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A obesidade impede, há anos, que os participantes do concurso da SIC consigam um emprego. Eles já "bateram à porta" de lojas de roupa, cafés, pizarias mas, no fim, voltam para casa com mais um 'não' no currículo. "A menina não sabe que não fica bem ter uma pessoa como você a trabalhar numa loja de roupa? As clientes que nos procuram são pessoas magras." Foram estas as palavras que, durante longos meses, ecoaram nos ouvidos e na cabeça de Sara. Carlos, namorado da concorrente do concurso ‘Peso Pesado 2’ em exibição na SIC, testemunhou a angústia e frustração da namorada que, naquele dia, viu-lhe ser negada, mais uma vez, a oportunidade de conseguir um emprego por sofrer de excesso de peso. "Recordo-me dessa entrevista de trabalho a que a Sara concorreu porque ela veio de lá muito abalada. A entrevistadora foi mal educada", denuncia o companheiro da participante de 25 anos cuja última experiência a trabalhar ocorreu como recruta do Censos de 2011. Sara, que completou, há um ano, a licenciatura e o mestrado em Engenharia Biológica, sentiu logo após terminar os estudos no ensino superior o sabor da discriminação. "Ela concorreu a uma vaga na área de formação dela, mas não foi admitida. Candidatou-se juntamente com uma colega da faculdade que frequentou o curso com ela, a outra rapariga ficou na empresa e a Sara não. Antes, tinham-lhes assegurado que existiam duas a três vagas...", relata o namorado da concorrente. Também a participante do concurso Andreia, de 19 anos e residente em Felgueiras, viu cedo as "portas" do mundo do trabalho serem-lhe fechadas por ser obesa. Após completar o 12.º ano e sem nunca ter parado de procurar trabalho, foi recusada, assegura à Notícias TV a mãe da concorrente, num total de 30 entrevistas. Iolanda ainda hoje se lembra da filha ter sido admitida para trabalhar numa pizaria onde trabalhou... quatro dias. "A patroa do espaço disse à minha Andreia que ela podia lá ficar a trabalhar. Ela entrou numa sexta-feira, mas depois a gerente disse que já não precisavam dela e na terça-feira já não foi. Não tenho dúvidas de que não queriam era que ela lá ficasse", acusa.Mãe galinha, Iolanda fez, durante muito tempo, questão de acompanhar Andreia nas entrevistas de trabalho. Mas, um dia, até isso teve de desaparecer. "Eu costumava ir com ela para todo o lado, mas tive de desistir porque ninguém acreditava que eu era a mãe dela, achavam que éramos irmãs. Numa entrevista chegaram a dizer-lhe: 'Mais depressa dava trabalho à sua mãe, mas a si não' ", conta a mãe para acrescentar: "Há discriminação atroz e pesada." Não conseguir arranjar trabalho é uma "das maiores tristezas" de Andreia. "Aqui, na nossa terra, ela já nem tem onde bater à porta. Já correu tudo! Os patrões não dão oportunidade de mostrar que uma pessoa com mais peso é tão capaz de assumir funções como qualquer outro cidadão!", solta indignada a progenitora. Andreia carrega, aliás, um peso acrescido: "Por motivos de doença - sofro de retinopatia congénita - e, como vejo muito pouco, não trabalho. E isso faz a Andreia sentir ainda mais necessidade de ganhar o seu dinheiro. Mas eu vejo o esforço dela...", descreve a mãe, Iolanda. Sem possibilidades económicas de frequentar a universidade, Ana, de 24 anos, completou o 12.º ano e, desde aí, lutou várias vezes por um emprego. Perante repetidas e intermináveis rejeições por parte de entidades patronais, Ana, que trabalhou pela última vez como operadora de caixa num minimercado na Foz do Arelho, tem sofrido fases de desalento como relata a mãe, Fátima. "Quando ela vai a entrevistas já vai pessimista. Eu acompanho-a quase sempre e, por vezes, ainda no local ela diz-me: 'Mãe, não vês que não vou ficar. Olharam-me de lado'." E nem as amizades do pai, Isidro, a ajudaram a vingar e a conseguir um emprego. "Há cerca de dois anos, ela concorreu a uma vaga para um escritório numa empresa de fruticultura. O empregador era um rapaz amigo do meu marido, mas assim que a viu disse, diante da Ana, que já não precisavam de ninguém", revela ainda Fátima, que está desempregada por invalidez. Alfredo, de 34 anos, que já foi eliminado do concurso ‘Peso Pesado 2’ e está prestes a ser pai do terceiro filho, tem-se empenhado, por estes dias, num só objectivo: perder ainda mais peso para não voltar a passar pelo pesadelo de não conseguir trabalho. "O melhor que ele conseguiu foi quando esteve oito anos a trabalhar na construção civil, porque o patrão tinha pena dele, mas acabou por o mandar embora. Mas, agora, ele até já perdeu peso e o nascimento do bebé está a incentivá-lo", descreve a irmã. Bela acredita que o "carácter e honestidade" do irmão vão ajudá-lo a vencer, mas deixa uma mensagem às entidades patronais do País: "Acreditem que os obesos também são capazes de trabalhar."
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