O patrão da SP Televisão, António Parente, está satisfeito com os seus produtos, mas garante que sem mais trabalhos, o futuro terá de ser diferente.
Cinco anos após o início da SP Televisão, que balanço faz?
Quando comecei sabia que ia ser difícil. Tinha deixado a NBP [actual Plural] bem estruturada, no seu melhor, e começar uma produtora quando a ficção era dominada por essa empresa era um desafio muito grande. De qualquer forma, a linha que traçámos no início foi fazer a diferença pela qualidade.
Conseguiu fazê-lo?
Sim. Quer nas séries quer nas novelas introduzimos um modelo de qualidade diferente do que existia. Hoje, a ficção feita na SP, para além de ser líder, é distinta na qualidade.
Este início foi mais fácil do que imaginou?
Esteve dentro do que estava previsto. Sabíamos que íamos ter um caminho árduo a percorrer mas também que as pessoas que aceitaram o desafio de sair da NBP para começar a SP eram determinadas a fazer diferente e melhor.
‘Dancin’ Days’ é líder de ficção. Imaginava chegar à liderança tão rapidamente?
A liderança veio no tempo certo. Quer nós quer o cliente estamos satisfeitos e de parabéns. Há outra coisa que é importante explicar: em ficção a qualidade faz-se com investimento. É fácil perceber que, quanto mais vezes forem repetidas as cenas, quanto maior for o investimento nos cenários, quanto mais experiência tiverem os actores, melhor.
É isso que acontece na SP?
Sim. Mas lutamos com um problema importante: a margem que temos é inferior à concorrência porque fazemos uma novela e eles fazem quatro. Eles têm mais meios para aplicar no produto. Nós estamos limitados pelo facto de a nossa capacidade não estar completamente ocupada. O trabalho que temos não é o que precisávamos para estarmos mais confortáveis…
Do que é que precisam?
De uma segunda novela para resolver uma série de situações, nomeadamente a dos actores. Um actor que trabalha numa novela da SP naturalmente não terá trabalho a seguir porque não podemos repetir os mesmos actores.
Há perspectivas para uma segunda novela?
Tentamos convencer todos os dias o nosso cliente SIC da importância da segunda novela. Mas, como se sabe, isso hoje está ligado à disponibilidade para investir na grelha. É uma situação que aspiramos a ter o mais breve possível, mas também não deixamos de compreender o nosso cliente em relação a uma decisão que é difícil nos tempos que correm.
A segunda novela já esteve mais perto de acontecer…
A situação degradou-se pela via do investimento, já que tem havido uma diminuição constante do mercado da publicidade, mas também acho que a situação se altera quando as audiências da novela são cada vez mais decisivas para a liderança da própria SIC. A SIC consolidaria a liderança com uma segunda novela.
A SP produz melhor novelas do que a Plural?
É difícil dizê-lo. O que posso dizer é que somos uma equipa muito empenhada em melhorar todos os dias.
Muito se tem falado da crise da ficção da Plural. Partilha dessa ideia?
Considero a Plural uma grande e boa empresa, que tem bons produtos. Tirando isso, é muito difícil pronunciar-me. Estou numa situação complicada porque, ao fazer observações menos correctas, estaria a incriminar-me em relação àquilo que fiz na Plural.
Mas a Plural de hoje é substancialmente diferente daquela que deixou…
Admito que sim. A grande diferença está no envolvimento de algumas pessoas.
A SP, por ser mais recente, trabalha com mais entusiasmo e a Plural, por ser uma empresa já instalada, vive um período de acomodamento?
Diria que a Plural está habituada aos êxitos, nós estamos a lutar por eles.
E não receia que a SP, à medida que os êxitos forem surgindo, também se torne acomodada?
Não porque temos a grande capacidade de motivar todos os dias as pessoas e dar-lhes objectivos muito definidos e ambiciosos. Dificilmente baixaremos os braços.
A Plural estaria diferente se ainda lá estivesse?
Não posso dizer isso.
Mas teria feito diferente?
Tenho o meu estilo, e é difícil dizer se é melhor que o dos outros. Além disso, não estou lá, não sei o que é que lá se passa. Sei o que se passa na SP e o objectivo é levá-la a fixar-se na liderança da ficção. E vamos consegui-lo.
Além da SP e da Plural, há mercado para outra grande produtora de ficção?
Em constância? Não. Só faz sentido existir uma produtora se tiver a possibilidade de fazer trabalho contínuo. Neste momento, não há trabalho suficiente que o justifique.
A crise obrigou-vos a diminuir preços?
Muito. Cortámos em tudo aquilo que eram custos sem reflexo na produção. Vivem-se momentos extraordinariamente difíceis. Além disso, sentimos uma diminuição do trabalho. A situação da RTP criou-nos alguma instabilidade e, como já referi, estamos a trabalhar com uma capacidade muito abaixo do que precisávamos.
Quanto custa neste momento um episódio de uma novela?
Em Portugal, é muito barato. Neste momento, é cinco a dez vezes mais barato do que o mesmo produto no Brasil.
Se disser entre 30 a 40 mil euros falho por muito?
Não. E, como pode ver, fazer ficção por esse preço obriga a um esforço muito grande.
Torna-se desconfortável?
É o mercado que temos e as empresas têm de se adaptar a ele. Agora, é verdade que faria melhor ficção com um preço mais elevado.
A RTP tem sido um dos grandes clientes da SP…
Tem sim, ao lado da SIC.
Qual é a sua opinião sobre o processo de privatização?
Estamos angustiados. Este período de indefinição tem como reflexo imediato a falta de encomendas e estamos expectantes em relação ao futuro. O que a SP tem de fazer é esperar por uma decisão e confiar que a solução não ponha de lado a ficção nacional.
Está com receio de perder um cliente, portanto.
Não. Estou expectante…
Mas é uma possibilidade…
Essa possibilidade existe se a nova RTP, seja em que moldes for, deixar de dar continuidade à ficção portuguesa.
Mas a RTP também pode optar por encomendar a outra produtora...
Pois, pode fazê-lo. Mas volto a referir que nós, para além da qualidade, fazemos produtos a preços competitivos.
A SP continuaria a ter futuro sem a RTP?
Não seria a mesma SP. Esta está feita para trabalhar, no mínimo, com duas linhas de produção: a novela da SIC e a série da RTP. Ao desaparecer a série, ou conseguimos uma segunda novela na SIC ou então o futuro terá de ser diferente.
A SP ganha mais dinheiro com a RTP ou com a SIC?
Posso-lhe dizer que, apesar de fazermos um produto diferenciado e conseguirmos liderar as audiências, ainda não conseguimos ganhar dinheiro. A SP é uma empresa equilibrada mas não é uma empresa que ganhe dinheiro.
Está interessado na privatização da RTP, através da Madre [empresa que é também accionista da SIC]?
Temos uma forte ligação à SIC e nunca faremos nada que venha a prejudicá-la.
O facto de ser accionista da SIC traz vantagens na relação da SP com a SIC?
A vantagem é a de haver uma ligação mais forte. Mas isso faz com que sejamos mais responsabilizados pelos produtos que fazemos.
Em que projectos está a SP neste momento a trabalhar?
No ‘Dancin’ Days’, na novela que se seguirá na SIC, e num outro projecto, que aguarda decisões da nova administração da RTP, que será uma série ambientada num hospital.
Pode adiantar alguma coisa sobre a próxima novela?
Não posso adiantar muito. O cliente já tomou opções, é a única coisa que posso dizer.
Costuma ver as novelas e séries da SP?
Vejo internamente, até que o produto esteja estabilizado, antes de irem para o ar. Mas em casa também há novelas que acompanho. Vejo o ‘Dancin’ Days’ [SIC]. É uma novela que vale a pena.
O que se vê a fazer daqui a dez anos?
Gostava de trabalhar até ao último dia da minha vida. Vejo--me a fazer mais novelas, mais séries, a ter uma empresa melhor, com mais qualidade e, sobretudo, ajudar a desenvolver esta actividade.
PRÉMIOS EMMY: RECONHECIMENTO
António Parente diz que o Emmy para ‘Laços de Sangue’ foi "motivante para a estrutura da empresa".
Quanto à nomeação de ‘Rosa Fogo’ para a edição deste ano, acredita que é "o reconhecimento da qualidade da indústria de ficção em Portugal".
O patrão da SP diz que "seria bom que esta indústria fizesse parte dos produtos apoiados e com interesse na agenda dos nossos embaixadores".
PERFIL
António Parente nasceu a 20 de Fevereiro de 1951 (61 anos). Ao lado de Nicolau Breyner, foi um dos fundadores da NBP, a primeira produtora de novelas em Portugal.
Em 2007, adquiriu a SP Filmes, empresa que deu origem à actual SP Televisão, produtora das novelas da SIC e de diversas séries da RTP.
É accionista da Impresa, dona da SIC, e empresário em diversos ramos de actividade.
CM
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