Aos 82 anos revela que ainda não desistiu por completo da TV, mas garante que só regressa com um “bom formato”. Para já, diz, seguiu o conselho do médico e tirou um tempo para descansar.
Éverdade que não volta a fazer televisão?
Nunca disse isso. As revistas cor-de-rosa deturpam o que dizemos. Disse que estava cansado e precisava de fazer uma pausa. A cabeça não estava a corresponder ao que queria. Segui o conselho do médico para fazer uma pausa.
Quando pensa regressar?
Quando tiver um formato à altura.
O que não correu bem com o último trabalho na SIC, ‘Camilo, o Presidente'?
Dei-me muito mal com este trabalho. Tinha exclusividade e não podia dizer que não. Na SIC prometeram-me muita coisa, mas depois faltou o dinheiro. Pagavam mal aos actores. Costumo seleccionar o elenco e só escolho bons profissionais. Como não havia muito dinheiro para cachets, acabei por ficar mal servido. Mesmo assim, a SIC fez muitos terceiros lugares com esta série.
Gostou do texto?
O texto era bom. Até gostei. Tinha pernas para andar, mas os autores tinham pouca experiência e havia algumas ideias que, apesar de engraçadas, eram difíceis de concretizar por falta de dinheiro. Mesmo assim, ainda fiz 38 programas.
Mas o Camilo costuma mexer nos textos?
Foi o que acabei por fazer. Nos meus contratos, tenho uma cláusula que me permite incluir ideias minhas sempre que o texto não me agrade.
Que falhou mais?
A montagem também não foi do meu agrado. Tudo contribuiu para que ficasse aborrecido com o projecto. Fiz o programa contrariado. Um dia faltava uma coisa, no dia seguinte outra. Este descontentamento acabou por influenciar o meu trabalho.
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Só com dinheiro se consegue fazer bons formatos?
O dinheiro ajuda muito!
O seu humor tem lugar na TV?
Tenho um público fiel, que me procura na rua, pergunta quando regresso. E não é só o meu humor que faz falta. O humor, mais do que nunca, faz falta em Portugal. As pessoas andam tristes e, quando chegam a casa, querem ver coisas divertidas, que as distraia.
Como caracteriza o seu humor?
Tem de estar sempre actualizado. Um humor que agrada a todas as faixas etárias.
Que acha do ‘Estado de Graça', na RTP 1?
É um bom programa. O texto é muitíssimo bom e os actores, muito experientes, conseguem valorizá-lo ainda mais.
Trabalharia para qualquer estação?
Sim, isso não interessa. Não discuto a estação. Já trabalhei para todas, excepto para a TVI. Gostava de ter um bom formato e de ser bem pago. Gosto de trabalhar, mas também gosto de ser bem pago.
Curiosamente, o projecto que menos lhe agradou, ‘Camilo, o Presidente', foi precisamente o mais bem pago?
É verdade. Este contrato era sensacional. Foi o melhor contrato que fiz. Ainda hoje vivo graças a ele. Ganhava X, gastava Y e ainda poupava. E com o dinheiro que ganhei fiz bem a muita gente.
Ainda não apareceu um texto que lhe agrade?
Não. Há dois meses reuni com as Produções Fictícias, que apresentaram quatro originais para escolher o melhor. Depois de estar tudo assente, falámos de cachets. E disseram que não podia pedir o que pedira na SIC e teria de reunir com o Hugo Andrade. Mas começou a falar--se da privatização da RTP e o assunto parou. Nunca cheguei a encontrar-me com ele. Não era oportuno falar de dinheiro neste contexto.
Como ocupa o seu tempo?
Não estou parado! Trabalho aos sábados e domingos, corro o País com espectáculos.
Tem muitas solicitações?
Imensas. Dentro de dias vou a Cuba, Alentejo.
Que tipo de texto leva?
Vou sozinho e conto anedotas, pequenas histórias minhas. Faço meia hora de espectáculo.
E compensa?
Se não compensasse não aceitava, porque, hoje em dia, andar na estrada é mau.
É o Camilo que conduz?
Vou sozinho. Chego lá, visto o meu smoking, faço o espectáculo e venho-me embora.
O Camilo tem reforma?
Tenho, de 750 euros. Dá para uma sandes e para a gasolina.
Como quer ser recordado?
Por aquilo que sou hoje. Ainda que o público tenha fraca memória. Mas ficarei com a consciência de que, enquanto actor, cumpri com as minhas obrigações, fui o mais profissional possível.
Como está a sua saúde?
Já apanhei uns sustozinhos. Mas nada do que as revistas escreveram para vender papel. Elas matam-me logo.
PERFIL
Camilo de Oliveira nasceu há 82 anos em Buarcos, Figueira da Foz, num camarim do Teatro do Grupo Caras Direitas, onde os pais, actores itinerantes, iam actuar. Em mais de 60 anos de carreira, o actor e argumentista fez 47 revistas, 24 comédias e muitos programas de televisão. ‘Sabadabadu', com Ivone Silva, e ‘Camilo, o Pendura', na RTP 1, ou ‘Camilo e Filho' e ‘Camilo na Prisão', na SIC, são apenas alguns êxitos televisivos do popular actor. Camilo de Oliveira tem dois filhos homens, um deles da ex-mulher Io Apolloni. Sobre a participação da actriz no reality show da TVI, ‘Perdidos na Tribo', o actor comenta: " Vi e censurei um bocadinho. Ela já não tem idade para essas coisas." Aos 82 anos, Camilo, que há muito abandonou a caça e, mais recentemente, a pesca, conta que se entretém com os "amigos da Parede", onde vive. "Passamos as tardes a conversar."
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CM
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