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16 de dezembro de 2012

Entrevista à Cristina Homem de Mello: "Sinto-me mais valorizada na SIC do que na TVI"

Durante dez anos, Cristina Homem de Mello abraçou as novelas da TVI. Aos 47 anos, mudou-se para a SIC para participar em 'Dancin' Days'. Atriz apaixonada e lutadora, menina insegura. Eis a mulher por detrás da amargurada Teresa Sousa Prado.

Está desde março dedicada a Dancin' Days. Encarna no remake da SIC a personagem Teresa Sousa Prado, uma mulher que se dedica por inteiro à família mas que é traída pelo marido (Júlio César). Que balanço faz deste novo desafio profissional?

Durante dez anos trabalhei para a produtora Plural Entertainment da TVI, mas apetecia-me fazer uma mudança. Aparecer este convite para trabalhar para a SIC foi muito bom. Soube-me bem mudar de estação e sobretudo de produtora. Apetecia-me estar com outras pessoas, conhecer outras formas de trabalhar, estou muito contente. E ainda mais satisfeita fiquei com a personagem que me foi entregue. Aliás, tem sido uma loucura.

O que tem ouvido do público?

No meu caso, as pessoas já me conhecem de outras novelas e, por isso, sabem que eu não sou má [risos]! Abordam-me sempre de forma simpática e algo cúmplice. Há mulheres que se identificam com esta Teresa Sousa Prado em relação ao marido, às traições...

Já alguma vez foi o "ombro amigo" de alguma espectadora de Dancin' Days cuja história de vida se assemelha à da sua personagem?

Há mulheres que falam comigo, mas ainda não ouvi histórias idênticas à da minha personagem. E ainda bem. O que mais me interessa em ser atriz - para além de gostar muito desta profissão e de trabalhar em equipa - é que as personagens possam trazer alguma solução para a vida das pessoas.

Mas a Teresa Sousa Prado não é uma mulher que possa ser considerada um exemplo. Ela vai assassinar o companheiro...

Sim, tem razão [risos]! A lição a tirar da história de Teresa Sousa Prado é: "Mulheres, por favor, sejam independentes!"

Que trabalho de pesquisa e preparação fez para criar esta figura feminina?

Por acaso venho de um meio familiar que é parecido com o da Teresa Sousa Prado. Tenho uma família muito grande e a partir da qual pude retirar alguns exemplos. Embora na minha família ninguém seja tão exagerado como ela, o meu avô era embaixador e esta mulher também vem de uma família de embaixadores. Eu venho de um meio em que os pais dos nossos amigos não têm nome, chamam-se "tio" ou "tia" e, por isso, esse lado não me fez confusão porque eu cresci com isso...

O que pode revelar quanto à evolução da sua personagem na história de Dancin' Days?

A Teresa Sousa Prado é uma mulher controladora cujos os objetivos de vida são muito limitados. Ela não tem interesses próprios e, por isso, centra-se no marido, um homem que não lhe liga nada, e nos filhos, que são rapazes já crescidos e que têm a sua própria vida. Esta mulher limitou de tal maneira a vida dela que algo só poderia acabar mal. Ela acaba por cometer o maior de todos os erros: matar o marido. Mas sabem por que razão isso vai acontecer? Porque o marido também a quer matar! E, diga-se, nós todos somos assim.

Somos?

Sim. Acredito que quando as circunstâncias à nossa volta afetam tanto a nossa estrutura, facilmente nos baralhamos. Esta é a explicação para que uma pessoa seja levada a matar. Todos nós podemos matar.

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Todos? Porque defende essa ideia?

Acredito que todos nós podemos matar consoante as circunstâncias da vida. Eu tive de pôr essa hipótese a mim mesma quando estava a trabalhar esta personagem. Questionei-me sobre quais as situações que me levariam a matar, mas fi-lo para conseguir imprimir verdade nas cenas da novela.

Vou seguir o seu raciocínio e perguntar-lhe: Seria capaz de matar alguém? E em que circunstâncias?

Se fizessem mal ao meu filho [ Martim, de 4 anos], se o violassem, raptassem ou matassem. Mas atenção, sou contra a morte mas não sei se era capaz de não retribuir algum mal a quem lhe fizessem. Não sei mesmo. E acho, aliás, que nenhum de nós o sabe. Mas respondendo à sua pergunta: não, não seria capaz de matar alguém porque o ato em si é horrível.

Teresa Sousa Prado é aquilo a que atores e argumentista designam de "personagem rica" por ter uma personalidade e história de vida complexa. Este é o melhor papel que já fez numa novela portuguesa?

Sinto que é, sim, o papel com o qual tenho tido mais sucesso. Eu adoro trabalhar em televisão, gosto de enfrentar as câmaras, de fazer novelas... Gosto dos meus papéis, claro, mas quando têm interesse e desde que não sinta que estou ali para "encher chouriços". Essas são personagens de ligação, não têm grandes percursos.

Quando é que sentiu que estava a "encher chouriços"?

Aconteceu, por exemplo, na novela Tempo de Viver [exibida em 2006, na TVI]. Mas quando isso acontece entrego-me ao papel com o maior profissionalismo.

"Se me tivessem oferecido contrato de exclusividade, não teria saído da TVI"

Soma no currículo participações em várias novelas exibidas na TVI, entre as quais Baía das Mulheres, Mundo Meu, Tempo de Viver, Flor do Mar. Está, agora, a trabalhar para a produtora SP Televisão e SIC. Sente-se mais valorizada na SIC?

Por acaso, sim. Mas faço questão de que as minhas palavras publicadas incluam "por acaso". Sinto-me mais valorizada na SIC do que na TVI. Não posso dizer que sinto isso como uma coisa que é óbvia, mas é algo que se vai sentindo aos poucos. Não quero mal-entendidos, nem parecer ingrata até porque este é ainda o primeiro trabalho que faço para a SP Televisão. Na Plural [Entertainment] e na TVI sentia que tinha um lugar e que esse lugar era, de alguma forma, protegido. E isso era algo bom.

O que falhou?

Por existir na outra estação, TVI, tantos atores exclusivos, tantas divas exclusivas torna-se difícil dar o devido valor e ter espaço para que outro tipo de atores possam crescer e valorizar-se. No caso da SP Televisão e da SIC, julgo que há menos atores exclusivos da minha idade e, portanto, há mais espaço para eu poder crescer.

Se lhe tivessem oferecido contrato de exclusividade teria permanecido na TVI?

Não haveria razão para não ficar.

Isso é um sim?

Se me tivessem oferecido contrato de exclusividade não teria saído da TVI. Chegámos a falar sobre a possibilidade de me darem contrato de exclusividade, mas explicaram-me que não era possível porque estavam a proceder a cortes.

A TVI é uma porta fechada?

Não. Fechar portas não é uma atitude nada inteligente.

Sente-se, apesar de ter passado ainda um curto período de tempo, mais acolhida na SIC do que na TVI?

Em termos de equipa não. Talvez o sinta em termos de direção de produção. A maior diferença que sinto é que na SP Televisão a comunicação é mais eficiente.

Acha, portanto, que a Plural Entertainment é uma máquina voraz mas que não está a funcionar em pleno?

Com a saída de pessoas fortes da TVI, sentiu-se um vazio de poder, deixámos de saber bem a quem nos dirigirmos. Refiro-me às saídas de José Eduardo Moniz [antigo diretor-geral da TVI], André Cerqueira [antigo diretor-geral da Plural Entertainment] e Bernardo Bairrão [antigo administrador da TVI] e perante todas essas remodelações, os atores não exclusivos e que não têm um canal direto para falar com uma pessoa específica encontram um vazio de poder muito real.

Presentemente, as novelas exibidas na antena da estação de Queluz de Baixo estão a ser vistas por menos espectadores. Que crítica faz às novelas da TVI?

É muito ingrato estar a fazer comparações entre a TVI e a SIC. O que acho é que a SIC só exibe uma novela portuguesa que não corre o perigo de se diluir porque é exibida antes de novelas brasileiras. Já no caso da TVI, se a estação apresenta três novelas portuguesas nas quais participam atores exclusivos e que serão sempre protagonistas, isso pode dificultar a marcar uma diferença no imaginário dos espectadores. Se calhar, a TVI tem de repensar o modelo que tem. Acho que o grande sucesso deDancin' Days se prende com o voltar à fórmula original das novelas e que passa por haver um gancho. Se não se marcar bem o fim de uma novela, as pessoas lá em casa não sabem qual a novela que estão a ver, quem são os atores.

A perda de audiência é um sinal de crise de originalidade e criatividade no que toca aos textos?

Não sei, nem faz parte do meu trabalho diário nem da minha maneira de ser estar a analisar produto a produto.

"Ser atriz é o que realmente gosto"

Foi em 1988 que se estreou em televisão. Como se dá a sua ingressão no mundo da caixinha mágica? Sonhava em criança ser atriz?

Não. Não nasci com essa ideia clara, achava que não era suficientemente gira. Descobri o gosto de representar quando tinha 20 anos.

O que aconteceu?

Tive uma oportunidade de poder fazer teatro no liceu mas na altura não a aproveitei. Quando apareceu a segunda, não deixei passar [risos]! Decidi arriscar e concorri a um casting para participar na série Os Homens de Segurança. O Tozé Martinho e o Nicolau Breyner faziam os papéis principais.

Portugal enfrenta uma crise económica. E a indústria televisiva está, em consequência, também a ser afetada. Teme a falta de trabalho?

Eu vejo alguma continuidade na SP Televisão e fico contente. Fico mais descansada. Se fico preocupada com a possível falta de trabalho? Toda a vida vivi assim. Quando há uma novela e eu sou chamada a participar, vou mas podem com um mês de antecedência encurtar a minha participação porque a personagem pode morrer.

Ver-se-ia a desempenhar outro trabalho?

Ser atriz é o que realmente gosto, mas a vida tem altos e baixos. Já tentei ter um negócio em Sintra mas não me correu nada bem. Não tenho qualquer tipo de jeito para vender [risos]! Explorei um espaço que servia de guest house mas desisti. Mas no que toca à representação já me disseram, recentemente, para eu não me preocupar.

O público vai, então, continuar a vê-la a trabalhar à frente das câmaras de televisão?

Uma pessoa também tem de confiar no universo, não é? Estou confiante e vou acreditar que não tenho de me preocupar.

NTV

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