A taróloga conhece o segredo que tem dado bons resultados às manhãs da SIC. No dia em que recebeu a NTV, ficou a par de mais um truque: nunca se vestir no mesmo tom do cenário. Às oito da manhã os labirínticos corredores da SIC estão quase vazios. Quase. Entre os poucos profissionais que os percorrem, ainda sem o lufa-lufa da "hora de ponta", anda Maya. A taróloga acaba de chegar à estação de Carnaxide. Sem despir o casaco de pele, lança a mala e uma revista acabada de comprar para o lado, senta-se na cadeira da maquilhagem, fecha os olhos e prepara-se para, como diz, se "pôr bonita". Está a 60 minutos de entrar em directo com ‘Cartas da Maya - O Dilema’. "Então hoje não temos televisão?", questiona. "Ó querida, mete na MTV", pede à maquilhadora. "Viram ontem a entrega dos prémios [MTV Music Awards]? Eu vi quase até ao fim...", comenta. A entrada de Maria Ferreira, produtora do programa, interrompe o momento. "Bom dia. Maya, as unhas estão bem? Como ontem deu o Braga-Benfica...", pergunta, com um sorriso brincalhão no rosto. "Hoje estão...", ri-se a apresentadora. "Não assisti ao jogo todo", adianta.A calma que domina a apresentadora não é aparente. É, antes, sentida. Tal como a segurança com que lê nas cartas as respostas aos dilemas que preocupam os seus espectadores. "Eu chego aqui, faço o meu trabalho e vou-me embora", avança. O segredo do sucesso? Maya atribui-o aos muitos anos de experiência na área, mas também à sua forma de encarar a tarefa que lhe foi confiada. "A entrega e o rigor com que faço as coisas, o facto de não conceder facilidades... Não quer dizer que não cometa erros, porque isso todos cometem, mas aprendo com eles e procuro melhorar a minha performance. Errar e aprender faz parte da vida e estou satisfeita comigo própria", afirma. E na segunda-feira passada, dia em que recebeu a Notícias TV nos bastidores das suas "cartas", a taróloga aprendeu... Aprendeu que não deve vestir-se com roupa cor de laranja quando o cenário é dessa cor! "Morre, não é? Agora, a alternativa é tirar o vestido e apresentar o programa só de casaco. O que acham?", brinca, respondendo à indicação da produção. No estúdio 2 do Parque Holanda, Carnaxide, esperam-na o assistente de realização e três cameramen. Na régie, às escuras, está mais uma dezena de profissionais. A apresentadora prepara-se para gravar uma promoção para o programa do dia seguinte. Repete-a apenas uma vez. "Venha cá ver", pede, logo de seguida, à nossa revista. "É só isto que sei: o nome, a data e o local de nascimento, e se o problema que a pessoa tem está relacionado, como é o caso, com ciúmes", diz, mostrando os apontamentos que lhe foram dados no momento e que provam que fica a par do dilema apresentado no programa em simultâneo com os espectadores. "Não conheço a história para não ter ideias preconcebidas", fundamenta. São 09.55. Maya senta-se na mesa verde que está no estúdio e abre a "caixa de Pandora" onde guarda o baralho de Tarot. Deixo-o sempre aqui na SIC. Havia de ser bonito se tivesse de o trazer todos os dias... Ainda me esquecia e depois não havia programa", diz. Antes de a emissão arrancar, pede mais uma música, desta vez ao assistente de realização. "Põe lá aquela do 'facebuki'", diz. "Ai, eu sou tão mais sincero, eu digo tudo o que eu quero, anda lá faz-me um like"... As gargalhadas da taróloga misturam-se com as da equipa de produção. "Isto é maravilhoso", diz, referindo-se à Música do Maior Viciado do Facebook que ouviu na RFM. "Faltam dois minutos", avisam da régie. Durante a próxima hora, a taróloga atende quase dez chamadas e responde, sem rodeios, às questões que lhe são colocadas. "Este casal tem uma relação que está aí para durar. Digo-lhe mais: no prazo de um ano ela vai engravidar. Eles têm de se entreter com qualquer coisa, não é?", dispara para uma espectadora que estava preocupada por a filha de 19 anos e do namorado desta não estudarem nem trabalharem. Na régie ouve-se "ui..." "O Tarot é pragmático e objectivo. Eu não faço um programa assim para dizer o mesmo que os outros", justifica a apresentadora a sua frontalidade.
Crise potencia espectadores?
A actual situação do País pode ser uma "mais-valia" para programas como Cartas da Maya - O Dilema. A taróloga não tem dúvidas de que "em tempos de crise as pessoas agarram-se mais às coisas que lhes dão esperança". "Esta é uma área que sempre despertou curiosidade, mesmo aos que não acreditam nela. E, modéstia à parte, sou uma profissional em quem as pessoas confiam. Fui professora primária durante 20 anos e isso ajudou-me a saber comunicar", afirma. Júlia Pinheiro assiste na régie aos últimos 15 minutos do programa. Em silêncio. "Tenho a convicção de que as matérias ligadas ao esoterismo prático, ou seja, aquele que dá um ensinamento positivo a qualquer pessoa, deixam as pessoas mais optimistas. Mas não acredito que a crise que o País vive potencie espectadores", avança a directora de conteúdos da SIC. "Acho que o sucesso de Cartas da Maya deve-se mais ao facto de ser um espaço de entretenimento num horário em que nunca houve. Entretenimento com uma história, o dilema, com que muita gente se identifica", realça. Este espaço nas manhãs da SIC é um caso de sucesso do canal de Carnaxide. Quando se estreou, a 23 de Setembro, fez 12,6% de share. Desde aí, foi quase sempre a subir. Na passada segunda-feira a emissão alcançou 23,4%, o seu terceiro melhor resultado, logo a seguir às marcas de 25,5 e 24,5. "Este horário é muito difícil. Dizem-me - não sei porque só agora dou atenção às audiências - que foi da RTP1 durante anos, o que me leva a crer que está a fazer resultados não muito habituais e acima das expectativas", adianta a taróloga. "Agora, se são fruto do impacto daquilo que eu digo ou se são consolidados não sei", prossegue. Uma vitória para Maya, mas também para a estação que a contratou e principalmente para as manhãs do canal. O programa de Júlia Pinheiro também ficou a ganhar com a aposta: desde que a SIC transmite Cartas da Maya - O Dilema que Querida Júlia não voltou a baixar dos 17 pontos percentuais. "Estamos muito contentes com este formato porque os resultados superam os que esperávamos. Conseguimos impor-nos no horário do Bom Dia, Portugal [RTP1], que parecia de betão, o que só prova a eficácia do produto e que tínhamos razão quando achámos que valia a pena apostar nele. Depois, está a ajudar a fidelizar pessoas para o Querida Júlia", confirma a directora de conteúdos. "Claro que, além disso, é uma excelente proposta financeira porque gera receita", admite, referindo-se às chamadas de valor acrescentado feitas pelos espectadores. São 10.15. Maya e Júlia Pinheiro cruzam-se no estúdio. A primeira despede-se da segunda e cumprimenta o público que se prepara para entrar no estúdio de Querida Júlia. "Olha a tia Maya", dizem. "Até amanhã, minhas queridas, até amanhã. Antes de abandonar a SIC, a taróloga passa pela produção para entregar os microfones agarrados ao vestido cor de laranja. "Caraças, que frio que está sempre aqui!", ouve-se no cimo de umas escadas. A produtora Maria Ferreira ri-se: "Lá está ela a refilar com o ar condicionado. É todos os dias a mesma coisa!"
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