Na semana em que se assinalam dez anos da estreia de Masterplan, a NTV promoveu o reencontro do apresentador Herman José e da concorrente que ficou conhecida como mulher-furacão, Gisela Serrano. Ela revelou pela primeira vez o verdadeiro motivo da sua expulsão. Ele diz que se soubesse teria impedido a sua saída do programa.
Esta semana faz dez anos que o reality show da SIC Masterplan se estreou no pequeno ecrã. O que mudou nas vossas vidas desde então?
Gisela Serrano (G.S.) - O Herman estava há pouco a dizer [antes da entrevista] que os óculos já são um utensílio de que precisa e eu também [risos]. Mudou muita coisa, em dez anos muita coisa acontece. Crescemos, ficamos mais maduras. Passei por duas situações muito graves, duas tristezas - a morte do meu namorado e da minha avó [chora].
Herman José (H.J.) - Mais forte do que estas tristezas não há. O meu pai morreu dois anos antes do Masterplan. Mas, desde aí, tenho tido a felicidade de não ter perdido mais ninguém. No meu caso, curiosamente, foram dez anos de montanha-russa da Feira Popular. Foram atribuladíssimos e não gostei nada deles.
Por que motivo não gostou desses anos que passaram?
H.J. - A SIC tinha-se apaixonado por mim. O problema é que chegou uma altura em que as pessoas que se tinham apaixonado por mim foram-se embora. A partir de certa altura, eu era um peso morto, estava ali deslocado.
G.S. - Que triste, não percebo porquê...
H.J. - Foi muito complicado. E culminou com a minha saída unilateral, nem despedido fui. Fui deixado cair. E isso é o pior que nos podem fazer. Também fui alvo de um desfalque de uma quantia louca por parte de um funcionário. Foi o ano do malfadado processo Casa Pia. E é engraçado que agora, como estou na RTP, costumo ir buscar muitos arquivos e tudo o que vou buscar é de anos anteriores a essa fase. É como se rejeitasse que aquele espaço de tempo existiu.
G.S. - A minha mãe disse-me o mesmo. Também rejeito um bocadinho certos anos porque fui considerada a menina de ouro da SIC, deram-me aquela importância toda e eu, depois, também pensava que a partir daí podia ter tido formação. Ou ter sido chamada para fazer uma novela...
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O Masterplan teve audiências elevadas quando foi exibido. No entanto, a Gisela acaba por ir para a TVI e participa no Big Brother Famosos 2 e chega a apresentar o programa A Hora da Gi...
G.S. - Sim. O meu único problema, se calhar, foi ter abandonado a SIC e ter ido para a TVI. Talvez haja erros de que só nos apercebemos depois. Mas, mesmo indo para a TVI, pensei que pudesse haver um convite. Sei que a nível televisivo teria muito para aprender, mas aprendia muito se tivesse ligada a pessoas do meio.
Se tivesse ficado na SIC teria construído uma carreira na televisão?
G.S. - O se é muito relativo na nossa vida, mas acho que poderiam ter-me dado uma oportunidade. Porque, às vezes, vejo certas pessoas a fazer certos filmes, certas séries, mas não me foi dada essa oportunidade. Se calhar, devia ter procurado um pouco mais, devia ter ido ter com as pessoas e não estar à espera de que as pessoas se lembrassem de mim. Mas não tive essa coragem...
Herman, acha que o potencial da Gisela em televisão foi de alguma maneira desperdiçado, uma vez que, na altura do Masterplan, ela era bastante popular?
H.J. - Acho que sim. É a parte cruel da televisão comercial. É uma máquina trituradora que deita fora seja quem for desde que não siga os seus intentos. As pessoas são usadas, mastigadas e deitadas fora. Obviamente que mais ainda do que o Masterplan foi o sucesso específico da Gisela. Podia ter sido muito potenciado, mas não aconteceu.
Encontra alguma justificação para isso?
H.J. - Esta profissão é sempre injusta. Karl Lagerfeld é que costuma dizer que quem quer empregos justos arranje um lugar nas repartições do Estado, no supermercado... coisas desse género, onde não se passa nada. Na televisão é tudo muito imprevisível. Tudo pode acontecer a qualquer momento, ou, pior ainda, tudo pode deixar de acontecer a qualquer momento.
G.S. - Já tinha tido outras experiências neste meio, já tinha tirado um curso de manequim, já tinha feito desfiles, viajado imenso. E este mundo para mim não foi uma grande novidade. Sempre soube que não podia comparar-me com o Herman José. As revistas é que nos fazem pessoas importantes. Não sou figura pública, fui uma pessoa conhecida num programa de televisão que teve muito sucesso.
Quando entrou para o programa o Herman perguntou: "Sabe no que se está a meter?" E a Gisela respondeu: "Sim." Sabia mesmo?
G.S. - Tinha uma noção, mas não tão profunda. Por isso saí bem. Tive pena, porque pensei que ia abrir-me mais portas. Via pessoas a entrar nos Morangos com Açúcar e comentava com a minha mãe: "Estás a ver, porque é que não me chamam?" E ficava revoltada. Nunca sabia dos castings e, quando sabia, não passava dali. Depois, perdi a vontade de ir, porque me apercebi de que eram sempre as mesmas pessoas a ser chamadas. Ou era a filha deste, ou daquele.
Que memórias guarda da Gisela?
H.J. - Ah, nós achávamos a maior piada.
G.S. - E eu sabia disso [risos].
H.J. - Acho que nunca contei isto [pausa]. Quando desististe do programa, piquei-te muito nesse dia porque achei que ias reagir ao contrário. Mas estavas muito cansada...
G.S. - Desisti por outro motivo. Não sei se devo dizer isto [pausa]. Infelizmente, chegou-me aos ouvidos de uma pessoa da produção [Endemol] que eu não iria ganhar. Estava extremamente cansada e para mim não era aquilo que ganhava semanalmente que me ia ajudar, até porque esse dinheiro eu ia gastando. Para mim o importante era ter o prémio final, sair do programa com uma vitória. E tinha noção de que era eu que ganhava. Antes de entrar no último programa do Masterplan eu já ia para desistir. Mas depois pediram-me para não o fazer em direto, para o fazer só no fim do programa. Se calhar pensavam que falando comigo me convenciam. Estiveram a falar comigo até às 6 da manhã, mas não cedi.
Qual foi a justificação para a produção do programa não querer a sua vitória?
G.S. - A rapariga da produção disse-me que o programa estava a ficar com custos elevados, que era para durar quase um ano, mas que havia ali qualquer coisa que não estava bem, que não me iam dar o prémio final. Eu estava com 60 mil euros na altura, porque ia acumulando conforme o meu tempo de permanência. E pensei: "O que estou aqui a fazer?" Eu já tinha aquele feitio, impulsiva, com a mania de responder a tudo e mais alguma coisa. Mas também era um esforço diário, constante, porque chegava a dormir três horas. Deixei de fazer a minha vida para fazer certas coisas que não gostava e tinha de sorrir e engolir. Chorei muito.
H.J. - [Ar de espanto] É a primeira vez que estou a ouvir isto...
G.S. - Entretanto, a pessoa que me deu a informação foi despedida, porque descobriram. Ela enviou-me uma mensagem do telemóvel da produção e foi assim que consegui provar. Quando fui para um dos diretos já sabia a votação: 81 para mim, 19 para a desafiante.
Sabia por antecipação o resultado das votações?
G.S. - Sabia. E quando surge o ecrã em que iriam aparecer as votações, pensei: "Bem, se for mesmo 81/19, fica provado que alguma coisa não está bem." E apareceu. Foi então que decidi desistir, porque sabia que o próximo passo era tirarem-me dali. E estava farta de ter certas pessoas à minha volta...
Refere-se a quem?
G.S. - Não vou falar, porque já não me interessa. Foi uma pessoa. Por isso é que fui para o Big Brother, porque sabia que ele ali não podia entrar. Mas decidi sair do Masterplan porque, para mim, estar ali mais duas ou três semanas e não ganhar não fazia sentido. Comecei a preparar terreno, a dizer que estava muito cansada, porque não sabia até que ponto aquilo que me tinham dito era verdade.
Arrepende-se de ter desistido?
G.S. - Não, porque sabia que me iam retirar do programa mais cedo ou mais tarde.
Mas chegou a ouvir da boca dos responsáveis deste programa que efetivamente não ia ganhar o concurso?
G.S. - Não, nunca o admitiram. Nunca admitiram que as votações estavam a ser manipuladas. Para mim, foram, porque tive essa informação e recebi a mensagem. Por ter sido um programa com muitos custos, por isso é que nem houve uma segunda edição. Porque envolvia toda uma equipa durante 24 horas. Era muito caro. E isso foi-me explicado por uma pessoa. É como se eu tivesse ganho, porque quem ganhou até foi uma concorrente também chamada Gisela, mas ninguém fala dela. Ganhou um prémio muito inferior ao meu. Fiquei triste, magoada, sentida e muito revoltada.
Está surpreendido com esta revelação?
H.J. - Não. Porque o mundo dos reality shows é um mundo virtual. Ninguém está à espera de que seja fiscalizado pela Comissão Nacional de Eleições. Depois inventaram uma coisa fantástica que são os votos na Internet. Cada um faz o que entender, põe um aparelho a gerar cem votos por segundo e depois ganha seja quem for.
G.S. - Isto faz-me lembrar... Quando tinha 18 anos e concorri a Miss Portugal. Lembro-me como se fosse hoje. A minha mãe disse-me: "A vitória está entre ti e outra pessoa. Queres ganhar? É só a mãe falar com uma pessoa." E eu disse: "Não, não faças isso. Se tiver de ganhar, ganho." Sempre pensei que tinha de conseguir as coisas por mérito.
H.J. - Se eu soubesse disso não tinhas saído. Nem me passou pela cabeça...
O que tinha feito, Herman?
H.J. - Tinha arranjado maneira de isso não acontecer. Porque era enterrar o programa, que foi o que veio mesmo a acontecer. A partir do momento em que ela saiu o programa ficou esvaziado. Foi uma má decisão. Normalmente, sou sempre consultado nos programas que faço ou conduzo, mas neste não. Era mesmo só apresentador.
Dilar Relvas (D.R.), mãe de Gisela - Eu disse à Gisela para falar com o Herman...
G.S. - Mas a produção não deixou.
D.R. - Não interessa. Eu disse-lhe: "Não seria melhor contares o que se passou ao Herman?" E ela disse: "Ó mãe, mas depois vou ter de dizer o nome da pessoa que me disse." E decidiu não o fazer.
Foi por isso que não falou com o Herman?
G.S. - Pois o meu problema era esse. Era pôr em causa a pessoa que me disse. Depois tive de dizer e cheguei mesmo a mostrar a mensagem. Esta pessoa já me conhecia há algum tempo e estava nas votações, enviava as cassetes todas as sextas-feiras e tive a certeza de que aquilo ia acontecer. Se fosse outra pessoa a dizer-me, se calhar ignorava, mas ela não ignorei. A minha vontade era ter entrado por ali dentro e ter dito tudo e mais alguma coisa, e não pude dizer.
H.J. - Há uma quadra do António Aleixo que devias ter ao peito: A Mentira para ser segura/ E atingir profundidade/ Tem de ter à mistura/ Qualquer coisa de verdade.
G.S. - Escreve, mãe.
H.J. - Ou seja, se quiseres vender bem uma mentira mete verdade lá dentro. O problema de qualquer julgamento ou processo é que verdade e mentira andam sempre misturadas. Quando me disseste que a tua relação com o Luís [namorado da Gisela na altura do programa] não era muito profunda, ninguém suspeitava. Não me passava pela cabeça.
G.S. - Sou uma grande atriz [risos]. No programa fiquei doente e tive de casar.
Mas foi um casamento a sério?
G.S. - Foi, teve de ser. Mas não me quero alongar sobre esse assunto.
Não quer falar do Luís?
G.S. - Não.
Um dos momentos altos do programa foi a discussão com a Sandra na viagem de ambas para Peniche. No YouTube, o vídeo conta com mais de 300 mil visualizações. Lembra-se deste momento?
H.J. - Claro que me lembro e, curiosamente, há dias estive a ver esse vídeo. Achei divertidíssimo [risos]. Foi um momento único em televisão. Agora, se calhar passava quase despercebido, porque hoje já assistimos a quase tudo, mas na altura foi um fenómeno.
G.S. - Na altura do Masterplan houve momentos muito complicados. Eu não chorava à frente das câmaras, mas depois ficava com as pernas a tremer e chorava. Não era com pena do que tinha feito, era dos nervos.
Ainda é abordado pelas pessoas sobre o Masterplan?
H.J. - Tenho uma história curiosíssima. Há uns tempos estive nos Açores e alguém disse-me: "Olha, Herman, foi ali naquele lago que a Gisela fez chichi" [risos]. Foi um marco histórico da mija da Gisela.
G.S. - Qualquer pessoa, quando está aflitinha, ou vai à mata ou vai à piscina. As pessoas é que não admitem, mas eu não tenho problemas em dizer.
Esperava que as desafiadores fossem tão longe?
G.S. - Pensava que elas entravam com mais calma, mas elas eram pagas para isso. Nunca pensei que a pessoa que me fosse desafiar entrasse com tanta violência.
H.J. - As outras eram mais brandas, era um faz-de-conta. Mas a Sandra foi verdadeiramente desafiadora.
G.S. - Tanto desafiou bem que apanhou [risos]. Não fiquei com remorsos do que fiz, não me arrependo de nada. Não fiquei com pena dela sequer. O pai dela também me ofendeu ao telefone, por isso é que aconteceu o que aconteceu. Ela foi muito malcriada.
Chegou a falar com a Sandra depois de o programa ter terminado?
G.S. - Não, nem pensar. Daqui a uns dias vou estar presente num jantar em que vão estar algumas das desafiadores, com quem mantenho uma relação de amizade. Que eu saiba a Sandra não foi convidada. Mas se for fica lá no cantinho dela, não vou meter conversa e também não me vai causar qualquer tipo de constrangimento.
Era capaz de participar num programa deste género?
H.J. - Se não fosse famoso e vivesse num país com cem milhões de habitantes, sim. Se quisesse ser famoso e tivesse essa oportunidade, ai não que não a apanhava.
O Masterplan foi o primeiro reality show que apresentou. Gostou da experiência?
H.J. - Gostei imenso. Aquele ano, especificamente, foi um ano glorioso, em que tudo aconteceu. Achei que a partir daí ia ser tudo um encanto, mas depois as coisas começaram a piorar. De qualquer maneira, a minha perspetiva de ser famoso num país com dez milhões de habitantes não é grande coisa, devo dizer-lhe. Para mim, ser famoso é ter capacidade a nível mundial de ser conhecido. Por isso é que nunca me deixo afetar, porque viajo muito e no estrangeiro só existo quando um casal de imigrantes me vê.
G.S. - Mas acho que o Herman é conhecido em qualquer parte do mundo.
H.J. - Sim, mas pelos portugueses. Não pelos de lá. Basta irmos para o Brasil para perceber como não existe. É impressionante...
Sente-se confortável com isso?
H.J. - Sim, porque nunca me sinto vítima da fama.
Passados dez anos, ainda é abordada na rua?
G.S. - É engraçado, porque as pessoas ainda me conhecem. Há bocadinho, fui beber café e começaram logo a meter-se comigo. Em todo o lado, é incrível. Dizem: "Conheço-a de algum lado." Já não sei o que hei de dizer e respondo: "É normal"... quando eu falo lembram-se imediatamente. E também se lembram da minha mãe.
H.J. - A Gisela faz-me lembrar um fenómeno de popularidade que aconteceu precisamente dez anos antes de ela ter entrado para o Masterplan, que foi a Ruth Rita que apresentou comigo a Roda da Sorte. E até fisicamente são as duas muito parecidas. Era uma miúda normalíssima, mas tornou-se num fenómeno de popularidade na altura.
Entretanto, a sua vida profissional mudou drasticamente...
G.S. - Abri uma loja de bijutaria e acessórios de moda na Bobadela, que era o meu espaço. Chegava a ficar lá até às três da manhã. Mas acabou por fechar porque o administrador do espaço fugiu para o Brasil com o nosso dinheiro. Nunca mais soubemos nada dele.
E depois disso?
G.S. - Fiz dois cursos, porque tenho de estar sempre em movimento. Tirei o curso de delegada de informação médica. Trabalhei durante algum tempo nessa área, mas é muito cansativo e desgastante. E tinha de esperar pelos médicos, o que é uma falta de respeito para com o próximo estar três horas à espera. É uma falta de respeito.
H.J. - Pois, o delegado de informação é o elo mais fraco, é sempre o último a sair.
G.S. - Sempre! Agora nem tanto, mas na altura era. Depois tirei o curso de mediadora de seguros e assim estou. Vou fazendo marcações com clientes e pronto.
Sente-se realizada profissionalmente?
G.S. - Não, não me sinto. Mas sei que ainda tenho bons anos para me surpreender com outras coisas.
Na televisão, por exemplo?
GS - [Suspiro] Era bom. Era excelente. Mas noutro reality show não. Se o Herman aceitasse apresentar... [risos] se calhar até ia.
H.J. - Não, agora sou eu o elo mais fraco. Perdi o encanto pelos reality shows. Sou um pequeno assalariado e espero continuar assim com esta vida.
NTV
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