Trocou a TVI pela SIC e voltou ao teatro ao fim de sete anos, com a peça Casamento em Jogo. Aos 51 anos, entra na novela de Carnaxide Rosa Fogo e abre a alma à Notícias TV. Revela ser desarrumado e com pouco jeito para ser o centro das atenções.
Mudou de empresa e voltou aos palcos. Está como quer?
Não mudei de empresa, mudei de sonho. Vou criar, vou sonhar, vou ilustrar os sonhos de outros. Por isso mudei de sonho, mas estou acordado. E voltei ao palco. Percebi que tinha mais saudades do que imaginava.
É um dos protagonistas de Rosa Fogo, a próxima novela da SIC. Também vai gravar na Argentina?
Oh yeah! Mas eu já conheço a Argentina. É a Europa da América do Sul.
Sabe dançar o tango?
Mais ou menos... mas se me pedir para dançar tango fico cheio de vergonha. O tango é uma dança à flor da pele, em que tudo pode ser expressado por aquele par, o amor, o ódio, o rancor, o desejo, a paixão. Gosto muito de Astor Piazzola, acho que tenho a obra quase toda dele.
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Quem foi a pessoa-chave que o convenceu a ir para a SIC? Foi a Gabriela Sobral?
Não, foi mesmo um estado maior, foi tudo!
O actor Fernando Luís disse recentemente à revista Tabu: "Nas novelas não se criam laços com as pessoas. As pessoas não trabalham para um objectivo comum, há muitas estrelas. As novelas são lutas de egos." Concorda?
Em parte, sim. Enquanto no teatro e no cinema há um projecto em que estamos todos envolvidos, às vezes na televisão sinto muito os egos. Mas os egos são criados pela própria estação. É bom ter uma estrela, ou várias estrelas, numa estação. Isso faz que se fale da estrela, esteja a estrela bem ou mal, a brilhar ou com pouco brilho. É marketing.
Há muito vedetismo nos bastidores das novelas?
Há um pouco, sim.
Isso nota-se em quê?
Em coisas pequeninas que, depois, todas juntas são um armazém de coisinhas. E cansam. Eu estou ali para fazer aquilo. Chego sempre bem-disposto e pronto, às vezes há uns entraves. Mas não vamos falar sobre isso, não gosto muito de falar sobre os outros.
O Rogério é dos poucos actores da sua geração que se adequam ao papel de galã que as novelas precisam. Considera-se o último dos galãs?
Eh pá, não, pelo amor de Deus! Tento sempre dar cabo dos galãs, criar-lhes problemas interiores. Não acho o galã uma personagem muito apetecível porque é muito formatada. É objecto de desejo está ali, sempre impecável, de fato e gravata ou em tronco nu. Sempre fugi disso. Percebo que pela minha forma física, pelo meu aspecto seco, me associem ao galã, mas fujo a sete pés.
Lida bem com o envelhecimento?
Lido. As rugas fazem parte e acho que no meu caso vão dar-me mais trabalho e fazer sorrir no futuro. Tenho pena de não estar mais marcado pelo tempo. Mas não posso fazer nada. Sou assim, isto é genético. Há pessoas que se queixam de ter, eu queixo-me de não ter o suficiente (risos).
Comemora este ano 33 anos de carreira. Lembra-se da sua estreia?
Se lembro! Foi a fazer figuração no Parque Mayer. Dizia só uma frase. Mas tenho aquela memória do Parque Mayer, das luzinhas, dos cafés, dos teatros cheios... Tive uma avó extraordinária. Ela iniciou-me neste mundo das artes muito cedo, ao levar-me à revista, ao teatro, ao cinema. A minha avó foi a grande culpada disto tudo.
Ela era apaixonada por teatro?
Por teatro, ópera, cinema. Esta não foi uma profissão de que me lembrasse "Ah, quero ser actor!" Não, eu queria ser arquitecto...
Mas foi logo aos 18 anos para o conservatório.
Fui, mas foi a vida que me empurrou para isso. Se me perguntar porquê, não sei. Se calhar foi a minha avó, que me foi minando. E é curioso que, quando lhe disse que queria ser actor, ela não achou muito bem. Disse que eu ia ter um futuro muito incerto, que devia tirar um curso...
Era a sua fã numero um?
Não. Os meus pais e a minha avó nunca viram os meus trabalhos. Só na televisão.
Porque é que acha que isso acontecia?
Não ligavam nenhuma, se calhar.
Acha que não o levavam a sério?
Acho que levavam, mas nunca lhes perguntei isso. A minha mãe já se foi embora, a minha avó também. Ao meu pai... um dia destes pergunto-lhe.
Mas o seu pai vê as suas novelas?
Sim, vê, e fica contente, com a lágrima ao canto do olho. As pessoas conhecem-no porque ele é meu pai e ele gosta disso.
É bom dono de casa?
Sou um bocadinho preguiçoso. Olho para as coisas e digo "vou arrumar aquilo". Mas aquilo faz-me companhia... tenho a casa limpa, tenho uma pessoa que me ajuda, mas não sou muito bom dono de casa. Há uns anos, achei que era, mas não sou.
É um bocado bicho-do-mato?
Sou, sou. Depois, como conheço muita gente, se fico a falar mais tempo com um do que o outro... uff! Desde que moro em Sintra, há 15 anos, que tenho um lado de bicho-do-mato, como se a serra nos protegesse...
Imagina-se a voltar a apaixonar-se?
Não sei. A paixão pode estar ao virar de uma esquina, não sei.
Perdeu a ilusão com o final da relação com a Mafalda [Pinto]?
Não vou falar sobre isso.
Continua a acreditar no amor?
Acho que no amor acredita-se sempre. Deve acreditar-se em todas as formas que o amor tem. Acho que nos faz bem.
E a vontade de ter um filho?
Agora já começo a pensar que depois vou buscar a criança ao colégio, tenho 60 anos e dizem "ó Manuel, olha o teu avô, veio buscar-te!" Não sei. Há coisas que ponho mesmo nas mãos do destino: o dia em que vou morrer, o amor, os filhos, o futuro. Evidente que se for semeando no presente o futuro é um bocadinho melhor.
Complete a frase: se soubesse o que sei hoje...
... Fazia de conta que não sei nada.
NTV
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