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28 de agosto de 2011

Pedro Granger: “Gostava de apresentar o 'Factor X'"

Um mês depois de ter batido com a porta da TVI, Pedro Granger explica-se pela primeira vez. Durante duas horas, falou dos amigos, dos sonhos, dos desejos profissionais e assumiu que tem andado a reunir-se com a SIC. Não disse tudo, mas o que disse e o que deixou dizer por meias palavras revela muito do seu estado de espírito.

É actor, apresentador, dá voz a publicidade, faz dobragens de filmes e, pelo que percebi agora, também toca piano. Qual é o seu... "Factor X"?

(risos) E também falo francês, pois tenho um bisavô francês. O meu "Factor X"? Não sei, isso o público é que dirá. O "Factor X" era uma expressão que eu e a Sílvia Alberto utilizávamos em 2004 no Ídolos. O Simon Cowell, que foi o pai do Ídolos, é que falava muito do "Factor X", aquela estrelinha, aquele talento que um candidato tem de ter. Se acho que tenho um "Facto X"? Sim, provavelmente tenho um bocadinho, tenho uma estrelinha que durante estes 14 anos de carreira me tem aberto algumas portas e me tem dado algumas oportunidades de trabalho na televisão, no teatro, no cinema, na publicidade.

Sente-se actor, sente-se apresentador?

Eu represento há 14 anos e descobri há sete ou oito anos uma nova paixão, que é a apresentação. Costumo dizer por brincadeira que sou um actor em permanente construção e um apresentador em projecto (risos). Nesta profissão devemos procurar fazer várias coisas, tocar vários instrumentos. Mas devemos também ser sérios e perceber que não podemos fazer bem tudo ao mesmo tempo.

Mas sente que faz bem tudo o que faz?

Não, sinto que depende dos projectos, sinto que há projectos que correm melhor e outros que correm pior. Isso acontece com qualquer profissional, consigo também, seguramente. Penso que na representação, na apresentação, na publicidade, na dobragem de desenhos animados, nas próprias músicas que já compus, tento fazer sempre o melhor. Mas há sempre coisas que correm melhor do que outras.

Dizia há pouco que o seu "Factor X" o ajudou a abrir portas. O que é certo é que acaba de fechar as portas da TVI...

Não fechei, acho que deixei bem claro no comunicado que fiz à imprensa que isto não é um fechar de portas à TVI, é apenas um até já. Isso já tinha acontecido, aliás, anteriormente, ainda no tempo do Zé Eduardo [Moniz]: eu estava na TVI, onde tinha feito os Jardins Proibidos e o Super Pai, quando surgiu a possibilidade de fazer com a Sílvia o Ídolos, na SIC. E saí. E depois voltei outra vez. Portanto, estas coisas são assim mesmo. Não são um fechar de portas. São apenas uma necessidade de fazer novas coisas, de descobrir outros caminhos. Mas deixo na TVI grandes amigos, portanto isto não foi uma saída raivosa, não foi nada fatalista e noveleira.

Sim, mas durante dois ou três meses alimentou na imprensa uma espécie de novela, um tabú Pedro Granger-fica-na-TVI-Pedro-Granger-vai-para-a-SIC...

(risos) Um tabú? Não tenho essa importância.

Para ler o resto da entrevista, clique em Ler Mais!

Sim, mas ao fim de dois, três meses de ansiedade, decidiu fechar um ciclo.

Sim, isso é verdade. Decidi ser livre, correr atrás dos meus sonhos, estar no mercado.

Desculpe que lhe diga, mas ninguém acredita que, no actual contexto do País, o Pedro, que tinha um contrato de exclusividade na TVI (onde ganhava um ordenado quer estivesse a trabalhar, quer estivesse em casa), tenha batido com a porta da TVI sem ter nada combinado com a SIC...

(pausa) Esta é a primeira vez que eu estou a falar sobre o assunto, até porque me tinha comprometido consigo a dar-lhe esta entrevista. E por mais esquizofrénico que possa parecer, eu não saí da TVI com qualquer decisão tomada na SIC. Esta é a verdade absoluta. Não está nada decidido. Se há projectos, e há, eles são apenas projectos, não há nada decidido. Eu saí da TVI por uma opção de vida neste momento. Não queria continuar com aquele laço exclusivo com a TVI. Mas há uma coisa que é preciso explicar, para que não subsistam dúvidas: o meu contrato acabou em Maio, eu não rescindi um contrato, não deixei um contrato a meio com a TVI. Não, o meu contrato acabou em Maio. Em Junho e Julho, inclusivamente, já não recebi dinheiro da TVI.

Mas está ou não está a negociar a sua entrada na SIC?

Estou, não posso escondê-lo. Mas não há nada certo, e isso não teve nada a ver com a minha decisão de não renovar a exclusividade com a TVI. As propostas que existem neste momento estão a ser discutidas, não estão materializadas, não sei quando vão estar ou se, inclusivamente, virão a estar.

Vamos lá por partes. O que é o fez encerrar este ciclo? O que é que o estava a cansar na TVI?

Acho que cansar talvez não seja a palavra certa. Mas foram muitos anos na mesma casa com um tipo de projectos muito repetitivos. O principal produto que a TVI tem são as novelas. E atenção, é importante: as novelas têm dado emprego a muitos actores. Eu não sou um anti-noveleiro.

Nem podia ser. As novelas deram-lhe a projecção que hoje tem...

Sim e eu sou humilde ao ponto de reconhecer que devemos agradecer às novelas o facto de terem aberto o mercado, de terem permitido colocar muita gente no mercado de trabalho. Sou agradecido a isso. Eu tenho a noção que tive três projectos muito importantes na minha aproximação ao público: foram os JardinsProibidos, o Ídolos e o Dei-te Quase Tudo.

Portanto, duas novelas em três projectos...

Sim, é verdade. Eu reconheço que as novelas me deram essa projecção. O Dei-te Quase Tudo foi a novela da TVI mais vista de sempre até hoje. Aliás, sinto que tive o privilégio e a sorte de estar em dois projectos fundamentais da ficção da TVI: os Jardins Proibidos, que foram a primeira novela portuguesa a bater a ficção da Globo, e o Dei-te Quase Tudo, que fiz com a Vera Kolodzig.

Mas está farto de novelas?

Não se trata de estar farto. O que penso é que não nos podemos encostar aos louros conquistados. É preciso diversificar. O que havia na TVI neste momento para mim era mais do mesmo. Até porque em termos de entretenimento, a TVI não tem uma oferta tão diversificada como os outros canais.

Mas na TVI fez a Casa dos Segredos...

E gostei muito. Adorei trabalhar com a Leonor Poeiras, que é uma amiga de coração. Aprendi imenso com a Júlia Pinheiro, mas enfim, já o fiz, não me apetecia fazer de novo.

Não o seduzia fazê-lo de novo, agora com a Teresa Guilherme, de quem é amigo?

Eu gosto muito da Teresa, somos amigos. Se ela está feliz, eu fico um bocadinho mais feliz. Acho que já era merecido o regresso da Teresa à televisão. Foi tempo de mais afastada. Se me pergunta se nos iamos divertir a apresentar a Casa dos Segredos, eu respondo-lhe "claro que sim, tenho a certeza absoluta". Que coisa melhor do que trabalhar com amigos? Mas não me parece que fosse o projecto indicado para mim nesta altura.

Mas a TVI apresentou-lhe essa proposta...

Sim, apresentou. Tivemos várias reuniões, ou algumas propostas que me foram apresentadas. E eu respeitei as ideias deles, mas recusei. E acho que eles entenderam-me.

O Canta Comigo, que está a ser apresentado pela Rita Pereira, foi outro dos projectos que lhe apresentaram...

Foi. Era outro desses projectos, mas não me seduziu. Não acho que fosse uma escolha acertada para mim.

Porquê? O que é que não o seduziu no projecto, que ainda por cima não está a correr particularmente bem com a Rita Pereira?

(pausa) Não fica muito bem falar nisso. Mas é um facto que o projecto não está a correr muito bem. E desejo sinceramente que corra melhor, porque está lá gente de quem eu gosto muito. Mas realmente o projecto não me seduziu e o que é certo é que não está a correr bem.

Bem, mas afinal a TVI não lhe ofereceu só novelas. Ofereceu-lhe dois programas em horário nobre, em directo, de grande entretenimento. Há muito profissional que gostaria de ter essa oportunidade...

Mas não é o facto de ser em prime time para muita gente que me seduz. Um dos programas que mais gostei de fazer foi o RédeaSolta, que era na TVI24. Era um dos três programas mais vistos do canal, mas era no cabo. Portanto, isso não tem nada a ver com a dimensão do projecto. Eu tenho é que sentir que me apetece fazer aquilo, que aquilo que vou fazer faz sentido na minha carreira.

E estes não faziam?

Não.

Mas novelas também não lhe apetece fazer, não é?

Repare, eu acabei de fazer uma novela agora, a Sedução, do Rui Vilhena, que ainda está no ar. Fiz um vilão, um "sacaninha fixe", que me deu muito gozo, numa excelente novela, com um grande elenco. Adorei fazer. Foi um grande desafio. Costumo fazer novelas de três em três anos. E, portanto, quero fazer uma pausa nas novelas agora. Quero fazer cinema, quero fazer teatro, quero apostar na apresentação. Não estou a dizer que nunca mais vou fazer novelas. Concerteza que vou e sei que me vou divertir muito. Mas não quero fazer amanhã.

A TVI percebeu isso?

(pausa) Perceber, percebeu e durante alguns meses estavamos todos a caminhar de forma a encontrarmos ali uma solução que conseguisse satisfazer a TVI e as minhas aspirações de vida enquanto actor.

Disse que durante alguns meses estavam a caminhar no sentido. O que é que aconteceu de repente para isso mudar e o Pedro bater com a porta?

Não sei. Sei que até determinado momento as coisas estavam bem encaminhadas e eu estava muito próximo de continuar na TVI. Até que a partir de um certo momento, as prioridades da TVI e as minhas não se conciliavam.

Isso coincidiu com a entrada de José Fragoso na TVI? Chegou a falar com ele?

Não, cruzei-me com o José Fragoso uma vez lá na TVI. Nunca se proporcionou qualquer reunião com ele. Mas presumo que as pessoas com quem me reuni já depois do Fragoso entrar fossem porta-vozes do que ele defendia.

Com quem é que se reuniu na TVI?

As reuniões que tive foram sempre com o Bernardo Bairrão, que também já não está lá, com o Luís Cunha Velho e com a Helena Forjaz, que foram pessoas que fizeram de tudo para que eu ficasse na TVI. Aliás, enquanto o Bernardo Bairrão lá esteve, as coisas estiverem sempre muito bem encaminhadas para eu continuar na estação. E acabei por ter também uma reunião com o Bruno Santos, que gostei muito, porque é um criativo cheio de ideias e projectos.

José Fragoso já disse que a ficção é para manter na TVI...

E fico contente com isso, pelos meus colegas e amigos que tenho lá.

A TVI precisava de um líder como Fragoso. Sentia-se a falta de um líder desde a saída de Moniz, em 2009?

(pausa) Muitos de nós que estamos ou estivemos na TVI nestes últimos anos somos marcados pelo factor José Eduardo. O Moniz conseguiu construir na TVI uma grande família. Motivada, unida e feliz. Quando o Zé Eduardo saiu, foi um grande rombo. Enorme. Monstruoso. Depois saiu a Manela [Moura Guedes], e foi mais uma cacetada. Depois saiu a Gabriela [Sobral] e a Júlia [Pinheiro]. Cacetada atrás de cacetada. Como é óbvio, a TVI que existe hoje em dia é outra TVI, não tem nada a ver com a TVI que existiu durante dez anos.

O que é que mudou?

A TVI sempre se pautou por um lado muito humano, muito afectivo. O Zé Eduardo sempre me conseguiu convencer para fazer projectos para os quais eu não estava voltado. Não interessa quais, mas ele conseguia, com aquele seu jeito de ser. Era um ambiente de mobilização geral, vamos, estamos juntos, precisamos de todos motivados. As próprias festas de aniversário e de Natal da TVI mostravam isso: um espírito de trabalho e de equipa muito grande.

Isso perdeu-se?

Sim, acho que se perdeu um bocadinho. A TVI perdeu o espírito familiar. Não estou a dizer que a TVI vai para melhor ou para pior, o que estou a dizer é que é diferente. Uma casa não é só feita por tijolos, é também feita por pessoas.

É curioso dizer isso porque recordo-me que, no final da década de 90/início de 2000, quando a SIC ainda era líder e começaram a sair as primeiras pessoas, elas diziam precisamente isso da SIC: que se tinha tornado grande de mais, que tinha deixado de ser uma casa de afectos, que tinha passado a ser formal. Isso é uma inevitabilidade ou uma sina das lideranças?

Acho que é, essencialmente, uma sina dos grandes líderes e do vazio que se cria quando eles saiem: Rangel e Moniz. A equipa que está lá a comandar o navio é outra. Não é a mesma coisa, não pode ser.

A saída de Moniz, da Manuela, da Gabriela, da Júlia e de Bernardo Bairrão tornaram-no infeliz na TVI?

Infeliz é capaz de ser forçado. Mas é óbvio que com a saída deles perdeu-me motivação. Ainda para mais quando se percebe a forma como alguns deles saíram.

O que quer dizer com isso?

Nada mais do que disse. Está à vista. Como aparece em OPrincipezinho, "crescer é uma chatice". E, de repente, entramos desta forma directa no mundo dos adultos e é triste. Mas não há dúvida que essas saídas me fizeram um bocadinho perder a vontade de ficar. Foi gente a mais a sair. Foi um período muito difícil. Quando estamos numa casa como a TVI, é importante sabermos qual o nosso papel.

Deixou de saber o seu papel?

Sim, um bocadinho.

Mas você era um quadro da TVI, com a sua missão bem delineada: era actor e apresentador.

Mas, a partir de um certo momento, senti que era um bocadinho um actor e apresentador dos outros, dos que já partiram. E não um da TVI. Os meus pais sempre me ensinaram a não ter vergonha do que somos e das amizades que temos e a defender os amigos até ao fim. E não é por essas pessoas já não estarem na TVI que eu vou deixar de ser amigo delas. Não é por haver discussões mais públicas com determinados intervenientes, que eu vou deixar de assumir as minhas amizades.

Mas o que me disse há pouco é que sentiu que a TVI lutou por si, por continuar a tê-lo nas suas fileiras.

Até certo ponto, sim. O Bernardo Bairrão, então, muitíssimo. O Luís Cunha Velho também. Mas com os novos intervenientes, as coisas mudaram. Mas eu quero que a vida corra bem aos meus amigos, e é bom que tenhamos uma TVI forte. Tenho lá, como disse, muitos amigos. A minha Leonor Poeiras, a minha Sofia Ribeiro, a minha Fernandinha Serrano, o Marco Delgado, que é dos meus melhores amigos, a Rita Salema, enfim, são muitos.

Mas deixe-me lá ver se percebo: o que é que quer fazer agora? Não quer fazer novelas, não quer fazer A Casa dos Segredos nem o Canta Por Mim, o que é que quer fazer?

Felizmente, no dia a seguir a ter posto fim a esta relação com a TVI, apareceu-me um filme para fazer. Parece que é o universo a conjugar-se (risos). Portanto, estou a fazer cinema, que é uma das minhas grandes paixões. Na televisão quero fazer entretenimento, mas que tenha mais a ver comigo.

O que é um entretenimento que tenha mais a ver consigo?

O Ídolos tinha a ver comigo. O Rédea Solta tinha a ver comigo. A Casa dos Segredos foi um programa onde me diverti imenso, onde aprendi muito, mas que em termos de formato não tem propriamente a ver comigo.

O Factor X, cujos direitos para Portugal foram comprados pela SIC, é um programa que gostaria de apresentar?

O Factor X é um upgrade do Ídolos. E até foram criados pela mesma pessoa. Custou-me imenso ter de dizer não à terceira edição do Ídolos, quando o Nuno Santos [à época, director de programas da SIC] me perguntou se queria fazê-lo. O Zé Eduardo tinha acabado de criar para mim o Rédea Solta, para que eu ficasse na TVI, e eu achei que não fazia sentido virar as costas ao Zé Eduardo naquele momento. Era uma questão de princípio.

Mas o Nuno Santos chegou a convidá-lo?

Sim, ele e o Frederico [Ferreira de Almeida, produtor da Fremantle]. Era uma escolha natural. Eles sabiam que eu tinha adorado fazer com a Sílvia as duas primeiras edições. Mas não foi possível. Foi para o João Manzarra e para a Cláudia Vieira, que o fizeram brilhantemente. Foi bom para a carreira dos dois. Estão a fazer um trabalho sensacional.

E o Factor X?

Claro que gostava de fazer, é um programa que tem tudo a ver comigo, como é óbvio. É esse tipo de entretenimento que gostaria de fazer.

O programa está em cima da mesa nas negociações com a SIC?

Eu não gosto de utilizar a comunicação social para fazer passar certas mensagens. Enquanto falei sobre este assunto, fui honesto com a TVI e fui honesto com a SIC. Eu sempre assumi que havia conversações com os dois lados, que era para não se fazer fofoca sobre o assunto. Fui claro. E é verdade que tenho estado em negociações com a SIC. E quer nas reuniões que tenho tido com o Luís Marques e com a Gabriela Sobral, o FactorX está em cima da mesma, não o escondo. Mas quanto a pormenores, não vou estar aqui a falar mais nada. Até as decisões estarem tomadas, não vale a pena precipitarmo-nos.

Nas negociações com a SIC está seguramente a sua participação em novelas...

(pausa) Isso não é assunto para falar aqui. A minha prioridade para eu fazer amanhã é a apresentação. Sempre disse. Mas com um formato em condições que faça sentido.

Sim, eu percebo, mas se a SIC o contratar, é evidente que vai querer capitalizar também a sua experiência como actor.

É natural que sim.

E já sei que não quer falar das negociações, mas imagine que a SIC lhe dá o Factor X para apresentar. Será mais difícil recusar entrar na novela do próximo ano, mesmo que só goste de fazer novelas de três em três anos...

(pausa) Sim, é possível, isso faz algum sentido. Seria um caso a pensar, não escondo.

A transferência de Gabriela Sobral e de Júlia Pinheiro para a SIC ajudaram-no a tomar a decisão?

Há uma coisa que é preciso tornar claro, até para desmistificar algo que se tem dito. Se eu for para a SIC, não vou atrás das minhas amigas. Não tenho absolutamente vergonha nenhuma de dizer que elas são minhas amigas, mas se eu tivesse ficado na TVI, eu tinha ficado lá com os meus amigos. Tinha ficado lá com o Luís Cunha Velho, que é uma pessoa que eu adoro e a quem devo brutalidades na minha carreira. Se houve pessoa que nestes últimos dois anos me ajudou com um carinho do tamanho do Mundo foi o Luís. Despedir-me do Luís Cunha Velho e da Margarida Vitória Pereira, na TVI, foi das coisas mais dolorosas da minha vida. Já para não falar que em termos de ficção, os meus grandes amigos estão na TVI. Há que não baralhar as coisas. Nunca tive cunhas, nunca tive lobbies, nunca tive favores. O que consegui na minha carreira foi à custa do meu trabalho.

Portanto, Gabriela Sobral e Júlia Pinheiro não tiveram peso na sua decisão?

Não, até porque isso não é verdade. Muito antes de a Gabriela ir para a SIC, o Nuno Santos tentou levar-me. Como já me tinha convidado, no tempo em que estava na programação da RTP, para um projecto com a Sílvia.

Tem tido contactos com a RTP?

(pausa) Dei a entender à RTP que estava no mercado e que estava disponível para trabalhar. Não há que ter vergonha nenhuma disso. No dia seguinte a ter tomado a minha decisão de sair da TVI, dei a entender a todos os canais e a todas as produtoras que estava disponível. Telefonei, enviei mails e currículos.

A exclusividade não é importante para si?

É uma segurança financeira grande. Além disso, em alguns trabalhos de representação e apresentação, dá-se prioridade aos exclusivos até para rentabilizar aquele activo do canal. Mas a verdade é que a exclusividade também é completamente castradora e perigosa. Porque muitas vezes como estamos lá e temos de ser rentabilizados, temos de embarcar em projectos, que não são os mais adequados e que não queremos fazer.

Isso já lhe aconteceu?

Claro que já, todos nós já fizemos projectos que não eram a nossa cara. Olhe, por exemplo, se eu fosse exclusivo da TVI e tivesse que fazer o programa das canções, teria perdido a hipótese de fazer dois filmes, como estou a fazer agora. A exclusividade é um pau de dois gumes.

Revista Notícias TV

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