Cresceu a sentir-se um patinho feio, apesar de garantir que tinha espelhos em casa. Quis ser professora de Educação Física e chegou à televisão quase por acaso. Garante que, apesar de bem paga, a fama não lhe subiu à cabeça. Não canta nada e receia que Moura dos Santos lhe chamasse "azeiteira" no 'Ídolos'. Está cansada de ser a miúda gira das novelas e gostava de fazer um papel dramático, porque sente que tem capacidade para isso. Cláudia Vieira responde a tudo. De corpo inteiro.
Há alguma música que ache que sabe cantar minimamente e com a qual poderia ir ao Ídolos sem ser considerada um "cromo"?
(risos) Ui. Sem ser um cromo? (pausa) Isto começa bem (risos). Não costumo cantar nunca. É quase uma fobia. É engraçado colocar-me essa pergunta porque já tive esta conversa com o professor de canto do Ídolos. Há pessoas que têm paranoias, que acham que não têm a mínima vocação para cantar e depois até se revelam.
Acha que pode ser o seu caso?
Gostava de perceber se é o meu caso. Não canto nunca. Ando a cantarolar pela casa, às vezes, mas nunca é mais do que isso. Estou a ouvir música, que é uma coisa de que gosto muito, e dou por mim a cantarolar. Mas essa é a única aproximação que tenho à música. Não mais do que isso. Até porque, apesar de a música ser importante na minha vida, não lhe dou a devida atenção. Dou-lhe um exemplo: nunca sei uma letra do princípio ao fim. Não me lembro. Não tenho qualquer capacidade.
Nem aquelas músicas infantis que todas as mães sabem desde sempre? A Maria [a filha] não lhe pede essa atenção?
Pois, tenho sido colocada à prova agora, é verdade. Entro nessa tentativa, mas sinto sempre que me falta o fôlego e a capacidade para o fazer. Não é bem uma mágoa, mas é uma coisa que gostava de fazer, de aprender a trabalhar as cordas vocais.
Portanto, não há uma música que pudesse apresentar decentemente no Ídolos...
(risos) É que o Nuno foi muito taxativo. Cantar uma música sem ser cromo. Acho que ia logo parar aos cromos. Não havia volta a dar.
Não, mas não quero que o Manuel Moura dos Santos lhe chamasse azeiteira. Longe de mim tal ideia...
(gargalhada) Talvez alguma música do Abrunhosa, que são mais sussurradas. Talvez, Se Eu Fosse Um Dia o Teu Olhar.
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Muito bem, havemos de testar isso com o jurado Pedro Abrunhosa. Tinha saudades do Ídolos?
Muitas. Foi um programa em que me envolvi completamente. Entrego sempre tudo de mim. Mas no caso do Ídolos foi uma entrega diferente, foi um estado diferente, um momento muito especial. Foi no castingdo Ídolos que descobri que estava grávida; estreei-me como apresentadora no programa Ídolos. Tenho um ótimo relacionamento com a produtora, a Fremantle. Foi uma fase muito especial para mim, já para não falar da amizade e cumplicidade que cresceram com o João [Manzarra]. Diverti-me muito, embora tivesse havido sempre momentos de muita tensão. Na primeira edição do Ídolos nunca me senti verdadeiramente confortável.
Sentiu nessa altura que podia não ser talhada para a apresentação?
Senti. Era um grande risco. A SIC tinha-me contratado também com essa valência. O meu primeiro projeto na SIC foi a novela Podia Acabar o Mundo e Ídolos foi o primeiro como apresentadora. As coisas podiam falhar. E senti essa pressão. De alguma forma, já tinha um nome a defender. Por mais pequena que a minha carreira fosse, tinha vindo sempre a subir.
E já na altura a sua contratação foi a mais sonante da SIC, com muitos comentários sobre o seu ordenado elevado...
Sim, é verdade, escreveu-se muita coisa. Quando me convidaram para apresentar o Ídolos, disse que não. Que é uma coisa estranhíssima, porque era uma grande oportunidade. Mas quando o Nuno Santos, na altura era o diretor [de Programas da SIC], me disse que queria falar comigo e que tinha um desafio, disse-lhe logo para ele não vir com projetos de apresentação. E disse-lhe que provavelmente não tinha qualquer aptidão para a tarefa. Depois lá pensei um bocadinho e porque não? A vida é feita de apostas, de arriscar um bocadinho. Mas tive muito medo. E nos primeiros castings perdi-me um bocadinho. Repare, o João tem muito à vontade. Já tinha nessa altura. Ele é muito bom no improviso e no contacto direto com as pessoas.
Ofusca?
Ofusca, ofusca. Na fase dos castings então, eu senti que estava ao lado dele, não que fosse a apresentadora com ele.
Conversaram sobre isso?
Sim, conversámos muito sobre isso.
Mas sentia-se ofuscada por ele? Era uma coisa involuntária, ou achava que era uma forma de ele marcar território? Vocês não se conheciam bem ainda naquele momento...
(pausa) Cometi o erro de tentar ser como ele. O João é diferente de mim. A interação do João com os concorrentes é muito à base de palhaçadas. Eu não estava nada preparada para ser assim, mas cometi o erro de tentar ser como ele. E senti-me mal com isso. Não tinha graça nenhuma. A reação das pessoas até era diferente comigo do que com ele. As pessoas não estavam à espera que eu fosse assim.
Isso baixou a sua segurança, que na altura, ainda por cima, não era muito elevada?
Nessa altura, sim, baixou. Mas foi temporário. Tenho uma coisa que joga muito a meu favor: consigo pôr as coisas em perspetiva. Consigo colocar-me de lado e avaliar o que estou a fazer. E pensei que não tinha de seguir o caminho do João. Para isso está lá ele. E quando me encontrei, o que só aconteceu lá para o último casting, as coisas melhoraram muito. E na segunda edição já estava mais confortável no meu registo. Porque gosto muito de comunicar e tenho muito à vontade com pessoas que não conheço de parte alguma.
E hoje já não se sente ofuscada pelo João?
Não, hoje não. Partilhamos os dois o palco. Temos coisas comuns, somos os dois um bocadinho palhaços, mas já não sinto qualquer incómodo. Nem há qualquer rivalidade.
Nos diretos é completamente diferente. Aí não há rede nenhuma...
Pois, não há. E esse é o meu maior medo.
Porquê?
Tenho medo de dizer um disparate e ir parar ao YouTube (risos).
"TENHO OS MEUS CONCORRENTES PREFERIDOS, CLARO"
A Cláudia veste por completo a capa da apresentadora ou tem preferências?
Tenho, claro que tenho (sorriso). Estou sempre a torcer por alguém. E chego a comentar com os meus familiares para ligarem, para votarem (risos). É inevitável, temos sangue a correr nas veias. Vivemos aquele momento intensamente. Até porque nós acabamos por conhecer os concorrentes um bocadinho melhor do que o público, portanto, é natural o desejo de querer que este ou aquele concorrente vença o programa.
Quer revelar aqui se ganharam os seus preferidos?
(risos) Não vou abrir o jogo.
Vá, vá lá. Filipe ou Sandra?
(gargalhada) Não vou dizer. Não posso dizer. Mas posso dizer-lhe que a minha maior preocupação foi que os concorrentes não notassem os meus desejos. Isso para mim era importante. Os concorrentes não podem perceber que os apresentadores têm favoritos. Ainda que tenham. É natural.
Muito sinceramente: acha que a esmagadora maioria dos concorrentes acha mesmo que sabe cantar ou vai lá pela graça, pela vontade de aparecer na televisão?
(pausa) A esmagadora maioria dos concorrentes acha que sabe cantar. Sem dúvida alguma. Mesmo. Até podem achar que não virão a ganhar, mas acreditam que têm características, que têm condições e talento para participar e passar da primeira fase. Todas as pessoas em determinado momento da sua vida, qualquer que seja o seu talento, sentem que têm qualquer coisa, sentem que são especiais.
Em que momento da vida é que a Cláudia sentiu que era especial?
(pausa) Não sei, mas sempre senti que era de relacionamento muito fácil. Há aquelas pessoas que são bicho-do-mato e há outras que se relacionam com qualquer tipo de pessoa. Eu sempre fui assim, sempre gostei muito de pôr em prática as minhas ideias, a minha vontade.
Adolescente rebelde, reivindicativa?
Sim. Mais reivindicativa do que rebelde. Sempre fui tranquila, nada revoltada.
Boa aluna?
Média. Nem grandes notas nem negativas.
E sei que teve uma infância feliz...
Sim, muito feliz. Vivi numa casa ótima, com um grande espaço exterior, com a minha avó por perto, com os meus pais, os meus irmãos, os meus primos.
Onde foi isso?
Em Loures, quando não havia tantos prédios. Eram muito mais quintas. E cresci nesse meio. Lembro-me de a minha mãe estar a fazer o almoço e dizer que lhe faltava uma alface e ir buscá-la à quinta. Lembro-me de acordar de manhã e ir buscar figos, que estavam fresquinhos, pingo-de-mel e essas coisas deliciosas (sorri). Valorizo imenso isso e tenho pena de que a Maria, que está quase a fazer dois anos, tenha muito pouco contacto com isso. De vez em quando vai a casa da minha mãe e está lá um pouco, mas já é uma quinta completamente diferente. Antigamente, a quinta tinha cavalos, coelhos, patos, tinha uma série de animais. Hoje já não é a mesma coisa. Tem coelhos, cães e gatos. E a Maria adora.
Mas deixe-me voltar atrás: quando sentiu que tinha talento, que podia ser especial?
Não sei. Sempre fui muito ativa, delegada de turma nas escolas... Sempre fui daquelas miúdas que queriam fazer coisas, fazer acontecer, muito dinâmica. E ocupar o meu tempo de uma forma completamente louca, muito mais do que é a possibilidade das horas do dia. Sempre fiz muito desporto, em várias modalidades. Fiz ballet, taekwon-do, atletismo, ginástica. Andei na música, aprendi a tocar clarinete. E fiz patinagem. E fazia tudo ao mesmo tempo, saía de umas coisas para as outras.
Nunca equacionou uma carreira desportiva?
Uma carreira no desporto talvez não, mas a minha ideia durante muito tempo era ser professora de Educação Física. Jamais me via a trabalhar em televisão. Tudo na minha vida foi acontecendo de forma desestruturada. Pela primeira vez, hoje, tento controlar as coisas da minha vida. Mas sem sucesso, tudo me escapa um bocadinho. As coisas vão acontecendo.
"ATÉ AOS 17 ANOS, SENTIA-ME UM PATINHO FEIO"
Mas quando chega aos Morangos com Açúcar, na TVI, foi por acaso?
Sim, completamente por acaso. Não queria nada ser atriz. Já estava na L'Agence nessa altura e fazia muitos castings de publicidade e agarrava muitos anúncios.
Mas começou a ir a esses castings porque a convenceram de que era bonita, porque queria ganhar dinheiro ou porque se deslumbrava com o chamado "barulho das luzes da ribalta"?
(sorriso) Pelas duas primeiras. Porque me convenciam de que era bonita e me perguntavam porque não arriscava...
Convenciam-na de que era bonita? A Cláudia era daquelas jovens que achavam "ai, não, não sou bonita"...
Era um bocadinho assim, era.
Não me diga que se achava um Calimero...
Um bocadinho, sim.
Já percebi, lá em Loures havia cavalos e patos na quinta, mas não havia espelhos...
(gargalhada) Havia, havia, mas eu não dava importância alguma aos espelhos. O lado prático das coisas era tão mais motivante para mim que não perdia muito tempo com o que ia vestir. Vestia qualquer coisa e pronto. Era muito alta, muito magrinha, não achava que fosse gira.
Mas não lhe diziam isso? Não tinha rapazes atrás de si?
Sim, sim, mais tarde. Só aos 17 anos é que comecei a valorizar-me um bocadinho. As meninas começam a ser vaidosas aos 12 ou 13, mas eu não. Nessa altura, achava que era um patinho feio. Usava umas calças por baixo das calças de ganga por causa dos complexos de ser tão magrinha (sorrisos).
Mas pronto, lá tinha amigos que a convenceram de que tinha uma boa imagem e que devia tentar o mundo da moda e da publicidade, certo?
Sim, diziam-me que tinha jeito para comunicar, que tinha boa imagem. Comecei a ter convites para agências de moda logo aos 13 ou 14 anos. A minha mãe achava muita graça e ficava superbabada. Eu dizia-lhe sempre: "Mãe, nem penses, não sou capaz de andar maquilhada e com uns sapatinhos todos bonitos ou cortarem-me o cabelo!" Tinha horror a isso. E, de facto, isso só aconteceu aos 18 anos.
Lembra-se do seu primeiro anúncio?
Lembro-me, foi do McDonald's, tinha de jogar ténis sozinha, tinha de correr sozinha, enfim. A mensagem era que tudo na vida só fazia sentido a dobrar. Era uma promoção do tipo "pague 1, leve 2". E foi assim que tudo começou. Lá comecei a ganhar algum dinheiro extra, que era sempre bom, para não ter só o dinheiro da mesada dos meus pais, e poder comprar as minhas coisas.
Era muito independente?
Extremamente. Os meus pais nunca me ofereceram nada daqueles caprichos da juventude. As minhas roupas, as minhas coisas, foram sempre compradas com o meu dinheiro. Comprei a minha acelera, comprei o meu carro.
Qual foi o seu primeiro carro?
Foi um jipe Samurai que parecia um fogão, com a parte de cima branca (risos).
A sua independência levou-a a sair de casa cedo?
Não, isso não. Esse miminho sabia-me bem. Fui-me deixando estar, mas sempre muito independente. Nunca pedia dinheiro aos meus pais para nada.
E os Morangos?
Pois, os Morangos. Eu fazia muita publicidade porque agarrava muitas campanhas, mas sentia alguma falta de formação e achei que formação como atriz seria importante. Mas, note-se, não queria ser atriz, mas achava interessante fazer para mim. Quando tive essa conversa na agência, eles disseram-me para tentar o casting dos Morangos com Açúcar, que estava a ocorrer naquela altura. Fui e fiquei. E aprendi imenso.
Foi um sucesso...
Sim, foi o sucesso que toda a gente sabe.
Deslumbrou-se?
Não, já era crescidinha.
Isso não quer dizer nada. Muitos que por lá andaram deslumbraram-se...
Sim, mas eu tinha os pés bem assentes na terra. Quando soube que tinha ficado com o papel, liguei imediatamente aos meus pais. "Pais, fiquei nos Morangos com Açúcar." E eles responderam-me: "Ah, boa!" Responderam-me como se eu fosse ali ao fim da rua e voltasse ao final do dia. E insisti: "Vocês não estão a perceber, vou entrar nos Morangos, que é aquela série que está a fazer imenso sucesso na TVI. Vou ser protagonista, ainda por cima. Não sei se estou preparada." E a resposta da minha mãe, nunca mais me esqueço, foi: "Boa, filha, parabéns. Então, dedica-te. Toca a trabalhar." Assim, sem mais. Eles não embandeiraram em arco. Eles próprios não se deslumbraram. Esse lado terra-a-terra dos meus pais sempre foi tão forte que me ajudou a também ter os pés assentes no chão. Eu sei que eles estavam orgulhosos (e estão), mas tentaram puxar-me para a realidade. Nunca alimentaram o lado deglamour, o lado da fama.
Esse suporte foi essencial para si?
Sem dúvida. E foi também muito importante que eles não fossem do meio. Porque às tantas os meus amigos queriam todos falar daquilo que eu estava a viver. E era importante que em casa, pelo menos, mantivesse tudo igual, tivesse esse banho de realidade.
"O MEDIATISMO É UM BOCADINHO ASSUSTADOR"
Este mediatismo trouxe-lhe muitas vantagens?
Trouxe, é claro que sim. Não posso dizer que não, era um disparate. Mas houve momentos neste caminho em que duvidei se estava preparada para ele.
Como assim?
Houve momentos de grande pressão. Tenho de estar sempre bem, sempre sorridente, sempre bonita. Estava e estou sempre sujeita a uma análise, a uma crítica, a um olhar observador. Não sou só eu, somos todos os que trabalham nesta área. Isso é um bocadinho assustador, sobretudo quando se está no início e se tem a cabeça no lugar. Um bocadinho assustador. Se vou ao supermercado, se acordei com olheiras, se vesti uma roupinha básica só para ir ao café, percebe? Não tem nada que ver com a análise profissional, essa faz parte do meu trabalho, não me posso queixar. Mas estou a falar do meu dia a dia. E também não estou a queixar-me, até porque tenho noção que há colegas meus que estão sujeitos a uma pressão muito maior. Comigo, felizmente, as pessoas são muito simpáticas. Mas há sempre um olhar. Há sempre um comentário.
Perdeu liberdade?
Não quero ser injusta, até porque o meu trabalho deu-me muito do que tenho. Portanto, não vou por aí, mas sim, gosto muito de ter a minha vida, gosto muito de alimentar a ideia de que posso ter uma vida como teria se o meu trabalho tivesse menor visibilidade. Não escondo que gostaria de ter um bocadinho mais de privacidade. Repito, as pessoas não são desagradáveis comigo. Não estou a fazer género, não são mesmo. As pessoas são simpáticas, perguntam-me pela Maria, pelo Pedro, pelo Ídolos. Mas... (pausa) vamos lá ver se consigo explicar isto sem parecer mal-agradecida ou parecer que estou a armar-me em diva ou vítima, que são coisas que não sou. Há alturas em que não tenho disponibilidade para isso. Ou até vontade. As pessoas, mesmo as que têm uma vida profissional mais visível, não têm de estar sempre felizes, contentes e bem-dispostas (sorriso). Toda a gente é assim. Gostava, sei lá, de estar num concerto e não ter uma data de telemóveis apontados para mim para tirar fotografias. Ou de estar num restaurante e não sentir que há pessoas a comentar o que estou a comer (risos). Isso irrita-me, confesso. Não só por mim, mas porque às vezes estou com familiares ou amigos que acabam por levar por tabela.
Bem, tem, apesar de tudo, uma vantagem. A Cláudia vive com um homem habituado a isso, porque também é do meio [Pedro Teixeira, ator da TVI]...
Sim, e nós brincamos muito com isso (risos). O Pedro até costuma dizer, como está na TVI, que tem mais audiências, a maior parte dos olhares que nos deitam são para ele e não para mim. Nós há muito que não íamos ao cinema, porque não tínhamos tempo. Agora, com o fim das gravações de Rosa Fogo, fizemos um programinha e fomos ao Dolce Vita, ao cinema. E vieram muitas pessoas ter comigo. Mas muitas mais ter comigo do que com ele (risos)... e temos os dois uma novela no ar. Eu virei-me para ele e disse: "Vês, ninguém vê a tua novela"... (risos). Estamos constantemente com estas brincadeiras...
Veem muito o trabalho um do outro? São muito críticos?
Sim, sim (gargalhada). Por vezes, até somos agressivos na análise que fazemos ao trabalho um do outro. E devo confessar que mais facilmente digo ao Pedro que aquela cena que ele fez é péssima do que esteve muito bem. E ele comigo é a mesma coisa. Criticamos mais do que elogiamos. Somos sempre muito mauzinhos um para o outro, mas é no sentido de nos ajudarmos, temos ambos essa consciência. E digo que ainda bem que ele também é ator. Quando nós começámos a namorar, há oito anos, toda a gente dizia que não ia ser fácil porque éramos ambos do mesmo meio. E digo, felizmente somos ambos atores.
Sente que há uma grande curiosidade do público em relação à vossa vida privada?
Sinto e se calhar vou surpreendê-lo. Acho isso perfeitamente normal. As pessoas acompanharam a nossa vida enquanto casal. Nós nascemos na televisão, namorámos enquanto participávamos na mesma série, estive grávida em direto, as pessoas torceram para que tudo desse certo. É normal que queiram saber mais de nós. É perfeitamente normal.
Mas impuseram limites...
Não abrimos a porta de nossa casa. E durante muito tempo não demos entrevistas conjuntas, precisamente porque queríamos que falassem de nós enquanto profissionais e não como casal. Mas temos uma boa imprensa. A imprensa respeita-nos. Mas acho que tem que ver com isso. As pessoas torceram pela nossa felicidade. Nós vamos na rua com a nossa filha e ninguém nos pergunta "como é que se chama?". Toda a gente diz "é a Maria" ou "ai que grande que a Maria está".
Gostava de contracenar com o Pedro numa novela?
(sorriso) Ia ser complicado porque íamos estar sempre a exigir de mais um ao outro. E isso já não era saudável. A contracena é fundamental e o Pedro tem uma forma de ver as coisas distinta da minha. A postura dele é muito diferente da minha. O Pedro é uma pessoa muito mais reservada, muito mais fechada para quem não conhece do que eu.
"O PÚBLICO DE NOVELAS NÃO É EXIGENTE"
Muito bem, recentremos a conversa no lado profissional. Fez novelas na TVI, com a Plural. Agora está na SIC, com a SP Televisão. Sente que cresceu profissionalmente nesta nova etapa?
Sim, claramente. Embora eu esteja a trabalhar na SP com pessoas com quem tinha trabalhado na Plural. Havia um cansaço na Plural e uma vontade de fazer bem feito e diferente na SP. Sinto isso. Tenho um relacionamento ótimo com os responsáveis das duas produtoras. Mas na SP é tudo mais fresco, mais natural, mais saudável.
Também há a pressão de haver menos produções em simultâneo, coisa que também deve ajudar...
Sem dúvida que sim. Mas o facto de haver menos produções podia fazer que houvesse mais tempo para cada uma delas. Mas não. Na SP também é tudo a correr (risos). Tempo é dinheiro. Mas na SP há mais preocupação com tudo o que temos. Como sabe, há uma grande diferença entre fazer novelas e fazer séries. E a sensação que tenho é que as novelas da SP têm um bocadinho o nível das séries. Puxa-se por isso.
Mas as novelas da Plural (TVI) continuam a ser globalmente mais vistas. O público não valoriza essa diferença de qualidade que aponta?
O público de novelas não é muito exigente. Mas o público da SIC é muito exigente. Quem gosta de novelas, vê novelas. Pode gostar mais desta ou daquela, mas vê porque está habituado. Mas para quem está habituado a ver a SIC é preciso mais para o chamar para a novela. Tem de ter qualidade.
Rosa Fogo tem qualidade?
Tem. Tem muita qualidade.
Mas só em Março é que a novela disparou, com o novo painel de audiências da GfK. Como é que tem visto esta polémica com as audiências?
A resposta mais politicamente correta é dizer que nós trabalhamos para o público, procuramos fazer o melhor possível e que as audiências não nos interessam. É uma treta muito grande. Nós queremos que a nossa novela tenha mais público, o maior número de público, que seja líder de audiência. Isso não é desprezível. Os atores querem isso, naturalmente, preocupam-se com isso, trabalham para isso.
Mas Rosa Fogo sucedeu a Laços de Sangue, que deixou a fasquia muito alta por ter vencido o Emmy.
Precisamente. E muito se escreveu sobre Rosa Fogo e muito disparate se disse. Rosa Fogo não está a ser nenhum flop. Quando o Laços começou tinha exatamente a mesma audiência que Rosa Fogo. Quando Laços de Sangue disparou foi no mesmo momento que Rosa Fogo, independentemente de ser agora outra empresa a medir as audiências em Portugal. Mas há aqui uma questão importante: a tradição de ver novelas está na TVI. O público da SIC não estava habituado a ver novelas portuguesas. Só com Perfeito Coração é que esse hábito começou a enraizar-se. A minha mãe tinha grande dificuldade em deixar de ver a TVI, foi difícil ela largar as novelas da TVI (risos).
Já largou?
(gargalhadas) Bolas, se não tivesse largado para ver a filha, nem sei o que lhe fazia (risos). Portanto,Perfeito Coração e Laços de Sangue conseguiram realmente roubar espectadores à TVI. A Rosa Fogo veio a seguir a uma novela fabulosa. Eu própria segui a novela. E quando digo eu própria não é que isso seja um atestado de qualidade. É porque, tendo eu sempre tanto que fazer e dando primazia a acompanhar os meus trabalhos, seria natural que não seguisse esta com tanta atenção, já que não participei nela. Mas não, fiquei completamente agarrada.
Rosa Fogo foi uma novela mal-amada?
Um bocadinho. Foi um patinho feio. Uma espécie de projeto intermédio para ocupar antena entre duas coproduções da Globo. Depois de Laços de Sangue e antes de Dancin' Days. Foi vista assim por quase toda a gente. Pelo público, porque já há muito se ouvia falar dela, pela imprensa, pela própria SIC e SP. Os próprios atores encararam este trabalho como uma coisa passageira, como se dissessem "olhem, vamos agora fazer isto, a novela segue dentro de momentos". Isso para mim, que me apaixonei completamente pela minha personagem e gostei imediatamente da história, foi um bocadinho triste. Não posso, porém, deixar passar este momento sem elogiar a coordenação do projeto, a Patrícia Sequeira, de quem sou fã completa. Ela foi excelente, superpreocupada, meticulosa, deu-nos muita força. E qualquer ator, seja ele bom ou não, precisa sempre dessa força.
"ADORO QUE ME PONHAM À PROVA"
Sente-se uma boa atriz?
(pausa) Sinto que tenho evoluído muito. Fiz uma coisa nesta novela que nunca tinha feito em qualquer outro projeto que foi uma entrega descomplexada, sem hesitações. Arrisquei muito. Dei muito. Vamos aprendendo à medida que vamos fazendo, é natural. Há pessoas que qualquer coisa que façam já é muito. No meu caso, para que qualquer coisa que faça seja intensa e forte, preciso de fazer muito, porque parece sempre menos.
Sente que o público exige muito de si?
(pausa) Sim.
Por ser bonita?
(sorriso envergonhado) Não sei se é por ser bonita. Fala-se muito da minha beleza. Mas qualquer profissional gosta mais quando falam de si pelas suas qualidades profissionais. Eu não fujo à regra.
Mas não nega que esse fator está sempre presente. Não nega, tipo diva: "Eu, bonita? Não sou nada, que exagero!"...
(gargalhada) Não, não sou assim. Nada disso. Fico é muito satisfeita quando falam da atriz que sou. Sinto que o público facilmente faz uma análise da ideia que tem de mim. E a ideia que tem de mim vem do meu primeiro trabalho em ficção, nos Morangos com Açúcar. Sinto que tenho de fazer muito para mostrar que sou capaz de fazer coisas diferentes. Tenho características que me permitem fazer qualquer personagem.
O estigma de miúda gira é um fardo?
A pergunta tem piada. Mas, sim, a resposta é sim: o estigma de miúda gira é um fardo. Um bocadinho. Veem-me sempre como uma mulher bonita, uma boneca. E acho que posso fazer qualquer personagem, desde uma miúda rural com óculos fundo de garrafão a uma vilã, a uma personagem histórica. Sou bastante versátil e gostava de ser mais do que a miúda gira.
Gostava de fazer uma personagem que exigisse mais de si do ponto de vista dramático? Uma mulher deficiente, por exemplo, uma jovem viúva, uma reclusa...
(abre os olhos) Ena, que violência! (gargalhada). Mas sim, adorava. Adorava que me pusessem à prova. É disso que gosto. É de desafios que preciso.
NTV
E a maior prova disso é ela continuar a participar em novelas, após inúmeras péssimas prestações.
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