O que é ter o "fator x"?
Paulo Junqueiro (P.J.) - Essa pergunta passo [risos].
Paulo Ventura (P.V.) - Já não me lembro [risos]. Querem que comece, é? É ser especial.
Sónia Tavares (S.T.) - Nós achamos, por unanimidade, que é um misto de vários fatores, como carisma, personalidade e forma de estar. Obviamente que a qualidade vocal e a musicalidade são importantes. Basicamente, é alguém que pode ser um artista, que consegue aguentar tudo aquilo que a vida de músico tem para dar e...
P.J. - [interrompe] É ter atitude. Há uma expressão em inglês que define tudo: star quality [qualidade de estrela]. Se traduzirmos para português fica um bocado esquisito, mas é isso mesmo: olharmos e dizermos que está ali uma estrela sem sabermos bem porquê.
Em outros programas de caça-talentos a aparência era tão ou mais importante como o talento para se ter sucesso. Isso acontece a quem tem esse "fator x"?
P.J. - Não sei qual era o peso que isso tinha nos outros formatos. Dentro do conjunto de fatores que a Sónia falou é claro que a aparência conta, mas não é determinante.
S.T. - Claro que não é...
O objetivo é encontrar uma estrela ou um grupo para fazer carreira no mundo da música. Dito assim, parece relativamente fácil. Mas não é, ou é?
P.V. - A resposta a essa pergunta é sempre difícil. Esperamos que eles tenham esse "fator x". Aliás, para conseguirmos ter a estrela, eles têm de agregar todos os atributos de que o Paulo e a Sónia falaram. Porém, é muito mais do que isso. Uma das coisas que peso muito é quando entram como concorrentes e em palco se transformam no que pode ser um artista. Se terá a maleabilidade para ser isso.
Portanto, a pessoa e o artista são distintos?
P.V. - Precisamente. A Sónia, por exemplo, é uma artista quando tem de o ser e uma pessoa normal no seu dia a dia. Ela não sai do escritório para cima de um palco. É importante entender como os concorrentes se transformam. Ser um artista é também saber sê-lo.
Aparecer, como acontece com os concorrentes, num espaço televisivo que é sempre mediático não pode ter o efeito contrário ao pretendido e afastar os fãs da estrela que aqui nascer?
S.T. - Isso pode acontecer a qualquer um. Todas as carreiras artísticas têm o seu apogeu e a sua queda. Não quero com isto dizer que há uma fórmula, mas não se pode negar que há sempre altos e baixos.
O vencedor deste programa pode então ser uma estrela cadente?
S.T. - Aceitámos este desafio porque achámos que o programa seria diferente. Aquilo que mais queremos é ser responsáveis por uma estrela que não caia no esquecimento, que não saia daqui e acabe por não fazer nada de relevante. Quero sentir-me responsável por alguém que vá ter sucesso.
Esse alguém pode não ser, necessariamente, o vencedor do programa?
P.J. - Pode não ser.
P.V. - Definitivamente pode mesmo não ser.
S.T. - Isso é com eles. Eles é que são os caça-talentos [risos].
P.J. - A verdade é que o facto de ser um programa de televisão não tem implicação direta com o fracasso. A TV dá exposição e pode multiplicar a popularidade de qualquer artista, mas nunca sabemos o que vai acontecer depois, independentemente do programa. Quando descobrimos um artista, quando o trabalhamos, a nossa intenção é sempre que ele seja grande. Uns serão, outros não.
S.T. - Há que perceber o que é que essa pessoa vai fazer quando o programa acabar. Não há robôs, eles não vão sair daqui a fazer tudo o que estes meus colegas vão mandar. Cada um sabe das suas opções artísticas.
Mas vocês, jurados e mentores dos concorrentes, têm a responsabilidade de os encaminhar.
P.V. - Mas também haverá uma altura em que quem decide são os espectadores através de votos. Cabe-nos saber influenciar no bom sentido, ou pelo menos explicar porque é que devem votar neste ou naquele.
S.T. - Não é só isso. Apesar de nos terem como mentores, cada um sabe de si e escolhe o caminho que quiser. Poderá é não ser o mais acertado. Nos programas anteriores do mesmo género, e confesso que não os vi muito, se calhar as decisões não tiveram que ver com aquilo que quiseram fazer do artista mas com o que o próprio artista quis para ele.
Conhecem as histórias de vida dos concorrentes antes de os avaliarem?
P.J. - Antes de lhe responder, deixe-me elogiar, e acho que os meus colegas estão de acordo, o trabalho de conceção do programa. Quando vi a primeira emissão pensei que era precisamente aquilo que queria ver. Não sabia o que ia acontecer e, respondendo à sua pergunta, também não sabia as histórias dos concorrentes. Conheço-as ao mesmo tempo que os espectadores.
P.V. - Não sabemos nada. Zero.
S.T. - É isso que torna muito engraçado estar em casa a ver, porque recordarmos um ou outro concorrente e descobrirmos que ele tem esta ou aquela história tão fantástica.
Já se arrependeram de alguma decisão que tenham tomado?
P.V. - Quer saber a verdade? Posso dizer? [pergunta ao responsável pela comunicação da produtora Fremantle que assiste à entrevista] Verifiquei no segundo programa que fui menos acertado numa decisão que tomei. Não houve problema, porque a concorrente passou, mas quando vi a miúda em casa, uma miúda a quem tinha dado um não, percebi que tinha mais alma do que me pareceu na audição.
Está a referir-se à Jéssica Meireles?
P.V. - Foi uma delas...
S.T. - Isso acontece porque as coisas são diferentes em TV e ao vivo. É como nos jogos de futebol. Ao vivo é impactante e ficamos emocionados, mas em televisão apanhamos pormenores que podemos não nos aperceber de outra forma. E isto acontece ainda que ao vivo o som seja diferente, exista público, sintamos a emoção dos candidatos... Em casa podemos analisá-los mais tecnicamente, em pormenores que naturalmente nos escaparam.
P.V. - Por acaso, no caso em que referi não senti tanta alma ao vivo como a que senti em televisão... Não me apercebi. Mas ela passou.
"Audiências... nem percebo os números!"
Desde a estreia que Factor X vence a Casa dos Segredos em audiências. Aliás, é a primeira vez que a SIC supera o formato da TVI. Esperavam ganhar à Teresa Guilherme?
P.J. - Só estava à espera de que fosse um grande sucesso. E espero que assim continue.
S.T. - Olhe, a mim, quando me convidaram, nem me lembrei da palavra audiências...
Mas têm consciência da importância das audiências?
P.V. - Audiências?!
S.T. - Na realidade, não vejo muita televisão e essa coisa das audiências... nem percebo os números! Sei que o programa está a ter bastante visibilidade e fico feliz com isso.
P.J. - Eu cá só sei que está a correr muito bem e que estamos muito contentes com isso.
Já percebi que têm visto as emissões do Factor X. Já espreitaram a concorrência?
S.T. - Não... não vejo televisão!
P.V. - Em casa, só tenho quatro canais.
Bem, a concorrência está num desses quatro canais...
P.V. - Pois, mas agora vejo a SIC porque quero ver o Factor X. Depois, tenho a PlayStation, a Wii e o DVD.
S.T. - Só vejo séries de psicopatas e criminosos [risos]. Não estou nem aí para a realidade.
P.J. - Também vejo pouca televisão. Honestamente, o pouco tempo que tenho é para ver séries e filmes.
S.T. - De psicopatas? [risos]
P.J. - Às vezes lá me calha um ou outro. E outras vezes também me calham sem ser em séries [risos].
S.T. - Vão-te caindo na sopa? [risos]
Além do humor, que é notório, o que é que os une enquanto jurados?
P.J. - Absolutamente nada!
S.T. - Oh... não digas isso!
P.V. - Na verdade, acho que gira tudo à minha volta! [risos]
S.T. - Somos os teus satélites, queres ver?
P.V. - Agora a sério... Já tenho uma relação de há muitos anos com o Paulo. Gosto imenso dele e nutro por ele uma grande admiração. Mas não conhecia bem a Sónia, apenas circunstancialmente por ter feito a produção e a direção de palco em festivais onde os The Gift iam tocar. De repente encontrei aqui uma Sónia a quem acho imensa piada. Descobri aqui uma pessoa...
S.T. - [interrompe] Muito obrigada. Mais vale ter graça do que ser engraçada [risos].
P.V. - Não é isso. Disse que tinhas piada no bom sentido.
Não resisto a perguntar-lhe o que pensou quando lhe disseram que a Sónia seria sua companheira no júri.
P.V. - Acho que não tive reação.
S.T. - Deve ter pensado "oh não..."
P.V. - Não pensei nem bem nem mal. Pensei que, se querem uma mulher, faz sentido seres tu. Mas na verdade não sabia muito bem porquê, só o descobri aqui.
Ficou rendido ao "fator x" da Sónia?
P.V. - Completamente. Estou rendido.
S.T. - Temo-nos divertido imenso. Já telefonamos uns aos outros e tudo, em espírito de camaradagem, para trocarmos impressões.
P.V. - Às vezes já nem sabemos a quem é que estamos a responder [gargalhada].
Se é a camaradagem que os une, o que é que os separa?
P.V. - Isso vai notar-se a partir de dezembro [quando os jurados se baterem pelos concorrentes que têm a seu cargo]. Por enquanto, estamos aqui brutalmente unidos.
P.J. - Não concordo com isso de se notar o que quer que seja a partir de dezembro.
P.V. - A verdade é que nós vamos competir uns com os outros!
S.T. - Sim, mas por um objetivo comum.
Os concorrentes também têm um objetivo comum, mas ainda assim competem uns com os outros.
P.J. - Vai chegar uma altura em que, independentemente de ganhar a categoria de um ou de outro, o que queremos os três é descobrir a tal estrela.
P.V. - Até porque da forma como isto está a correr, com meio Portugal a odiar-me, os meus concorrentes vão ser os primeiros a "ir ao boneco" [risos].
S.T. - Não vão nada, não digas isso!
Meio Portugal odeia-o porquê?
P.V. - Não sei... as pessoas andam sempre à procura do mau da fita e resolveram achar que era eu. Não sou mau coisa nenhuma...
Então quem é?
P.V. - O bom deste programa é não haver mau nem bom. Aqui não há maus da fita. Sabemos o que queremos e temos liberdade para o fazer à nossa maneira.
Está a dizer que está aqui como manager, a Sónia Tavares como cantora e o Paulo Junqueiro como diretor da Sony Music Portugal e não como personagens?
P.V. - O que se vê no programa, e já agora o que você vê aqui, somos nós.
S.T. - Caso contrário até tinham contratado outro tipo de pessoas.
P.V. - Exatamente. Teriam ido buscar pessoas famosas ou atores.
P.J. - Sabe que o maior elogio que me deram até agora veio de um grande amigo, por acaso um bocadinho famoso, que me disse que tem gostado muito de me ver, que sente que falo para os concorrentes como se estivesse a falar com ele.
P.V. - Eu tenho mensagens de amigos a dizer que sou eu que ali estou, que não é uma personagem. Aliás, a Ana Arroja, da Rádio Comercial, que me conhece há anos, escreveu isso mesmo no Facebook: que tenho sido eu.
É esse o segredo do sucesso de um júri?
P.V. - Provavelmente sim. Mas... nós somos um sucesso? Em que termos é que somos um sucesso? Isso é um espetáculo...
Se tivermos em conta as audiências, aquelas que não sabem bem o que são, poderemos acreditar que são um sucesso porque integram um sucesso [risos].
S.T. - Acho que, acima de tudo, as pessoas percebem que fazemos uma coisa genuína.
P.V. - Responda-me lá... As pessoas acham que poderiam estar aqui no nosso lugar? É isso?
P.J. - Bom... o que queria que os espectadores sentissem quando cada um de nós fala é que disséssemos aquilo que estão a pensar. E é difícil atingir não sei quantas pessoas...
Pelo menos 1,6 milhões, que foi quantas assistiram à última emissão.
P.J. - Isso... Todas as pessoas será difícil, mas gostava de refletir o pensamento da maioria.
"Vamos querer ajudar os concorrentes"
Voltando a dezembro, que armas vão usar para lutar pelos concorrentes?
S.T. - As armas e os barões assinalados [risos].
P.J. - A única arma que podemos usar é a competência.
S.T. - Eu, como falo mais alto do que eles [eleva o tom de voz], tenho uma arma maior. Eles vão querer falar e não vão conseguir [gargalhada geral].
P.V. - Nós agora estamos a fazer um programa. A partir de dezembro vamos trabalhar.
Já percebi que não vão responder-me. É por cada um ter a sua estratégia e não querer entregar o ouro ao bandido?
P.J. - Vamos querer passar aos concorrentes tudo o que temos para lhes dar. Vamos querer orientá-los e ajudá-los a melhorar.
S.T. - Eu tenho uma arma...
P.V. - [interrompe] Isso não é assim. Nós vamos ter de explicar a concorrentes, que vão ser artistas, o que gostávamos que eles fizessem. A questão é saber se eles querem fazê-lo.
S.T. - Pois, mas eu tenho a minha arma. Sou uma rapariga...
P.V. - [interrompe] Caseira! [risos]
S.T. - [risos] Uma rapariga que gosta de se movimentar apenas pela minha zona, sem grande confusão, de ir ao café e ficar a saber a opinião das pessoas que veem televisão de forma descomprometida. Do adolescente à senhora mais velha. Acho que são uma ajuda preciosa. É essa a minha arma.
P.V. - Também tenho um barómetro desses: a senhora da papelaria. Ela junta as revistas, que eu nunca levo, e dá-me o feedback do que viu e do que achou.
Já disseram que não há maus nem bons neste formato, mas durante as galas não vão ser mais ríspidos e cruéis?
P.V. - Não. Seremos sempre nós próprios e justos. Digo-lhe mais: as pessoas acham que dizer "não" é ser mau, mas muitas vezes dizer "sim" é pior. É estar a alimentar sonhos quando eles não deviam existir.
Quando falo em ser cruel não é tanto o dizer não mas antes a maneira como se diz.
P.V. - Nós temos é de ser construtivos. Estão aqui pessoas cheias de sonhos.
S.T. - Gosto de aplicar a política do "não faças aos outros o que não queres que te façam a ti". Enquanto artista e cantora, há maneiras de falar que me chocam, com as quais fico desgostosa, mas que tenho de ouvir. Por isso, se puder, alivio o que tenho a dizer.
Não quer quebrar sonhos?
S.T. - Quem sou eu para os quebrar? A única coisa que temos de fazer é dizer que, para este programa, esta pessoa não dá, mas se o sonho dela é cantar, que o faça com garra.
Têm preferência por alguma categoria em que os concorrentes vão ser divididos e que vos serão atribuídas pela produção?
P.J. - Por todas [risos]. Tanto me faz.
P.V. - A mim também.
S.T. - A mim não "tanto me faz" [risos]. Não tenho preferência por uma, mas sei a que não quero. Só não vou dizer porque nunca se sabe o que me pode calhar.
P.J. - Nós conhecemos o formato do programa e sabemos que cada um vai ficar responsável por uma categoria, por isso estou preparadíssimo para qualquer uma. Sabemos que há talento em todas elas.
S.T. - A produção conhece-nos perfeitamente e sabe aquilo de que cada um é capaz.
P.V. - Mas podem querer entalar-te [risos].
S.T. - Não, não. É natural que a produção saiba que vocês são duas pessoas competentes porque trabalham com artistas, com bandas... com grupos, por exemplo!
P.V. - Olha... também tenho coisas para ensinar aos artistas!
S.T. - Também eu, mas sou uma cantora.
P.V. - E então?
É mais complicado ensinar um grupo do que um artista individualmente?
S.T. - Não sei... não sei gerir artistas. Estou aqui como olheira.
P.J. - Não. Apesar de nós [aponta para Paulo Ventura] trabalharmos com artistas há muitos anos e darmos a nossa contribuição, nunca estivemos na pele de um artista. Não sabemos o que é acordar artista. Eu só sei o que é acordar os artistas.
S.T. - E acordar com os artistas?
P.J. - Isso também sei [risos]. Estava a dizer que cada um de nós tem a visão de fora e a Sónia tem a visão de dentro. Ela sabe explicar como é que a vida lhe correu.
S.T. - Ou seja, não sei o que fazer, mas sei o que não fazer.
"Só é uma celebridade quem quer e quem deixa"
Sónia, antes de o seu nome ser conhecido neste painel de jurados, SIC e Fremantle disseram que queriam uma "dama de ferro". Fizeram uma boa escolha?
S.T. - Muito boa [risos]. Acho que queriam dizer que precisavam de uma pessoa que tivesse o conhecimento de como funciona a vida de um músico. Queriam uma pessoa que tivesse uma grande carreira, grande em termos de longevidade. Tenho vinte anos de carreira, que posso partilhar, além de dar parecer técnico.
P.V. - A Sónia pode explicar o que é ter sucesso fora do sistema. Os The Gift sempre estiveram orgulhosamente sós, mas sempre muito bem acompanhados. Não estou a dizer que isto seja a coisa mais certa a fazer, ok?
A independência é a melhor fórmula? O prémio do Factor X, além de cem mil euros, é um contrato discográfico...
S.T. - A independência foi o melhor para os The Gift, não quer dizer que seja para toda a gente.
P.V. - E não é. É uma prova de que se pode fazer. Será a exceção à regra, se quisermos.
S.T. - Defendo o que é melhor para a minha banda. Se de hoje para amanhã achar que o melhor é assinar com uma editora, é isso que farei. Nunca foi intenção dos The Gift serem independentes. Em 1994, andámos a bater às portas das editoras com uma maqueta e elas é que não nos aceitaram. Felizmente, chegámos a uma altura em que não precisamos nem de editora nem de crítica para vender discos.
Até agora, a sua imagem pública tem sido a de uma mulher mais fria. A verdade é que é a que mais se emociona. Só agora é que os portugueses estão a conhecê-la verdadeiramente?
S.T. - As pessoas acham que sou dura por causa do tom da minha voz, e porque entro sempre em palco sem medo. Isso não quer dizer que não tenha as minhas inseguranças e que não saiba o que é ouvir palavras desagradáveis. As pessoas confundem ser dura com ser sincera e assertiva e não sou mais dura por dizer, com educação, o que penso.
No caso do Paulo Ventura e do Paulo Junqueiro, até agora o vosso rosto não era conhecido do grande público. Estão preparados para se tornarem celebridades?
P.V. - Eu respondo já: não quero isso, não preciso. Vivi-o através dos meus artistas e juro que não quero penar o que eles penam. Só é uma celebridade quem quer e quem deixa. A verdade é essa. Este programa acaba em fevereiro ou março e felizmente, passados 15 dias, ninguém vai lembrar-se de mim.
P.J. - Depende de cada um de nós como vai ser o dia a dia perante o reconhecimento público, perante o assédio.
E já sentem esse assédio?
P.J. - Sabe que vivi muitos anos no Brasil, onde é complicado lidar com isso porque as pessoas atacam. Bastava estar sentado ao lado de um artista para me pedirem um autógrafo, e insistiam, mesmo depois de dizer que não era ninguém. Em Portugal as coisas são mais reservadas e tranquilas, portanto depende se amanhã quiser ir para as festas todas. Se quiser tornar-me uma celebridade tenho aqui o trampolim certo.
E quer? Tornar-se essa celebridade?
P.J. - Vou continuar a ser exatamente da mesma maneira que fui até agora.
Já vos abordam na rua?
P.V. - A senhora da papelaria [risos]. E aconteceu-me há dias um senhor ter vindo ter comigo a dizer que as filhas gostavam de me ver em televisão e de ficar à espera do que é que eu ia dizer de mal...
P.J. - O que me acontece, e é estranhíssimo, é os meus amigos e as pessoas mais próximas terem começado a ver-me de outra maneira.
P.V. - Isso é verdade. Até agora perguntavam pelos meus artistas ou pela minha filha, agora perguntam como é que é estar no Factor X. É a primeira pergunta que fazem. Isto significa que não somos nós que mudamos, são os nossos amigos.
Começam a olhar para vocês de outra forma por vos verem em televisão?
S.T. - É isso... Já me disseram coisas do género: "A outra é que foi..." E eu fico a pensar: "Que outra?" Entre milhares de coisas que tenho para fazer, lá me lembro de que devem estar a falar de alguém do programa.
P.V. - E quando me perguntam se já encontrámos a Susan Boyle portuguesa? Não me perguntam pelos artistas com quem trabalho, como sempre fizeram. Neste momento, entre amigos, o Factor X é o primeiro motivo de conversa.
Isso é parte do fascínio da televisão, o conseguir chegar a tantas pessoas.
P.J. - Em TV é tudo muito mais rápido. Senti isso logo após o primeiro programa. Sabe como? Vou sempre almoçar ao mesmo sítio e, apesar de não me assediarem, sinto trezentos olhares que não existiam. E os empregados do restaurante? São de uma simpatia...
S.T. - Pode ser que comeces a almoçar de borla [risos].
P.J. - Não, não. Continuam a cobrar.
S.T. - Isso é porque não estás no star system norte-americano, onde te oferecem coisas. Cá pensam que se apareces em televisão é porque estás rico!
"O streaming não é o futuro. É o presente"
O país está em crise. E a música?
P.J. - Não. Nunca se fez tanta música boa como atualmente.
Mas vende?
P.J. - Nesse aspeto já temos um problema. O mercado está a acompanhar a crise do país. Além disso, está a adaptar-se a um novo formato, que já não é só ouvir CD.
O que acham dos músicos que começam no YouTube e que não precisam de editoras e programas de televisão para se lançarem e sobreviver?
S.T. - Eu não vou ao YouTube!
P.V. - O único fenómeno do YouTube foi o Gangnam Style. Gerou cinco mil milhões de dólares em receitas. Devia existir mais cem, e dez serem meus [risos].
A indústria da música já se adaptou a um mundo que vive cada vez mais online?
S.T. - No caso dos The Gift temos vindo a adaptar-nos. Temos de perceber que a internet deixou de ser uma inimiga para passar a ser uma amiga. Se, por acaso, vendemos menos discos por causa da pirataria, também contamos com mais gente que conhece as nossas músicas nos concertos. Há um balanço.
O streaming é prejudicial ou vantajoso?
S.T. - Depende. Se do outro lado do mundo alguém for a um concerto meu porque ouviu a minha música é positivo.
P.V. - Ainda não percebemos a cem por cento como é que isto vai funcionar. A geração que vai trabalhar em música a seguir a nós vai beneficiar dos erros que estamos a cometer com o digital. Eu contratei uma pessoa para trabalhar as redes sociais dos meus artistas, algo que nunca pensei ser necessário.
P.J. - O streaming não é o futuro. É o presente. O que está a acontecer é que as pessoas que não compraram música durante anos estão agora a pagar uma mensalidade para a consumirem.
Isso é bom para quem faz música?
P.J. - É excelente. Quanto mais não seja porque não há aquela dificuldade de os discos não serem lançados em determinados países. As músicas estão disponíveis para o mundo inteiro.
P.V. - E isso permite-nos fazer um estudo de mercado, perceber em que território temos sucesso e poderemos investir. Eventualmente, uma editora local pode dizer que quer um disco físico. Os artistas portugueses têm de perceber que têm de ir tocar lá fora. Se não tiverem um hotel de cinco estrelas, ficam numa pensão.
S.T. - Poupa-me... olha que eu dormi muitas vezes na carrinha. Grávida!
Os concorrentes do Factor X têm noção do como é essa vida de artista?
P.V. - Para já só têm noção da dificuldade que é subir ao palco.
S.T. - Não têm. Quando vou ao supermercado e me dizem "o meu filho também é artista, toca trompete na banda filarmónica", percebe-se que, regra geral, as pessoas não sabem o que é isto de ser músico. Pensam que é só glamour e purpurinas. E isto é uma trabalheira desgraçada.
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