às vezes fica preso na nossa garganta", constata o ator brasileiro Mateus Solano.
Ainda que Carminha e Félix sejam fenómenos de popularidade que se estenderam à Internet e às redes sociais, a verdade é que antes deles existiram muitos outros vilões, cujas maldades deixaram marcas na história da teledramaturgia. É o caso de Marta interpretada por Lília Cabral, e que podemos ver na novelaPáginas da Vida (SIC), que em vez de suscitar simpatia e compaixão semeou ódio junto do público. "Dizer todos aqueles textos bárbaros, horríveis, pesados, foi um grande desafio. As cenas eram muito difíceis. A filha morreu e ela não chorava. Era uma mulher amarga em todos os sentidos. Era vazia. E como é que mostramos isso? Foi um trabalho pesado. As pessoas odiavam-me", lembra Lília Cabral.
A vilã Flora (Patrícia Pillar) da novela A Favorita, também escrita por João Emanuel Carneiro, o mesmo autor de Avenida Brasil, chegou a ser considerada "a psicopata mais perigosa da dramaturgia brasileira". Dar vida a uma vilã foi um momento marcante na carreira da atriz Renata Sorrah, que interpretou Nazaré emSenhora do Destino. "É incrível eu ter feito uma vilã e de repente ter toda a gente a dizer-me que eu era uma especialista em vilãs. Os vilões são as personagens que mais chamam a atenção", aponta.
Um vilão deixa marcas na vida pessoal e profissional
Também na ficção portuguesa já existiram vários maus da fita que não passaram despercebidos. Foi o caso de Luiza Albuquerque, a grande vilã de Ninguém como Tu, que marcou a vida da atriz Alexandra Lencastre. "Nós somos vampiros dos outros porque vivemos da observação e criamos a partir do que vemos, mas também a partir das nossas memórias afetivas, do que somos, do que vivemos, do que experimentamos. Somos vampiros de nós próprios e isso pode ser perigoso. Podemos derrapar", alerta a atriz à NTV.
Sofia Ribeiro, que vestiu a pele da maquiavélica Francisca na novela Doce Tentação, sublinha que "não é em vão que os atores ficam mais sensíveis e mais frágeis" depois de fazerem personagens problemáticas. "Há uma linha muito ténue a separar a ficção da realidade e acredito que, por mais ferramentas que tenhamos, de experiência de vida e profissão, estamos sempre no limbo. É difícil passar 12 a 15 horas por dia, durante nove meses, a viver uma vida negra, feia, de energia negra, e depois chegar a casa e ser tudo cor-de-rosa. Não somos bonecos, não temos um interruptor", desabafa.
Quando deu vida a Luiza Albuquerque, Alexandra Lencastre confessa que deixou "de ter alguns receios" e experimentou "outras áreas da personalidade que desconhecia", mas frisa: "São personagens perigosas na medida em que caminhamos por zonas mais obscuras do nosso próprio ser."
A carreira de Joana Santos acabou por ser impulsionada graças à sua Diana da novela Laços de Sangue. A atriz, que hoje interpreta Júlia em Dancin" Days, garante que sempre foi bem tratada na rua e que dificilmente confunde as personagens com os atores. "Estamos no século XXI... É óbvio que às vezes pode confundir-se, as pessoas mais idosas, mas não posso dizer que houve alguém que me tivesse faltado ao respeito, não houve. Às vezes diziam-me que odiavam a personagem e que desligavam a televisão sempre que eu aparecia. Mas ao mesmo tempo gostavam de ver porque a história era cativante. Há crianças de 4 anos que vêm ter comigo ainda hoje e dizem que adoravam a Diana", salienta.
Também Fernando Luís, que interpretou o maléfico Sertório na novela Sentimentos, salienta que o público já consegue distinguir a ficção da realidade e afirma nunca ter tido "experiências negativas". Até pelo contrário. "Foi um dos papéis que mais me deu gozo fazer", diz. Experiência diferente teve Lídia Franco, que chegou a ser alvo de ameaças no Brasil quando participou na novela Xica da Silva, onde deu vida a Guiomar Pereira. "Houve pessoas que descobriram em que hotel é que eu estava e vieram ter comigo para dizer que eu tinha de ter cuidado com a maneira como tratava dos "meus" escravos e as "minhas" filhas na novela, que se eu não mudasse a minha atitude davam-me uma "carga de porrada". E falavam a sério. Eu dizia que a personagem não era eu e cheguei a ouvir coisas como "isso não interessa nada", conta a atriz.
Há vilões para todos os gostos...
Construir um vilão tem que se lhe diga. Não basta pegar num papel e numa caneta e escrever o perfil de uma personagem má. O autor Pedro Lopes explica que a Diana de Laços de Sangue não nasceu de forma isolada. "Podemos começar por ter uma história, um incidente, e partir daí começarmos a escrever as personagens que vão povoar a nossa história, mas também podemos ter o processo contrário, surgir uma personagem complexa e muito rica e, a partir daí, começarmos a escrever a história. Em Laços de Sangueoptei pela segunda via", sublinha. Já António Barreira considera que quando constrói um vilão tem sempre de "encontrar as justificações certas para as atitudes consideradas erradas pela sociedade". "Nós vivemos em sociedade, existem regras e qualquer pessoa que fuja ao padrão tem de ter um motivo", destaca o autor.
E não existe apenas um tipo de vilão. Félix de 'Amor à Vida', por exemplo, encaixa-se no vilão cómico que habitualmente grangeia a simpatia do público. Mas há mais géneros: "O sarcástico, o psicopata, o ambicioso, o vingativo, o desequilibrado, o calculista", enumera Barreira.
Outra tendência seguida por alguns autores é fazer novelas sem um vilão demarcado, como é o caso de Dancin" Days e Meu Amor. "Pode não existir propriamente um vilão. Existem duas personagens em oposição - Júlia e Inês - que é uma outra vertente. E a Raquel que ao início parecia uma vilã deixa de o ser ao longo da trama", exemplifica. António Barreira adotou a mesma estratégia em Meu Amor. "A personagem da Alexandra Lencastre era considerada uma vilã, mas até era cheia de fragilidades, como o alcoolismo. Já a Margarida Marinho, que era vista como a heroína, não tinha pudor em envolver-se com um homem casado. O ser humano não é linear. Os heróis não têm de ser brancos e os vilões pretos", argumenta.
Os humanos admiram a maldade
E, com tanto sucesso entre o público, será que há algum limite para o que uma personagem sem escrúpulos pode ou não fazer? Afinal, e apesar de se tratar de ficção, parece que nem tudo é permitido. "Achava graça se fosse, mas na verdade são estabelecidos limites. Na altura em que fiz o Sertório achei que a minha personagem poderia ter ido mais longe", frisou o ator à Notícias TV. Uma barreira para a qual Lídia Franco encontra justificação: "Uma novela é um produto visto por todas as gerações e é preciso justificar muito bem a maldade das personagens", acrescenta.
António Barreira é de opinião contrária e garante que numa novela não há limites para a maldade, tal como não existe para a bondade. "Repare, se virmos alguém a fazer uma maldade dizemos de imediato "que grande sacana". Mas se alguém fizer o bem dizemos logo "que totó". Damos, à partida, um lado pejorativo à bondade. Os seres humanos admiram a maldade e isto é fruto dos tempos que correm, da sociedade cada vez mais individualista, de as pessoas estarem cada vez menos preocupadas com os outros", refere o argumentista.
Já Alexandra Lencastre refere que tudo depende do objetivo e do tipo de público que se quer atingir. "A televisão é uma arte? Não, é uma indústria. Mas as pessoas que trabalham em televisão são artistas. Os atores, os realizadores, os técnicos, os autores. Todos trabalhamos de uma forma técnica e industrial, mas há sempre a componente artística que não deve ser negligenciada nem esquecida", considera a atual jurada de Dança com as Estrelas. E completa: "A noção de abismo, de loucura, a surpresa permanente, o não haver limites devora a imaginação dos espectadores. Depois, as pessoas fazem coisas atrozes. É esta a realidade. Os humanos são desumanos e é importante não haver hipocrisia. Em ficção televisiva é preciso mostrar tudo. É esse o lado pedagógico do ecrã", diz.

























































































































































































































































Notícias TV

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