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28 de dezembro de 2012

Pedro Mourinho: "Não me passa pela cabeça chegar à direção de informação"

Desde os 8 anos sabia que queria ser jornalista. Aos 40, é um dos principais rostos da SIC e vai ter a seu cargo o novo noticiário das 20:00 de domingo. Pedro Mourinho recorda como chegou ao 'Caderno Diário', explica porque faz falta um magazine do mesmo género para formar mentalidades, faz fortes críticas ao governo, fala da infância e garante que ainda lhe falta muito para ser o Mourinho do jornalismo.

Escolheu os murais Marionetas de Merkel e Leis do Mais Forte para a sessão fotográfica desta entrevista. Porquê?

Tem muito que ver com o estado atual do país e o ânimo das pessoas em relação a tudo o que se está a passar em Portugal e à crise. De repente vemo-nos embrulhados numa situação que dificilmente esperaríamos, quase que passámos do 8 para o 80. Sabendo que a maior parte de nós não tem noção de como é que isso foi possível e também tendo noção de que não somos culpados. Isto é um bocadinho o retrato do que pensamos. Não destes governantes em particular, mas dos políticos em geral.

Num dos murais vemos o primeiro-ministro Pedro Passos Coelho retratado num cenário de filme de cowboys. Neste momento, em Portugal, impera a lei da bala?

Não. Aquilo é quase uma caricatura. A ideia que tenho é que de facto vivíamos acima das possibilidades, esse é um dado adquirido. Não sabemos é se são necessárias tantas medidas rigorosas para levar de novo o país ao sítio. Provavelmente sim, mas provavelmente também havia outra forma, procurando cortar mais na despesa sim, mas não tanto na despesa do Estado que diz respeito às pessoas, ou seja, na saúde, na educação, nas reformas, nos salários... e carregando nos impostos. Estamos a caminhar inevitável para o fim da classe média e, quando assim é, numa sociedade que supostamente tem de viver em democracia é muito perigoso. A crise afeta todos os sectores, a vida de todas as pessoas e afeta também uma série de classes e profissões. A de jornalista e a liberdade de imprensa correm muitos riscos nesta altura, quando as pessoas estão mais pobres.

Porquê?

A história diz-nos isso. Numa sociedade que é mais pobre, a democracia também o é.

Falemos então da sua carreira. Já agora, sente-se... o Mourinho do jornalismo?

[risos] Não, não. Tenho esse nome, herdei-o de família. Às vezes os meus colegas tratam-me assim na brincadeira. Mas ainda tenho muito para mostrar e para provar para chegar a esse patamar, se quisermos fazer essa comparação entre o jornalismo e o futebol. O Mourinho do futebol já conquistou tudo o que havia para conquistar. É preciso todos os dias pormo-nos à prova, tentar fazer coisas diferentes, que façam sentido e que ao mesmo tempo sejam criativas e eficazes. Quando chegar aos 50 anos e se olhar para trás e vir que fiz uma série de coisas que quero, posso dar-me por feliz. Mas vamos salvaguardar as distâncias.

O que lhe falta conquistar?

Falta-me tanta coisa... A partir de agora, ao ter um jornal novo ao domingo, às 20.00 - que é sempre um marco para qualquer um que trabalha na televisão, chegar ao jornal das oito da noite -, tenho menos uma coisa para conquistar [risos]. Mais do que apresentar, que é o que vou fazer, é coordená-lo, pensá-lo, e isso é importante para mim. Não há caminhos fáceis, mas espero que esta tarefa seja bem-sucedida. Estou muito empenhado nisso.

O registo que protagonizou na emissão especial de informação que a SIC fez no dia da comemoração dos 20 anos, com reportagens em movimento assinadas por si, vai ser repetido neste novo jornal de domingo?

Sim, irá ter um formato que é um segmento de 10, 15 minutos em que estarei sempre num sítio diferente, com temas que nesta altura estarão muito ligados à crise. Há um que já está feito, foi em Beja e tem que ver com os elefantes brancos de Beja, neste caso o aeroporto, a nova Escola de Tecnologia e Gestão, que custou 10 milhões de euros, e o parque de exposições. Tudo isto pode justificar algumas coisas em Beja, mas não deixa de ser um grande dispêndio, se calhar desmesurado em relação à região em causa. Servirão, com certeza, alguns interesses. É mostrar um bocadinho o espelho do país. A verdade é que se gastou muito em obras e chegou-se ao estado a que se chegou.

Como surgiu a ideia de remodelar a informação de fim de semana na SIC?

Foi uma decisão da direção da SIC, para dar força aos fins de semana, sobretudo ao domingo à noite, porque a concorrência é muito forte nos outros canais, principalmente na TVI, porque está lá o Marcelo Rebelo de Sousa. Foi para fortalecer o Jornal da Noite, porque é o dia em que as pessoas têm mais disposição para ver televisão, é o dia em que o auditório é mais rico em termos de estratos sociais, idades... há muita gente a ver televisão e a SIC quer ter um produto muito forte em termos informativos.

Como vai ser o noticiário, então?

Vai ser o magazine da SIC em termos informativos aos domingos. Vai ser um jornal diferente. Ao sábado, estará a Maria João Ruela ao almoço e à noite, e eu ficarei com os domingos. O Primeiro Jornal não sofrerá grandes alterações, o das 20.00 é que é personalizado. O que vou tentar é dar-lhe um bocadinho do meu corpo, tem um cenário novo, vou dar-lhe uma linguagem televisiva que de alguma forma seja inovadora.

Quando vão ocorrer essas mudanças?

Dia 6 de janeiro. Vamos ter logo no arranque reportagens à volta da crise, para explicar de que forma chegámos ao ponto a que chegámos. Mas também tocando noutros pontos, o desperdício alimentar, como é que as pessoas podem poupar mais... Vamos preocupar-nos sobretudo com a atualidade.

Vai ter rubricas?

Sim, uma de Jorge Pelicano que vai ter um convidado e explicará o que mudou nestes 20 anos. No meu caso, vou fazer reportagens, o que é bom porque tenho oportunidade de sair da redação, que é uma coisa que gosto de fazer também. Um projeto da Ana Sofia Fonseca que terá um convidado conhecido a responder à questão: "Quando eu for grande o que quero ser?" Para levantar o véu, vamos ter o Otelo Saraiva de Carvalho que queria ser ator. Vamos dar a atualidade, o assunto da semana, mas dando outros lados. Recorremos a uma tecnologia que foi a Sapo que desenvolveu, em que há um género de teia que junta as notícias da última semana e a partir daí estabelece-se uma correlação. Ou seja: temos um nome e depois essa tecnologia vai buscar todas as notícias relacionadas com essa personalidade. E vamos ter o Bernardo Ferrão e o Marcelo Crespo todas as semanas a explicar o que vem aí de importante na próxima semana.

Quanto tempo dura o jornal?

Uma hora e quarenta, mais ou menos. Tem havido muita discussão sobre quanto tempo deve ter um jornal, e de facto todos os jornais das oito têm uma longa duração, e isso influenciou a forma de se fazer jornalismo. O que tenho visto da SIC é que tem feito isso muito bem, porque é preciso puxar muito pela cabeça para fazer um jornal tão grande. Vamos trilhar um novo caminho, que seja eficaz e com audiência.

Foi o Pedro que escolheu o domingo ou deram-lhe esse dia?

O domingo foi-me dado, quer dizer, eu já trabalho ao domingo no jornal da hora de almoço, por isso seria uma escolha natural, até porque não há ao dia de semana muito espaço de manobra, e o Jornal da Noiteestá bem entregue à Clara de Sousa e ao Rodrigo Guedes de Carvalho.

E está preparado para competir com o Marcelo Rebelo de Sousa?

Com o Marcelo e com a Judite Sousa. Houve alturas em que o Marcelo não ganhou nas audiências, isso tinha que ver não só com o que ia para o ar na SIC nesse tempo... mas a Judite deu força ao próprio Marcelo. E nesta altura potencia ainda mais o comentador que ele é. É uma pessoa comunicativa e há muita gente que não quer perder pitada do que ele diz. O Marcelo, não decidindo nada, não é ex nem atual governante, é um verdadeiro opinion maker. Os jornais no dia seguinte vão sempre atrás dele. Tem muita força para a opinião pública e para os portugueses em geral. Não há aqui um... objetivo delineado de derrotar o jornal da TVI ao domingo. Quer dizer... se o conseguirmos, é ótimo em termos de audiências, mas temos noção de que não há caminhos fáceis. Este será um caminho complicado, mas queremos sobretudo aproximar os dois jornais e se possível vencer.

Gostava de ter o prof. Marcelo ao seu lado?

Quem não gostava... Mas se tivermos de escolher um produto similar para combater o Marcelo, o Ricardo Araújo Pereira seria o eleito. Porque consegue juntar uma opinião bem formada e com força a um humor raro em Portugal. Seriam os condimentos perfeitos numa receita contra o Marcelo.

E há a possibilidade disso acontecer?

Penso que não. Está muito distante, hoje em dia os Gato Fedorento, apesar de terem nascido na SIC, são quase inatingíveis. Fazem pouquíssimas coisas e escolhem muito bem o que fazem.

Quem é para si o melhor opinion maker do país? Marcelo Rebelo de Sousa, Miguel Sousa Tavares, Pacheco Pereira, Vasco Pulido Valente...?

O Marcelo é bom porque explica-nos muito bem as coisas, é muito fácil ficar a ouvi-lo e é um excelente comunicador. Não é que as opiniões dele representem depois alguma coisa, dali não saem decisões, provavelmente nem influências a decisões que possam ser tomadas. Há um leque de pessoas que dão a sua opinião em televisão e isso é bom. Na SIC Notícias temos muito bons, na Quadratura do Círculo, por exemplo, o próprio Miguel Sousa Tavares, que já tem muitos anos de televisão e que é uma pessoa que tem uma opinião que conta.

Mas tem algum preferido?

Gosto muito de ouvir o Miguel. [Pausa] O que eu gosto mais nos fazedores de opinião é o facto de serem espíritos livres, gosto de ouvir uma pessoa que não vai atrás da carneirada, no rebanho, que consegue ter uma opinião diferente das outras. É o caso do Miguel, acho que no caso do Marcelo é uma pessoa que nos explica muito bem o que está a acontecer. Não respondi, é verdade [risos]. Gosto de ouvir o António Costa como comentador político, ligado ao PS sim, mas gosto. Gosto do José Gomes Ferreira também.

A infância e o 'Caderno Diário'

Como é que aos 18 anos chega ao Caderno Diário, o noticiário para adolescentes?

Foi um caminho natural. Desde muito cedo que queria ser jornalista, desde o 8 ou 9 anos que me lembro de estar sozinho no quarto, era filho único, a fazer as minhas reportagens. Tinha um gira-discos antigo, punha as músicas a tocar e gravava numa cassete os meus programas e reportagens. E depois, não muito mais tarde, por volta dos 12 anos, surgiu em Portugal um boom das rádios piratas. Lembro-me de que eu e um grupo de amigos fomos trabalhar para uma rádio da Amadora e aí começámos a fazer um programa.

Foi a partir daí que começou a haver um contacto mais direto com os media?

Sim, contacto mais direto com a comunicação social, enfim, era uma rádio pirata, as condições eram diferentes das de hoje. Mais tarde houve o processo de legalização das rádios, andei numa série de rádios da Amadora e acabei na Rádio Mais, que foi uma das legalizadas. Foi aí que conheci uma série de pessoas ligadas à televisão, como o Rodrigo Guedes de Carvalho, Conceição Lino, João Gonçalves. Todas pessoas que estavam na RTP e que foram durante uns meses para esta rádio. Surgiu aqui um conhecimento. Nesta altura tinha 15 anos. Depois fui para a Rádio Renascença e para a RFM e comecei a dar voz a algumas promoções da RTP. Conheci o Hugo Andrade, que agora é o diretor de Programas da RTP, mas aquilo também era um trabalho pontual, fi-lo durante dois meses e depois disso o Hugo ligou-me a dizer que ia haver um casting para o Caderno Diário da RTP. E perguntou-me se eu estava interessando em fazer.

Passou no casting, portanto...

Fui fazer o casting e no dia seguinte ligaram-me a dizer que tinha ficado e comecei uns meses mais tarde. Foi em 1989.

Foi um marco para si?

Foi muito importante essa altura, foram cinco anos a fazer jornalismo para pessoas mais pequenas, um jornalismo que era levado a sério no resto da Europa. Lembro-me de que a BBC tinha o seu Caderno Diáriocomo uma espécie de instituição. Tinham sempre dois repórteres à volta do mundo... Nós tínhamos umCaderno Diário mais pobrezinho [risos]. Foi uma experiência muito boa. A ideia que tenho - e agradeço muito às pessoas que me ajudaram, mas o resultado está à vista, acabou - é que estes programas infantis são tratados um bocadinho de uma forma menor. No caso deste jornal, ao longo dos anos, e por isso também terá terminado, é que foi tratado como um produto menor. A verdade é que passava às sete da tarde na RTP, o que seria completamente inviável agora, não é um produto suficientemente forte para combater outras coisas.

Mas na RTP2 cabia?

Sim, e faz parte do serviço público explicar notícias aos mais novos. Foi um marco porque me ensinou a trabalhar em televisão, foi aqui que aprendi as primeiras coisas. E apesar de ser dedicado às crianças, tinha o seu lado de profundidade porque nós explicávamos como funcionava o Parlamento. Se calhar há muitos jornalistas nas redações hoje em dia que não sabem de facto como funciona... Explicávamos a Guerra do Golfo, quem é quem, porque é que aqueles dois lados estavam a combater...

Não acha que faz falta um projeto desses neste momento?

Acho, acho. Hoje em dia, mais as pessoas que acompanharam o Caderno Diário dizem-me isso. Faz falta, acho que é importante os video-jogos, as séries, internet... mas também faz falta o outro lado para dar consistência à forma como as pessoas crescem. E acho que há muitos jovens que têm interesse em perceber o que se diz às oito da noite, descodificar o que é dito aos mais novos.

Acha que ajudou a formar mentalidades?

O Caderno Diário e quem o fazia tornaram-se na altura uma referência para a geração que estava a crescer. Se eu tivesse 10 anos e tivesse um jornal só para mim, achar-me-ia muito importante por uma televisão se preocupar em explicar-me as notícias. E penso que essa era a importância que as pessoas nos davam. A verdade é que dos que acompanharam aquele jornal ninguém se esqueceu.

Confesse, já teve curiosidade em ir ver vídeos dessa altura ao YouTube?

[Risos] Já houve muitas pessoas que me mostraram, tenho noção do que aquilo era e de como eu era. Já passaram 20 e tal anos. Os tempos são outros, as roupas são outras, a idade é outra. Tenho noção que cresci muito desde esse momento até hoje. Fui aprendendo muito, sou uma pessoa radicalmente diferente, estava mais gordo, tinha caracóis. Guardo esse tempo com saudade, conheci muita gente.

Acha que a programação infanto-juvenil que as televisões generalistas oferecem trata essas faixas etárias como "idiotas"?

As televisões comerciais atuam numa lógica de mercado, se é isso que o mercado pede, é isso que elas oferecem. Não sei quais os desenhos animados que estão agora na berra. Os meus filhos, Carolina, de 10 anos, e o Miguel, de 5, já não acompanham tanto. Hoje a televisão é muito diferente a esse nível até porque existem canais muito segmentados, no cabo, e que dão desenhos animados 24 horas por dia. E têm importância em termos de audiência: o Disney Channel é um dos mais vistos. As televisões generalistas não estão preocupadas em oferecer esse género de programação infantil. Mas a RTP2 tem e tem esse dever. Existe tudo, para todos os gostos.

Há cerca de cem mil crianças entre os 4 e os 14 anos que assistem ao reality show da TVI Casa dos Segredos, ao domingo. Deixa os seus filhos ver esse programa?

Os meus filhos não veem. A Carolina, porque já tem 10 anos, tem as suas opções televisivas e não gosta, apesar de a mãe [Iva Domingues] trabalhar no programa a fazer os diários. E o Miguel nem sabe que isso existe. Os interesses deles também são outros... e sei que não é propriamente um produto que lhes interesse, e ainda bem. Dificilmente os deixava ver.

E o Pedro vê?

Não. Vejo na imprensa diária o que sai, as caras, mas não os sei ligar aos nomes. E depois olho para os títulos e não sei o que querem dizer porque não acompanho. Não tenho esse lado voyeur de olhar para pessoas normais e ver o que elas fazem dentro da casa, acho patético. Mas acredito que é um fenómeno.

Nunca viu nenhum reality show?

Vi o primeiro Big Brother, acho que toda a gente viu. Vi porque era novidade, as próprias pessoas que entraram na casa não sabiam muito bem ao que iam...

E o que é que o Pedro vê na televisão?

Vejo muita informação, muito a SIC Notícias, muito pelo lado profissional e pelo meu gosto pela profissão. Passo a vida ligado a sites noticiosos e a canais de informação. Vejo os jornais às oito da noite. De resto, vejo uma ou outra série, gravo na box e tento acompanhar alguns filmes.

Do Caderno Diário passa para o 24Horas, no horário noturno, também na RTP1...

Na altura já não fazia o Caderno Diário, fazia o Jornal Jovem, que ia para o ar ao sábado à tarde, também explicava notícias, mas para uma faixa etária mais velha, falava de sexualidade, da procura do primeiro emprego. Apesar de ter criado esse formato, não estive muito tempo nele. Foram basicamente seis meses. Entretanto, houve um curso na RTP dado por Eduardo Guibert, que já tinha dado anos antes à Judite Sousa e à geração dela. Isso coincidiu com a entrada do Joaquim Furtado na RTP, e ele convidou-me a mim e à Sofia Alves para fazermos o curso. Ele era considerado o mestre europeu da televisão. Fui fazer o curso, estavam lá novamente a Judite Sousa, o José Rodrigues dos Santos, Henrique Garcia... só eu e a Sofia é que éramos os novatos. O Eduardo terá dito ao Joaquim Furtado para fazer essa aposta em mim.

Teve uma boa nota, portanto...

Sou jornalista de televisão e posso agradacê-lo ao Guibert, com quem só tive uma relação naquele mês de curso. Também ao Joaquim Furtado e a outras pessoas, mas este é o ponto de partida. Fui para esse curso sem expetativa nenhuma e saí de lá pivô.

E como é que foi parar à SIC?

Uns anos mais tarde fui para a SIC Notícias convidado por Emídio Rangel e pelo Nuno Santos, para um projeto que à partida não se sabia bem o que era. Quer dizer, nós sabíamos o que ia ser, porque quando saí da RTP ia convicto e para mim era um sonho ir trabalhar para uma estação desse género, estilo CNN. Todos os jornalistas da RTP e da TVI têm um fraquinho pela SIC.

Porquê?

Porque a SIC é a estação de informação que trabalha com mais inteligência, com mais criatividade e que no seu conjunto tem uma imagem que os outros não têm. Acho que as pessoas têm essa imagem cá fora. Se eu não trabalhasse na SIC quereria trabalhar na SIC. Lembro-me de que alguns colegas me disseram: "Então tu vais? Mas aquilo vai fechar seis meses depois, aquilo não é um projeto sustentável." Eu não tinha dúvidas de que aquilo seria um projeto sério, com os pés bem assentes no chão e a verdade é que, 12 anos depois, cá estamos. Continua a ser um canal de referência para as pessoas.

E depois chegou a dizer alguma coisa aos seus colegas?

[Risos] Não. Depois o nosso trabalho está à vista e é a prova. E acho que saí no momento certo. Tinha 28 anos quando a SIC Notícias começou, foi com 27 que fui. Foi o momento certo para fazer a mudança, porque apesar de ter aprendido muito na RTP, o meu crescimento profissional deu-se nos últimos 12 anos. E onde me foram também dadas muitas oportunidades. A SIC é um sítio muito bom para trabalhar, porque existe muita liberdade, autonomia para podermos criar, para desenvolver. Chegar agora a este jornal das 20.00 também tem muito a ver com esse caminho que foi feito.

Encontrou muitas diferenças entre a estação pública e a privada?

Encontra-se esse lado de saber exatamente quem manda na privada, encontrei uma estrutura menor, mas encontrei esse lado da liberdade, da autonomia e uma cultura de empresa de televisão, de jornalismo, de ajuda... Nós trabalhamos há muitos anos juntos. Às vezes as pessoas pensam que na televisão e na SIC as pessoas se dão mal, antes pelo contrário, há lugar para todos. Há alturas em que estaremos menos satisfeitos do que noutras, mas regra geral temos uma ótima cultura de empresa e não trabalhamos para nós, defendemos o jornalismo da SIC.

Como vê toda a polémica que se criou à volta da RTP, de Nuno Santos e das imagens da manifestação?

O Nuno Santos é uma pessoa muito minha amiga e portanto, a um nível pessoal, dar-lhe-ei todo o meu apoio, e ele sabe disso. Falámos sobre isso e trocámos mensagens. Não confundo os lados. Não sei muito bem o que se passou porque não estou na RTP. Não sei os contornos exatos, quem é que cedeu, quem é que deu autorização para o quê. O que sei é que isso também foi pedido à SIC e à TVI e isso não aconteceu por alguma razão. Nós salvaguardamos com quem trabalhamos, é como desvendar uma fonte de informação. Não se faz, sabemo-lo bem. Tenho o Nuno como uma pessoa consciente, inteligente, com bom senso, sabendo bem o que faz...

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Casos como este são motivo de preocupação para o jornalismo?

[Pausa] Quando se é jornalista tem de se conhecer bem as nossas regras profissionais, deontologia, rigor, independência. Não vejo uma coisa dessas a acontecer na SIC. Eu não me preocupo muito com o jornalismo do sítio onde trabalho, mas sim com o nível geral do jornalismo que se vai praticando hoje em dia. E também com o que a crise pode fazer, nomeadamente nos órgãos de comunicação social públicos, na Lusa, RTP, RDP... que dependem diretamente do Estado. Como cidadão, não como trabalhador da SIC, sei o que se faz lá dentro. [Francisco Pinto] Balsemão é jornalista de formação, nunca notei, em 12 anos, que houvesse a mínima intromissão de quem quer que fosse naquilo que fazemos. É importante sentir que quando se trabalha num sítio assim, com total liberdade, muitas vezes em assuntos delicados, obviamente que são discutidos, mas nunca será por uma pressão externa que eles não irão para o ar. Não sei se existem no país outros órgãos de comunicação que se possam orgulhar disso, pelo menos dessa forma.

A Newshold assumiu que pode ser candidata à compra da RTP. A empresa angolana também detém o jornal Sol e parte de outros meios de comunicação como o jornal i. Como vê a entrada, cada vez mais forte, de capitais angolanos nos media em Portugal?

Aquilo de que falávamos em relação à crise ser uma ameaça para o jornalismo tem que ver com isso. Não sabemos quem é a Newshold, sabemos que tem o Sol, parte do i, uma participação na Impresa e uma parte da Cofina. Não sei o que é que a Newshold pretende de facto, não sei qual é o intuito em comprar a RTP, mas fará parte de um projeto que tem, com certeza.

E em relação a toda a situação que se vive na RTP?

Acho que tudo isto é mais uma trapalhada enorme do governo, porque num dia diz uma coisa e no outro diz outra. Já houve uma série de modelos definidos para o futuro da RTP e a verdade é que o melhor é parar, para bem das pessoas que lá trabalham, da estação e sobretudo para o bem do mercado publicitário, cada vez mais reduzido. O bolo todo do mercado perdeu metade do que tinha e, portanto, se houver mais umplayer no mercado, mais uma televisão que entra nesse bolo, significa que haverá cada vez menos para todos. Quem sofre, em primeira instância, é o telespectador, com uma oferta de qualidade pior.

Qual seria a melhor opção para a RTP?

Se calhar a melhor opção é deixar tudo como está. Ou deixar que intervenha em todo este processo quem já está no mercado. A SIC e a TVI provavelmente sofrem com aquilo que se está a passar em termos de crise e bolo publicitário. Também não sou ninguém para decidir o futuro da RTP. Sei que a SIC faz um esforço grande para conseguir viver no meio desta turbulência conjuntural que o país atravessa.

Mas preocupa-o o facto de empresas angolanas estarem cada vez mais presentes nos media portugueses?

Nós não sabemos se há uma agenda angolana em relação aos media em Portugal. O que sabemos é que têm um ou dois jornais, que têm uma participação forte num grupo de comunicação grande em Portugal e que assumiram que são candidatos à RTP. Conseguimos traduzir isso numa agenda política/de corte de liberdade de defesa do regime angolano? Enfim, não sabemos. Mas mesmo por isso, e havendo essas dúvidas, é preciso que a estabilidade de um grupo como a Impresa, que é conhecido como independente, seja viável. Já todos sofremos cortes, não há milagres. O país está a atravessar uma altura difícil, no caso dos media, com corte radical do investimento publicitário, obviamente tiveram de se adaptar à crise. Francisco Pinto Balsemão e Pedro Norton preparam o grupo para o que está a acontecer agora há muito tempo, para precisamente estarmos mais estáveis neste momento. Ter menos meios apela mais à nossa criatividade, inteligência e também ao nosso esforço.

É possível fazer mais com menos?

É. É por isso que estamos aqui agora e continuamos a fazer coisas novas. O novo jornal de domingo é prova disso. Vamos fazer um bom jornal apesar de sabermos que a concorrência é forte.

Por falar em concorrência. A TVI24 já começou a fazer sombra à SIC Notícias. Aliás, ainda há 15 dias, fez história, conseguindo ter mais audiência do que a SIC Notícias. Foi um dia isolado, mas tem algum significado?

Acho que tinha que ver com a Liga dos Campeões [risos]. A SportTV também faz sombra quando tem o Sporting-Benfica, não podemos isolar isso em coisas particulares. Nesse dia não foi bem informação, foi mais futebol [risos]. O que a SIC tem são notícias há 12 anos e é uma marca muito forte no jornalismo português, disso não tenho dúvidas. Claro que é excessivo haver três canais de informação num país como Portugal. Mas eles existem. Pelos vistos há lugar para todos, há mercado para todos, por isso vamos continuar a viver numa competição saudável uns com os outros. Não vejo que o lugar da SIC Notícias esteja ameaçado.

Se pudesse, acabava com algum canal de informação?

Se o mercado continuar como está, provavelmente não haverá lugar para os três, portanto, os mais fortes, ou aqueles que se prepararam melhor para o futuro, vão subsistir. Os outros não. Não sei no que pode traduzir-se em termos práticos, mas se calhar o fim de algum deles.

Está realizado enquanto pivô ou gostaria de ter um papel mais ativo na direção de Informação? O que lhe estou a perguntar é se gostaria de ser diretor?

Não, não tenho essa ambição. Estou muito contente com o meu caminho até hoje. O que quero fazer, estou a fazer. E agora deram-me uma oportunidade capital na minha carreira, poder às 20.00 formatar um jornal, é nisso que acho que sou bom e é isso que quero continuar a fazer. É nisto que me sinto realizado. Podemos deixar as outras coisas a quem as faz bem, não me passa sequer pela cabeça chegar à direção de Informação da SIC.

Eu sei que o voto é secreto, mas sente-se um homem mais de esquerda ou de direita?

Sou muito apartidário. Não consigo olhar para os partidos dessa forma. O meu pai, que é uma pessoa importante na minha educação, tem uma formação de esquerda, mas eu olho sempre para as coisas de um lado mais social. Gostava que o país fosse uma social-democracia como na Escandinávia. Olho mais para as pessoas do que para os partidos, a política em Portugal ensinou-nos que as pessoas que dominam ou fazem parte dos aparelhos não são muito confiáveis. Há exceções, e eu conheço algumas. Mas fazer política em Portugal significa fazer uma espécie de carreirismo político que não tem nada que ver comigo, nem com o modo de vida que tenho, nem com as escolhas que fiz para mim.

Mas vota?

Nem sempre. Às vezes é a falta de tempo, outras gostaria de votar em todos, mas outras tem que ver com o facto de não me rever em nenhum partido. Acho que faz falta um contacto político direto, prefiro votar numas autárquicas do que numas europeias. Agora é importante escolhermos quem nos governa. O país anda muito bipolarizado, não sei se agora será uma boa oportunidade para as pessoas mostrarem algo diferente nas próximas eleições. Vamos ver em que medida a crise mexe com as opções políticas já no próximo ano com as autárquicas.

José Rodrigues dos Santos, por exemplo, diz que só voltará a votar quando deixar de ser pivô...

Quando se é jornalista cria-se uma equidistância muito grande em relação à política e às vezes até em relação ao futebol. Apesar de ter o meu clube.

Qual é o seu clube, já agora?

[Risos] Benfica.

NTV

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