O programa de reportagens da SIC que complementa o Jornal da Noite de sábado está de parabéns. Sofia Pinto Coelho, coordenadora do projecto, revela que o truque está na diversidade dos temas e na ausência de tabus. Para o futuro deseja ter ao seu dispor um arquivo mais extenso. Há cinco anos, o Jornal da Noite substituía o programa de reportagens Exclusivo, que retratava a vida interna da estação, por uma outra marca. Perdidos e Achados nascia com o objectivo de remexer no baú da memória jornalística da SIC, fazendo a actualização de reportagens emitidas pelo canal e que tiveram uma forte repercussão junto da opinião pública. Sofia Pinto Coelho, jornalista e coordenadora deste projecto, faz um balanço "extraordinário" do percurso de Perdidos e Achados nos serões das noites de sábado. "Este programa começou por ser uma espécie de laboratório. Pensámos: 'Vamos lá ver no que é que isto dá.' É muito satisfatório verificar que, passados cinco anos, se tornou uma marca SIC que é acarinhada e seguida por tantas pessoas", explica. No entanto, nem sempre foi possível recuperar todas as reportagens que ficaram perdidas no tempo. O primeiro, dos dois casos em que não foi possível encontrar paradeiro, remonta ao ano de 1994. Vuvu Grace, uma mulher de origem guineense que viajou para Portugal com a filha, Benedicte, para visitar o marido, foi notícia por ter sido retida à entrada do Aeroporto de Lisboa. O acontecimento teve grande impacto mediático, uma vez que estava relacionado com a nova lei da imigração. Sofia Pinto Coelho lamenta que nunca tenham conseguido chegar à fala com Vuvu Grace. "Tentámos até à última instância, mas de facto não foi possível. Depois de batermos a 57 portas sem obter resposta temos de aceitar e deitar a toalha ao chão", refere. O outro protagonista com quem a equipa de Perdidos e Achados nunca conseguiu entrar em contacto foi Marco Aurélio, um jovem que reencontrou os pais passados 15 anos no programa Ponto de Encontro (SIC), apresentado por Henrique Mendes. "Ele tinha uma história muito comovente porque tinha sido criado pelos avós e só conheceu os progenitores quando já era adolescente. Soubemos que ele entretanto tinha casado, mas não foi possível fazer a reportagem. Tive mesmo muita pena, mas fizemos tudo o que era possível", explica. Encontrar três dos 17 casais que em 1999 foram seleccionados para Os Casamentos de Santo António - tradição lisboeta que conta com mais de 50 anos - foi o "perdido" mais complicado de "achar". Desde ter sido lançada a ideia deste programa até à sua concretização passaram quase cinco meses.
Arquivo da SIC está a ficar rapado
Confiante no futuro do programa, Sofia Pinto Coelho realça o facto de Perdidos e Achados combater a chamada informação descartável referindo-se à tendência de as televisões explorarem ao máximo um tema de reportagem e depois nunca mais se interessarem por ele. "O mais interessante neste trabalho é que podemos brincar aos historiadores e recuar 40 anos no tempo". Além disso, "não existe aquela pressão do jornalismo diário, o que nos permite ter tempo para trabalhar", salienta Sofia Pinto Coelho. No entanto, a jornalista gostaria de ter "mais manancial de imagem" na sua posse, uma vez que o arquivo da SIC tem apenas 19 anos, pelo que começa a ficar "rapado". Consultar o arquivo da RTP seria a solução ideal, não fossem os custos que isso acarreta. "A estação pública tem material valiosíssimo. O único inconveniente é que cada minuto do arquivo da RTP custa 300 euros, e quanto mais antigo for mais caro é", destaca. Mas este não é o único entrave com que esta equipa da SIC tem deparado. Existe sempre quem se recusa a mostrar a sua vida para as câmaras e, nesses casos, não há mesmo nada a fazer.
Segredo do êxito é contar histórias sobre pessoas
A premissa inicial de Perdidos e Achados era colocar a equipa de reportagem original no terreno para actualizar a história. Cinco anos depois, o objectivo mantém-se. "Temos uma equipa fixa que trabalha todos os dias, mas continua a existir a colaboração dos jornalistas que fizeram a peça inicial. Esse 'casamento' torna este trabalho muito mais mágico e autêntico", considera. Mas este não é o único ingrediente que tem ditado a continuidade do programa em antena. Sofia Pinto Coelho destaca o factor "humano" como determinante no sucesso deste formato. "Contamos histórias sobre pessoas, de sobrevivência e de luta. Alguns telespectadores espelham-se nos casos que mostramos ou conhecem alguém que tem uma história parecida", afirma, acrescentando que a diversidade temática é outros dos trunfos deste programa sobre reportagens. No seu ano de estreia, em 2006, Perdidos e Achados obteve um share de 32,3% e uma audiência média da ordem dos 12,4%. Apesar de o programa ter sofrido uma ligeira quebra entre 2008 e 2010, este ano conseguiu recuperar e segurou ao pequeno ecrã cerca de um milhão de espectadores a seguir ao Jornal da Noite das noites de sábado. Satisfeita com os resultados obtidos até agora, Sofia Pinto Coelho enumera ainda um terceiro factor que é decisivo para a boa aceitação do programa junto do público português. "Logo para começar existe uma diversidade temática muito grande. Além disso, a nossa equipa não se guia por um molde de trabalho, o que faz que cada reportagem tenha a sua essência. E, sobretudo, não temos qualquer preconceito", evidencia. Além de desejar que Perdidos e Achados tenha uma longa vida na SIC, a jornalista destaca os seus votos para o futuro: "Espero que as pessoas continuem a gostar do nosso trabalho e que tenhamos bons arquivos para trabalhar."
NTV
Sem comentários:
Enviar um comentário
Agradecemos o seu comentário! Bem-haja!