Todos o querem, mas só alguns o ganham. Para a ficção portuguesa, ganhar um Emmy ajuda a exportar, dá prestígio, diminui o preconceito com novelas e cala muitas bocas, dizem autores e responsáveis. Segunda-feira, na cerimónia dos prémios internacionais, 'Rosa Fogo' (SIC) e 'Remédio Santo' (TVI) enfrentam-se no ringue.
"Este foi o momento mais trágico de sempre da aviação portuguesa. A qualquer momento a companhia aérea vai divulgar a lista de passageiros que embarcaram com destino a Amesterdão", diz uma pivô na televisão, perante uma Alexandra Lencastre em lágrimas. Segundos depois da exibição deste excerto de Meu Amor, abria-se um precedente na ficção feita em Portugal.
Foi há precisamente dois anos que a novela da TVI levou para casa o Emmy Internacional de Melhor Telenovela. Um ano depois, foi a vez de a SIC vencer em Nova Iorque, na mesma categoria, com Laços de Sangue. Segunda-feira, o ringue é disputado com sangue nacional em dose dupla, com Rosa Fogo(SIC) e Remédio Santo (TVI), às quais se juntam a brasileira O Astro (que Carnaxide também transmitiu) e a sul-coreana Iron Daughters-in-Law. Com este historial recente mas promissor, o que vale, afinal, um galardão Emmy para a ficção portuguesa?
Para além do prestígio inerente à marca Emmy, uma mais fácil internacionalização da novela é a principal vantagem comercial. "É sempre bom ter uma novela consagrada, porque vendê-la para o mercado internacional é mais fácil. Isso aconteceu com Laços de Sangue. Consegue-se mostrá-la ao mundo e ajuda nas vendas. A procura de Laços de Sangue foi muito maior depois da vitória. Ao nível nacional, é mais pelo prestígio, até porque o produto já tinha sido exibido", frisa Gabriela Sobral, diretora de produção nacional da SIC.
Helena Forjaz, a responsável pelos conteúdos e marketing da TVI, concorda. "Temos que ver que este é o prémio máximo em televisão. Ajuda sempre e muito na internacionalização. Lembro-me de que logo a seguir ao Emmy, Meu Amor recebeu uma data de pedidos e solicitações de vendedores interessados e alguns concretizaram-se. Um Emmy é um cartão de visita, é meio caminho andado para isto acontecer", diz.
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"O valor de um Emmy não é quantificável em termos monetários. Só no sentido em que aumenta e valoriza a cotação no mercado, não só da novela, mas do autor, realizador, atores, etc. É uma mais-valia curricular ter um Emmy. É valioso e é um enriquecimento. É uma premiação de um esforço coletivo. Só o facto de sermos nomeados já é uma visibilidade gigante!", explica António Barreira, autor já galardoado com Meu Amor e agora a concurso com Remédio Santo, ainda em exibição na TVI e protagonizada por Margarida Marinho e Rita Pereira.
"Quando recebemos o prémio por Laços de Sangue, isso significa que a novela pode fazer um bom desempenho em qualquer país do mundo. É uma ótima ajuda para vendas internacionais. Este prémio é o maior da televisão. Torna-se uma promoção extra para o programa em causa. É uma chancela de qualidade. Se olharmos para o cinema, muitos dos filmes que ganham Óscares acabam por ser aqueles que têm melhor desempenho financeiro e popularidade nas salas de cinema", explica Pedro Lopes, autor de Laços de Sangue, a vencedora do ano passado e atual responsável pelo guião de Dancin' Days. "E, claro, estes prémios são uma chamada de alerta para que os outros países pensem e olhem para o que se anda a fazer em Portugal", acrescenta Pedro Lopes.
"Espero que tanto a nomeação como a possibilidade de vencermos ajude a exportar Rosa Fogo com mais facilidade", diz Patrícia Müller, autora da novela da SIC protagonizada por Cláudia Vieira, Ângelo Rodrigues e José Fidalgo. E se a autora de Carnaxide voltar com o prémio para casa? O que é que isso mudará na sua vida? Müller responde, entre gargalhadas: "Espere que, de repente, Hollywood repare em mim e me leve para lá, espero que me chamem para escrever [risos]. Agora, a sério, não sei o que mudará", diz.
Pedro Lopes, que levou para casa o Emmy em 2011, diz que receber o prémio "muda alguma coisa" na vida de um escritor. "Não digo que sinta uma maior pressão, mas existe aquele querer manter um certo nível de qualidade. O Emmy não é um acaso, é fruto de um trabalho constante e duro e que deve ser mantido", diz o autor, agora responsável pelo guião de Dancin' Days.
Mais Emmys, menos preconceito
Vencer um Emmy também pode ser valioso no sentido de alertar aqueles que franzem o sobrolho a este género televisivo: "Nos EUA, eles passam muito a usar a designação "nomeado" quando se referem a todas a pessoas que já receberam nomeações para os grandes prémios. É um privilégio para o resto da vida. Em Portugal não. Aqui, queremos ser tão intelectuais que somos menos corretos, quando comparados com o resto do mundo, quando valorizamos o que é nosso, a nossa ficção televisiva", diz António Barreira.
O autor de Laços de Sangue e Dancin'Days concorda. "Este prémio dá uma maior visibilidade à indústria televisiva portuguesa. Só se fala de cinema! Acho muito bem que se fale de cinema, mas fale-se também de novelas! A ficção televisiva é uma forma importantíssima de promover o país, a nossa cultura e o que fazemos", diz.
Portugal já tentava há vários anos
Para se ser nomeado para os Emmy Internacionais, há que submeter o programa em questão e essa inscrição é paga. Normalmente, são as produtoras que o fazem, com o conhecimento das estações que exibem. Apesar de ninguém revelar quanto custa inscrever uma novela, correndo o risco de ser ou não escolhida pelo júri para o leque de nomeados, todos concordam que o risco compensa.
"Em qualquer tipo de certame como este paga-se para participar. Mas é um custo bastante suportável para o sucesso. É algo que vale a pena e não é assim tão caro como se possa imaginar. Qualquer televisão, seja europeia ou a nível mundial, consegue suportar os custos de candidatura e da própria comitiva. Não ficava bem, por exemplo, no ano passado termos ganho o Emmy e não estar ninguém em Nova Iorque para o receber", frisa Gabriela Sobral.
A responsável da SIC, que esteve na TVI até 2010, confessa que as várias televisões nacionais já tinham tentado nomear-se, em vão, em anos anteriores. Há dois anos, finalmente, conseguiram integrar o leque de finalistas. "É verdade que há muito se tentava candidatar a um Emmy, mas ainda não tínhamos sido nomeados. Só a partir de um certo momento é que o conseguimos. Desde que fomos nomeados e conseguimos ganhar que Portugal passou a estar no mapa, antes estávamos escondidos e desde que ganhámos passámos a estar às vistas do mundo. Passámos a ser reconhecidos de outra maneira", diz.
Quem vence esta segunda-feira?
Remédio Santo ou Rosa Fogo? Algum deles vão levar o prémio para casa? Em vésperas da aguardada cerimónia, os autores mostram-se tranquilos. "Estou calmo. Há dois anos, era uma descoberta, uma novidade total. Parti sem qualquer expetativa e sem grandes alaridos e agora vou fazer o mesmo. Hoje já me sinto um privilegiado. Já é um feito razoável um autor receber duas nomeações. Mais razoável ainda é ter sido nomeado por dois trabalhos consecutivos. É gratificante, vamos ver", diz António Barreira, que escreveu RemédioSanto.
Patrícia Müller, a autora de Rosa Fogo, frisa: "Agora estou bem, tranquila. Confesso que o primeiro impacto quando soube da nomeação foi o mais chocante. Vou para lá a pensar que ser nomeada já é excelente, significa que temos uma das quatro melhores novelas do ano em todo o mundo, isto é brutal!"
Gabriela Sobral, diretora de Conteúdos da SIC, não acredita que o galardão venha para Portugal. "Acho difícil ganharmos pelo terceiro ano consecutivo. Era muito bom! Vou confiante de que, pelo menos, está lá o nosso melhor produto", diz. E acrescenta perentória qual acharia ser a decisão mais justa: "Acho que Rosa Fogo é consideravelmente melhor do que Remédio Santo. Foi claramente um produto que se identificou com todos os públicos e é isso que distingue a ficção da SIC da da TVI neste momento", atira a responsável.
Já Helena Forjaz, diretora de Conteúdos da TVI, responde com confiança: "Se estou confiante com uma vitória de Remédio Santo? É claro que sim!", conta, bem-disposta.
Já Pedro Lopes, que há um ano estava no New York Hilton Hotel para receber o prémio, ao lado de Joana Santos e Diogo Morgado, este ano fica apenas a assistir à cerimónia em casa. Mas não é por isso que deixa de ter favoritos. "Das quatro nomeadas, a minha prioridade é a SP Televisão [onde escreve, que tem a concurso Rosa Fogo]".
A ver vamos se Portugal volta a ser galardoado pelo mais prestigiante prémio de TV. Não é costume dizer-se que não há duas sem três? Nova Iorque o dirá.
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