Luís Marques: "O Estado devia adiar a privatização e congelar uma licença da RTP" - Site SIC GOLD ONLINE – SIC Sempre GOLD

4 de novembro de 2011

Luís Marques: "O Estado devia adiar a privatização e congelar uma licença da RTP"

O director-geral da SIC acredita que a eventual privatização da RTP vai colocar em risco todo o sector dos media e admite que a SIC pode ter de repensar o seu modelo de negócio. Luís Marques reconhece que o plano do Governo tem boas intenções, mas não tem em atenção a realidade difícil em que vive o mercado.

O futuro da SIC pode estar em risco?

Bem, acho que o sector dos media está neste momento todo em risco. Ou seja, a sua sobrevivência está em risco. Estamos a viver uma forte queda do investimento publicitário e num cenário que se vai complicar muito com a eventual privatização da RTP.

Vários agentes do mercado têm dito que a privatização da RTP vai levar à morte de um dos operadores existentes no mercado.

É evidente que se a privatização da RTP avançar, se o investimento publicitário continuar a cair, o actual modelo de negócio estará ameaçado. É um facto, é indesmentível.

Tal como o conhecemos oficialmente, este plano do Governo é pior do que o que os privados estavam à espera e que já tinha sido tão contestado.

Sim, é verdade. O que se esperava, e já era mau, era que o mercado, este mercado em crise, tivesse de se ajustar a três operadores privados com 36 minutos de publicidade por hora, ou seja 12 para cada um. Ora, o que se sabe é que serão afinal 42, porque o canal que ficar na esfera do Estado, aparentemente, e perante aquilo que foi dito, manterá os mesmos 6 minutos. Isto é dramático. De repente, a oferta de espaço publicitário aumenta 40%, o que significa que o investimento publicitário vai ser repartido por mais operadores e os preços vão baixar.

"Privatizar não é fácil."

Qual era a solução então?

(pausa) A ideia de que é fácil privatizar um canal não tem correspondência com a realidade. Não é por acaso que nos últimos dez anos não têm surgido novos operadores generalistas. Nem nos Estados Unidos nem em Inglaterra nem em França. É muito difícil um operador novo entrar no negócio e conseguir uma quota de mercado que lhe permita rentabilizar o negócio.

O caso de Espanha é um bom exemplo...

Precisamente. A La Sexta está numa situação dramática que quase ia levando à falência a Media Pro, e a Cuatro fundiu-se com a Telecinco. Isso significa que não é fácil entrar neste mercado. E por isso que a ideia de que vai ser fácil vender uma licença da RTP é errada. A prática vai mostrar que não será assim. A não ser que o negócio não seja para quem quer investir e rentabilizar o investimento, que é a lógica do mercado, e seja outra razão, de natureza política.

PT e Zon já vieram dizer que não estão interessadas...

... Lá está, isso confirma aquilo que estou a dizer. A PT, a Zon e a Vodafone disseram que não há mercado. São três grupos possantes que se esperava estarem interessadas no negócio. Então, se não há mercado, não há negócio. E se não há negócio, isso confirma o quê? Que haverá outros interesses que não de mercado.

Ongoing?

Não sei. Pode haver aqui interesses políticos, interesses de influências, interesses de poder. A televisão é um instrumento de influências muito grande e pode ter associados interesses muito diversificados.

Se fosse o negócio para a Ongoing, podia ajudar a descalçar uma bota difícil de descalçar que é esta relação entre Nuno Vasconcellos e a Impresa...

(pausa) Veremos se será assim ou não. É evidente que... (pausa) pelo que já aconteceu no passado, isso implica a resolução do problema da participação na Impresa. Não estou por dentro das reais intenções da Ongoing. O que sei é que a conflitualidade existente entre a Ongoing e o grupo Impresa não é útil para ninguém.

"O País precisa do serviço público?"

Mas o plano do Governo não tem virtudes?

Este plano tem boas intenções. Há um objectivo correcto, que é reestruturar baixando custos. Ou seja, colocar a RTP a viver do que resulta das receitas da Contribuição Audiovisual, que para 2013 estão estimadas em 150 milhões de euros. O que me parece é que o processo está a ser conduzido colocando um bocadinho o carro à frente dos bois.

Percebe o que é que o grupo liderado por João Duque está a fazer neste momento?

Pois, essa é a questão. As coisa estão invertidas. Primeiro, devia haver o trabalho da equipa do professor João Duque e, depois, avançava-se para a reestruturação. Até porque das conclusões do grupo de trabalho pode haver muitas surpresas.

Como assim?

O País precisa do serviço público? Deste serviço público? É uma pergunta que se deve fazer. Porque em 2002 a situação do País era uma, a realidade dos media também era outra. Mudou muita coisa. Por isso, é legítimo perguntar: vale a pena ter serviço público? Que tipo de serviço público deve ser ajustado àquilo que é hoje a oferta de canais ao grande público? Desse serviço público que restar, o que é financeiramente sustentável para os contribuintes portugueses, tendo em conta a sobrecarga que hoje estão a ter por causa da crise?

O Luís conhece bem a RTP, foi seu director-geral durante seis anos. Que ideia tem do serviço público que a RTP cumpre?

Há um conjunto de obrigações de serviço público que estão contempladas na lei, designadamente o apoio a minorias e a determinadas franjas específicas da população, que faz sentido que alguém as possa fornecer. O Estado tem toda a legitimidade para intervir e dizer que, não havendo privados que tenham esse tipo de oferta, deve ser a estação pública a produzi-la. Ou então o Estado subsidia os privados para o fazerem.

É um modelo possível, e provavelmente sai-lhe mais barato do que financiar um canal de televisão...

Sim, ficaria muito mais barato. Mas eu acredito que nesta fase continuará a existir espaço para um canal de serviço público, mas que possa cumprir algumas destas obrigações que estão contempladas na lei.

Mas isso, provavelmente, seria sempre um canal residual, para utilizar uma expressão do ministro Miguel Relvas...

Pois, essa é a questão. Mas o que o Governo quer é um canal não residual.

O Governo quer um canal que fale para as minorias, que cumpra o serviço público, que faça o que os privados não fazem, mas quer um canal que tenha audiências. É possível?

Ter um canal não residual é ter um canal com expressão. Isso significa ter um canal mais ou menos como existe hoje, à volta dos 20%. Ora, o que eu acho é que ter um canal de serviço público com aquela que é hoje a oferta da RTP1 é dificilmente compaginável.

Já o era há sete ou oito anos, quando o Luís lá estava...

Mas as coisas evoluíram. Passaram dez anos e isso hoje é mais evidente. A pressão orçamental que existia há dez anos era maior do que existe hoje. Apesar de tudo, a situação financeira da RTP hoje é muito melhor do que era. Nós encontrámos uma empresa que devia 1100 milhões de euros. Hoje, apesar de tudo, a situação está melhor e isso deve-se à administração do dr. Almerindo Marques, a que eu próprio pertenci, mas também à actual administração.

E então, como é que se resolve essa equação do serviço público?

Temos de repensar isso tudo. Mas pode haver uma situação estranha. Dentro de alguns dias vamos saber o que deve ser o serviço público de televisão e isso pode não ter nada que ver com aquilo que se está a fazer.

Também há quem diga que o que o outro grupo de trabalho decidiu há dez anos sobre serviço público foi metido na gaveta por Morais Sarmento...

Não é bem assim, mas enfim...

Não sou eu que o digo. Miguel Sousa Tavares, hoje na SIC, pertenceu a esse grupo de trabalho de há dez anos e é ele próprio quem diz que foi tudo metido na gaveta...

(risos) Isso dava para uma outra discussão.

Portanto, isto está tudo mal?

Não estará tudo mal, mas é um caminho errado. Baixar os custos da RTP é possível e a intenção é colocar a RTP a viver dos tais 150 milhões de euros da Contribuição Audiovisual. A RTP pode atingir esse montante sem ter de vender uma licença? Pode. A questão é saber o que fazer com essa licença. Se a RTP tiver um único canal, acho que seria prudente que a RTP e o Estado português mantivessem essa licença congelada até que o mercado tivesse condições para que aparecesse um novo projecto viável e consistente para a utilização da licença.

"Não se justifica o Estado ter um canal de informação."

A confirmar-se esta intenção, não teremos menos Estado na comunicação social...

Claro que não, antes pelo contrário. Acho que até haverá mais Estado. Quando se diz que querem manter a publicidade, que querem manter um canal competitivo e apostar na informação, isto não é diminuir a presença do Estado nos media. A aposta no reforço da informação significa a presença do Estado numa área tão sensível como a informação. Não me parece esse um bom caminho, ainda por cima quando temos hoje uma oferta a nível de informação tão diversificada que, mais do que nunca, aconselha a que o Estado não esteja presente nesta área.

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A RTP Informação não faz sentido?

(pausa) Como sabe, eu criei a RTPN. Foi uma tentativa de salvar uma coisa chamada NTV. A ideia era fazer um canal ligado à informação regional ligado às comunidades locais e não fazer propriamente um grande canal de informação. E foi para salvar em larga medida 30 postos de trabalho na RTP Porto. Agora, com mais dois canais de informação no cabo, justifica-se o Estado ter um canal de informação? Não, acho que não se justifica.

Provavelmente, se estivesse na RTP, continuaria a achar que fazia sentido...

(risos) Mas não estou.

Com a actual grelha da RTP 1 e RTP 2, é possível criar uma grelha coerente para o novo canal?

É um desafio interessante (risos). Acho que é possível fazer um canal de serviço público com os conteúdos da 1 e da 2, não tenho dúvida. Mas fica estranho (risos). Não é fácil.

É fácil conciliar o Jorge Gabriel de manhã com a Fernanda Freitas à tarde? É fácil conciliar o Fernando Mendes ao fim da tarde com a Paula Moura Pinheiro à noite?

(pausa) É evidente que não é. Podemos dizer que, com algum malabarismo, com alguma criatividade, talvez se consiga dar alguma coerência a isso, mas que fica estranho, fica.

"Se a RTP quer bons apresentadores, tem de pagar o preço de mercado."

Tem-se falado muito nos chamados ordenados milionários das estrelas da RTP. Ora, o Luís foi director-geral da RTP durante seis anos e, portanto, a renovação de muitos desses contratos passou por si. Qual a sua opinião?

(risos) Vamos lá ver... esse é um tema delicado.

Eu sei...

(pausa) É evidente que é fácil dizer que os ordenados dos principais apresentadores da RTP são altos. É um argumento fácil, mas é um bocadinho demagógico. Porque este mercado, como todos os mercados, funciona na base da oferta e da procura. Se as televisões querem ter bons comunicadores e bons apresentadores, têm de lhes pagar os preços de mercado.

A questão não é essa. Ninguém questiona que a SIC ou a TVI paguem isso às suas estrelas.

Em 2002 e 2003, quando eu próprio contratei a Catarina Furtado, que estava na SIC na altura, o valor que lhe oferecemos era o valor próprio do mercado, era sensivelmente o que ela ganhava aqui. Há um mercado que define o preço destes profissionais e é esse o mercado que acaba por decidir.

A RTP tem de estar nesse mercado?

(pausa) Lá está. A resposta a essa pergunta tem de resultar daquilo que se definir ser o serviço público. Se o serviço público deixar de ser um canal que tenha grandes formatos de entretenimento, concursos, talent shows ou games shows então, provavelmente, esse canal não precisa de ter esses profissionais como a Catarina, o Malato, o Fernando Mendes, etc., etc. Agora, se os quer ter, e os quer ter com algum tipo de qualidade, tem de ter esses profissionais.

Mas quando se fala de um canal não residual pressupõe que os quer continuar a ter...

Pois, tem de ter bons apresentadores. E tem de pagar por isso, embora isso depois resulte da capacidade negocial da RTP.

A intenção do Governo é nivelar os ordenados dos gestores das empresas públicas pelo do Presidente da República. O que fará os ordenados dos quadros das empresas públicas estabilizarem abaixo desse valor de referência. Isso não fará que muitos profissionais da RTP sejam pagos muito abaixo do valor do mercado?

Se isso for assim, se se confirmar essa intenção, sim, é verdade. Mas isso depende também da capacidade negocial da RTP com os seus profissionais. E até, admitamos, que haja profissionais que não aceitem essa negociação.

Acha? Com o País no estado em que está, com a crise nas empresas, não me parece que a SIC e a TVI tenham capacidade ou vontade de aproveitar a época de saldos na RTP.

Sim, os tempos que aí vêm serão muito difíceis. Vão ser anos de forte pressão para baixar cachets e valores de produção na televisão.

Essa será uma preocupação também na SIC?

Claro, mas acho que vai ser em todo o lado. Há uma enorme quebra de receitas. O mercado este ano deverá cair cerca de 15%. É evidente que temos de cortar custos e, quando se cortam custos, tem de se cortar todos.

Mas nestes casos mais badalados, estamos a falar não de quadros das empresas, mas de estrelas contratadas, ou pelas produtoras ou pelas próprias estações, para determinados projectos...

Sim, mas esses também vão ter de baixar. Mas nos quadros é mais difícil, claro. Nós na SIC, no início deste ano, reduzimos o ordenado de todos os quadros em 10%. E todos aceitaram, salvo uma ou duas excepções.

"Não está prevista mais austeridade na SIC."

E perante o novo quadro de austeridade que foi anunciado, é possível que tenham de ser tomadas novas medidas?

(pausa) Em tese pode acontecer. Estamos a tentar que isso não seja necessário, mas em tese pode acontecer.

Não está em cima da mesa?

Na SIC não.

E um novo plano de rescisões amigáveis?

Não. Nós concluímos recentemente um processo de ajustamento em que saíram cerca de 20 pessoas por rescisão por mútuo acordo. Neste momento temos uma situação estável e não prevejo um novo processo dessa natureza. Já temos o orçamento para 2012 pronto e não temos qualquer verba que resulte de nova redução de quadros. Agora, é evidente que, se as piores previsões se confirmarem em relação às decisões políticas para a RTP, todos os operadores vão ter de repensar o seu modelo de negócios.

Portanto, nem despedimentos nem redução de ordenados nem supressão de subsídios de férias e de Natal?

Nada disso está previsto.

A SIC continua a ser uma empresa onde vale a pena trabalhar?

Acho que sim, é uma empresa onde dá gosto trabalhar, que tem um ADN único. Passou por muitas dificuldades, sobretudo nos últimos anos, mas acho que estamos melhor, até do ponto de vista da nossa auto-estima. Nos últimos três anos temos vindo sustentadamente a ganhar dinheiro e a apresentar resultados em linha do que nos foi pedido pelos accionistas...

... mas é mais dinheiro que não permite investir mais na programação, porque tem de fazer face à quebra do investimento publicitário.

Nós temos estado a obter bons resultados, apesar dessa quebra. Ainda na semana passada apresentámos as contas do grupo e os resultados da SIC no trimestre são bons. São mesmo bastante bons. Aumentámos o nosso resultado operacional cerca de 400% em relação ao ano passado. Mas, para que isso acontecesse, tivemos de cortar os custos num valor superior à queda das receitas. E vamos continuar.

E isso significa que não há muita margem para investir?

Sim, é óbvio, sobretudo porque as expectativas do investimento publicitário para o próximo ano também não são agradáveis. O foco, infelizmente, está muito centrado no controlo dos custos.

"SIC tem sido a menos penalizada."

É possível conciliar a prioridade no controlo dos custos e mesmo assim almejar a liderança das audiências?

(pausa) É difícil, como é evidente, não vale a pena negar. Toda a gente sabe que fazer televisão é caro. Os programas são caros, os direitos são caros, a produção é cara. Obviamente, nestas circunstâncias, é mais difícil obter a liderança. Mas para nós é muito reconfortante que nos últimos anos nos tenhamos aproximado do nosso concorrente directo.

Mas, sejamos francos, é mais por descida da TVI do que por subida da SIC.

A realidade hoje é muito mais complexa e o que é certo é que a SIC, mesmo com o cenário da nova medição de audiências, tem sido a menos penalizada. Em Julho, por exemplo, ficámos muito perto da TVI e no prime time ficámos mesmo à frente.

À custa de um forte investimento na ficção, que obrigou a SIC a contratar em exclusividade uma série de actores que estavam a trabalhar com a TVI.

Claro, mas isso é também o mérito da forma como temos vindo a trabalhar. No passado, a SIC não tinha uma estratégia consistente na ficção. Fazia agora uma novela, depois parava, depois voltava a fazer. Desde que entrei temos, de uma forma consistente e sempre a melhorar, feito uma aposta na ficção nacional e ainda por cima diferenciadora da da nossa concorrência. Criámos condições para ter a oferta em linha de, pelo menos, uma novela portuguesa.

Quanto é que custa à SIC o contrato com a Globo?

(pausa) Não gostaria de estar a dizer números, até porque isso está nos termos da nossa relação contratual com a Globo. O que posso dizer é que nos últimos dois anos conseguimos com uma extraordinária colaboração com a Globo, que muito nos apraz registar e que quase nos comove, reduzir bastante o nível de compromisso que tínhamos com eles.

O negócio continua a compensar?

Sim, claro. A relação preço/retorno continua a compensar.

Até porque o preço em grelha é muito mais baixo que o de uma novela portuguesa...

Sim, em alguns casos até metade do que gastaríamos se tivéssemos lá um outro produto.

Mas, neste contexto de dificuldades, é difícil à SIC conseguir criar habituação em relação às novelas portuguesas. Só com uma novela portuguesa em horário nobre é difícil.

Sim, é, não vou negar (risos). O ideal era termos duas novelas portuguesas à hora do jantar, mas não vamos poder fazer. Por razões orçamentais, claro. Mas já agora, os resultados de Laços de Sangue a competir com três novelas foram extraordinários. Significa que há espaço para criar uma nova ficção alternativa, com uma nova estética, com uma nova forma de escrita.

"A Globo é importante para a SIC."

O que a SIC tem a lucrar com a Globo é o que tem em cima da mesa ou é possível esperar mais? A Globo já disse que não está disponível para reforçar a sua participação na SIC, o que resolveria um problema de liquidez. Tem pena?

(pausa) Bom, esse é um problema que está ao nível dos accionistas. O dr. Balsemão já disse que não houve conversas nem negociações. Para a SIC será importante um maior envolvimento da Globo na nossa produção. Iremos iniciar a negociação em breve para a extensão dessa parceria. Há vontade de ambas as partes para trabalharmos numa nova parceria. Não tenho dúvidas de que para a SIC isso será muito útil, mas também para a Globo, tendo em conta que eles têm uma estratégia de internacionalização que passa por Portugal.

Através da tal produtora a criar entre a SIC e a Globo, com recurso à SP?

Sim, uma das hipóteses em cima da mesa é essa. Há cerca de um ano eu e o dr. Pedro Norton tivemos uma reunião em São Paulo para começar a trabalhar no projecto de uma produtora SIC Globo em Portugal. Esse projecto tem vindo a ser trabalhado, é lento e implica várias variáveis e em breve teremos uma decisão. É possível e desejável.

"Teresa Guilherme errou nas previsões."

Muito bem, mudemos de assunto. Faço-lhe uma provocação (risos)...

(risos) Diga...

O sucesso de Casa dos Segredos e de Teresa Guilherme é uma espinha cravada na sua garganta?

(pausa) Não, de todo. Não tenho nenhum problema a esse nível com a Teresa Guilherme. Porque é que havia de ter? Era previsível que Casa dos Segredos corresse bem, era para mim claro que isso ia acontecer. A nível de casting houve uma grande preocupação com esta edição.

Mas o fenómeno Teresa não é importante para este resultado?

Não tenho dúvidas sobre isso.

Teresa Guilherme não cabia na SIC?

Aquilo que eu tinha a dizer sobre a Teresa Guilherme e sobre as relações que ela teve com a SIC, está dito. Não retiro, mas também não acrescento nada ao que já disse. Para mim é passado. E não quero voltar a falar desse assunto.

Mas não gostou seguramente de ler uma entrevista que Teresa Guilherme deu há dois anos em que dizia que Luís Marques era o coveiro da SIC.

(pausa) Não, é evidente que não gostei. Há quem diga que a Teresa Guilherme gosta de esoterismo, de tarot e desse tipo de coisas, mas, pelos vistos, desta vez falhou. Ela disse isso em 2008 ou 2009 e desde então para cá a SIC melhorou, não piorou. A SIC não está com os pés para a cova. Portanto, Teresa errou nas previsões.

Passaram seis meses desde que se estreou o Querida Júlia, mas a SIC continua com óbvias dificuldades na manhã. O que é preciso mudar para a SIC começar a morder os calcanhares à TVI?

A Júlia Pinheiro tem feito algumas mudanças no programa e os resultados estão mais ou menos em linha com o que nós esperávamos. Ela está a combater no horário mais difícil em Portugal, tendo em conta que as manhãs têm há muito uma oferta estabilizada, quer na RTP quer na TVI. Estou convencido que ela, pouco a pouco, vai ganhando públicos e audiências.

Há quem diga que a SIC só resolverá o problema das manhãs quando contratar Goucha ou Cristina Ferreira. Ou os dois. É pura má-língua?

(risos)...

... que, aliás, é um sonho antigo da SIC.

Ai é? (risos).

Parece que sim. Há não muito tempo, a SIC sondou Goucha e convidou Cristina Ferreira.

(risos) Sabe mais do que eu.

Não sei, não. Isso já foi assumido por ambas as partes.

Não lhe posso confirmar isso. Conversas não são propriamente convites (risos).

OK, portanto, acha que é possível derrotar as manhãs da TVI com Manuel Luís Goucha e Cristina Ferreira lá?

Acho. Vamos lá ver, é evidente que não é fácil, e isso é mérito deles (...). Vai demorar tempo, mas a Júlia tem a experiência, o conhecimento e o talento para, pouco a pouco, se aproximar.

É preciso repensar o day time

O modelo de day time das televisões generalistas, assente em talkshows populares e novelas, ainda faz sentido, ou chegará o tempo em que será preciso reinventar esse conceito?

É uma boa pergunta. Acho que isso vai acontecer um dia, não sei bem quando. Mas, tendo em conta o tipo de público que está disponível para ver televisão a essas horas, estes programas são os ajustados. Além disso, este tipo de programas tem um potencial de receitas difícil de igualar.

Mas a televisão generalista não está perante um desafio, uma encruzilhada, que vai ter de enfrentar, mais ano menos ano? Esta subida do cabo não é só consequência de novos critérios de medição, reflecte também novas formas de consumo e, provavelmente, o princípio de uma mudança de paradigma.

Sim, concordo com essa análise, mas há uma questão importante quando se fala do cabo. Estamos a falar de que cabo? Se eu agora decidisse competir com o cabo, ia competir com que parte do cabo? O problema é que as audiências do cabo é o somatório de muitos conteúdos diferentes.

Mas não estamos a falar do Caça e Pesca ou da Regiões TV, estamos a falar das Fox, dos AXN...

(risos) Sim, é verdade, mas lá está, se eu fosse competir com a Fox, tinha de ter ficção. Os custos com ficção em Portugal tornavam completamente inviável essa competição, porque a Fox tem um canal que, emitindo a produção original norte-americana, chega aqui muito mais barata.

"A TDT é um equívoco."

A TDT em Portugal é um flop?

Não sei se é um flop, mas um equívoco é, com toda a certeza. Na medida em que os pressupostos em que a TDT foi lançada, como uma solução que juntava os canais tradicionais e uma série de novos canais temáticos, já estão alterados, porque o concurso foi anulado. O que significa que a TDT terá apenas os canais que já existem. Ora, isto é um absurdo.

Isso era relativamente expectável, até porque nos países onde há um cabo forte a TDT tem essa dificuldade.

Sim, é verdade. Portugal chegou tarde ao TDT, definiu mal o caderno de encargos, o que faz que os operadores fiquem com esta limitação: têm uma plataforma de distribuição por via hertziana com potencial enorme, mas que vai estar limitada àquilo que já existe. É um absurdo. Na prática, só compensa ter TDT quem não tem televisão por subscrição. Com uma agravante, com a largura de banda que o sistema vai ter nem será possível ter canais em alta definição, o que é ainda mais absurdo. Numa altura em que a televisão está a caminhar toda para a alta definição, nós vamos continuar a oferecer televisão tradicional.

NTV

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