A Notícias TV e Nuno Azinheira juntaram à mesma mesa Herman José, Bárbara Guimarães e Teresa Guilherme, protagonistas da noite de passagem do ano na RTP1, SIC e TVI.
Bárbara também definhava de tristeza sem televisão?
Bárbara Guimarães - Também. Este 2011 foi um ano imenso. Trabalhei e trabalhei muito. E estou contente por ter trabalhado e de ter projectos em que me senti bem, em que fui e sou feliz."
Herman José - E ninguém te pode acusar de seres um elefante branco na SIC, o teu valor real foi muito bem utilizado nos projectos em que estiveste. Foste útil.
BG - O meu processo não é linear. Eu tenho feito um caminho.
Teresa Guilherme - Sim, mas este ano foi muito importante para ti, já to disse. Fizeste uma reviravolta, cresceste muito como apresentadora.
BG - Porque gosto de me pôr à prova. Quando foi o Portugal Tem Talento, houve quem achasse que eu me ia meter num buraco. Na fase das audições eu era a porteira de palco. Estava junto das famílias, a vibrar com elas. Era ali que me sentia bem. O formato original não é assim. Mas eu não arredei pé, era ali que queria estar.
HJ - Eu vou cometer uma inconfidência sobre ti.
BG - Ai meu Deus [gargalhadas].
HJ - Há uns anos, virei-me para a Bárbara e disse-lhe: "Tens de te descontrair. Tu és tão gira, deita fora os teus filtros, que não precisas deles."
TG - Mas isso tem que ver com a maturidade.
HJ - Pois tem, mas o que eu sinto é que a Bárbara deitou fora os filtros.
TG - E isso é mérito total dela, ela deixou de estar rígida nos formatos. Isso consegue-se à custa de muito trabalho, mas também da experiência, da maturidade. Ela teve a coragem de arriscar, de mexer com aquela imagem que ela tinha da linda que estava ali numa gala. Portanto, a mim, que te conheço há muitos anos, não me surpreendeu nada o teu bom relacionamento com os concorrentes no Portugal Tem Talento e agora com os gordinhos. Porque sei que tu és muito carinhosa.
HJ - Mas as pessoas não sabiam. A imagem dela era de uma pessoa muito rígida.
NA - Sim, a Bárbara tinha uma imagem mais... como hei-de dizer isto sem ferir...
BG - Diz da forma que já o escreveste...
NA - Pois, exacto, já o escrevi. A Bárbara tinha uma imagem mais plástica. E agora, neste último ano, revelou-se mais próxima dos espectadores e dos concorrentes. Muito mais afectiva...
TG - Mas ela já era afectiva. Sempre foi. O que acontece é que agora ela mostrou essa afectividade.
BG - É como eu vos dizia: isto é um processo. Eu comecei na televisão com 20 e poucos anos, já tenho 38, portanto... Se nós não tivermos a capacidade de nos relativizar e de nos reinventar, estamos mal.
NA - A Bárbara não se leva muito a sério?
BG - [pausa] Eu relativizo-me.
TG - Eu levo o meu trabalho a sério, mas não me levo muito a sério.
NA - Mas o Herman leva-se a sério...
HJ - Levo-me imenso a sério, é verdade.
HJ - Sim, mas depois, quando toca a eles, não têm sentido de humor nenhum. Eu já percebi, por exemplo, que não podia andar armado. Eu tenho arma e adoro. Sinto-me um homem inteiro com arma. Mas percebi que a arma tinha de estar guardada em casa [risos].
Quando é que percebeu isso? Na última reunião com Luís Marques, quando saiu da SIC?
TG - [gargalhada] Ai meu Deus, o que aí vem...
HJ - O que aí vem? Nem sabes tu o que aí vem [risos]. A Júlia Pinheiro está a chegar...
TG - [gargalhada]
HJ - Mas eu nunca tive uma reunião com o Luís Marques.
TG - [nova gargalhada]
NA - Não se esteja a rir, Teresa. Porque eu ia perguntar-lhe se não foi armada para a última reunião com o Luís Marques, quando saiu da SIC com estrondo. Aquelas reuniões para fazerem contas...
TG - [risos] Só me lembro de uma reunião...
NA - Sim, porque vocês os dois têm essa coisa em comum...
BG - Esse amor de estimação [risos]
TG - O Luís Marques fez-me muito mal.
NA - Mas fez-lhe muito mal porquê? Deixe-me lá fazer a pergunta: a Teresa não saiu com uma pipa de massa da SIC, quando vendeu a sua empresa?
TG - Tive de me bater muito com ele, porque ele não me tratou como eu merecia ser tratada. Tratou aquilo como uma guerra pessoal.
NA - Mas foi o negócio da sua vida...
TG - [prontamente] Não.
NA - A ideia de que saiu de Carnaxide multimilionária, à escala portuguesa, claro, não é verdadeira?
TG - Ganhei dinheiro, é verdade. Mas aquilo que eram duas empresas acabou por ser uma luta pessoal de um homem que não interessa a ninguém. Eu já o conheço há anos, desde os primeiros tempos da SIC e depois da RTP. Depois este homem torna-se poderoso e foi completamente mesquinho na forma como me tratou. Já com o Dr. Balsemão é diferente. Ele até pode pensar muito mal de mim, não faço ideia, mas a verdade é que sempre me tratou de uma forma muito civilizada.
NA - Consigo, Herman, a história foi diferente.
HJ - Muito diferente. A nossa história é extraordinariamente minimalista.
BG - Não sei se já repararam, mas estão a falar do meu director-geral [risos].
HJ - A partir de certa altura, na SIC, passei a ser um elefante branco. Não estou a dizer isto com ironia. Isto é real. Custava fortunas e não tinha enquadramento. Por pudor, nem sequer falaram comigo. Deixaram-me, pura e simplesmente, cair.
NA - Quando é que deixou de ser feliz na SIC?
HJ - O Rangel adorava-me. E o Manuel da Fonseca tinha por mim um encantamento total, que ainda mantém. Eu para o Manuel da Fonseca era uma espécie de Nossa Senhora de Fátima. Um príncipe. A partir do momento em que perdi o meu apoio total, começa com o meu querido Penim a dizer que queria acabar com o Senhora Dona Lady e, a partir daí, eu senti que não fazia parte daquela família.
TG - Mas o Penim adorava-te.
HJ - Mas isso não tem nada a ver. E eu dou-me muito bem com ele agora.
NA - Mas quando o Penim entra como director de programas da SIC, no final de Setembro, sentiu que as coisas estavam a mudar?
HJ - Senti que já não fazia parte daquela família. Passei a ser mais um incómodo do que uma mais-valia.
NA - Bárbara, faça favor de entrar na conversa. Não se acanhe, lá porque estamos a falar da sua entidade patronal...
BG - [risos] Eu ainda ontem me reuni com o Luís Marques. Liguei-lhe e ele atendeu-me.
TG - Mas a mim também me atende.
NA - Mas ainda falam? Tanta coisa, tanta coisa, mas afinal ainda se falam...
TG - [gargalhada] Quando preciso de falar com ele, ligo-lhe. E ele atende-me.
BG - Bem, mas independentemente das vossas experiências e opiniões sobre determinadas pessoas, o que a gente tem é de olhar para o futuro. E o que eu quero é continuar a trabalhar em projectos que me dêem capacidade de crescimento. E este ano, neste particular, correu-nos muito bem aos três. Os três trabalhámos e trabalhámos bem em projectos que nos deram gozo.
TG - E ganhámos dinheiro. E isso é bom, sobretudo neste tempo de crise. Voltamos ao início da nossa conversa. Eu sinto-me agradecida. Hoje dou muito mais valor ao dinheiro.
BG - E se calhar contentamo-nos com menos. Aprendemos a dar valor a outras coisas.
TG - Eu não sou empregada de ninguém. Eu acabo o programa agora e fico sem nada. Faz parte da nossa vida: umas vezes estamos no ar, depois ficamos parados. Eu nunca fui empregada na vida. Já tu, Bárbara, tens um empregador.
BG - Eu tenho. A SIC é a minha entidade patronal.
HJ - Já eu tenho imensos patrões. Não sou empregado da RTP. As Produções Fictícias produzem o programa e eu recebo a minha parte. Mas devo dizer-lhe que neste momento o meu ordenado televisivo é a minha última preocupação. Como vos disse, neste momento pagava para fazer televisão.
BG - Oh, Herman, tu não te desgraces. Tu não digas uma coisa destas...
HJ - Digo, digo.
NA - Bárbara, o teatro a si não a fascina?
BG - Sou uma óptima espectadora de teatro. Como tenho uma vida com tantas voltas e reviravoltas, tudo pode acontecer, mas não sei.
NA - Esta senhora começou tarde...
TG - É verdade, comecei bem tarde e adoro. Mas eu lembro-me de umas participações que fizeste na Floribella e que te correram bem.
BG - E na série Uma Aventura fiz de directora do Palácio da Pena [risos].
NA - Falemos do fim de ano. Teresa e Bárbara, vocês vão estar em directo. A Teresa no Campo Pequeno e a Bárbara na Venda do Pinheiro, nos estúdios onde a Teresa tem feito a Casa dos Segredos...
BG - [risos] Isso é bem giro. E sabes o que vai acontecer: a Cátia vence o teu programa e vai acabar por entrar no Peso Pesado.
TG - [gargalhada] Acho bem, porque ainda por cima ela está gordinha...
BG - Mas vocês estão cheios de dinheiro. Porque o Campo Pequeno é caríssimo.
TG - É um disparate. Eu acho que em Janeiro contrataram logo o Campo Pequeno. Por mim, nós não saíamos dali. É o meu lado Caranguejo a falar. Estamos ao lado da casa, era muito mais fácil.
BG - Por isso é que eu digo, a Cátia não vai encontrar o caminho e acabará por entrar no estúdio doPeso Pesado.
NA - Já que vão trocar de estúdios, troquemos também de apresentadores. Bárbara, e se fosse apresentar a final de Casa dos Segredos?
BG - Não, não [risos]. Eu deixar os meus gordinhos entregues à Teresa? Como é que eu apresentava aCasa dos Segredos? Como? Eu não sou tão boa a inventar factos como a Teresa. [Teresa Guilherme dá uma sonora argalhada]
BG - Isto é um elogio. A Teresa é perfeita para a Casa dos Segredos. Não podia ser outra. Ao longo destes últimos três meses, eu tenho ouvido o rebuliço que por aí vai. Mas o Peso Pesado faz-te alguma mossa...
TG - Acho, muito sinceramente, que o Peso Pesado correu muito bem. Os diários não, mas a gala ao domingo correu muito bem. E não estou a dizer isto por tu estares aqui, digo-o permanentemente lá na TVI. Sem a Casa dos Segredos, o Peso Pesado tinha sido um êxito ainda mais arrebatador. E na Endemol têm a mesma ideia. O Peso Pesado resistiu muito bem e portou-se melhor do que seria de esperar. Faz resultados melhores do que a própria SIC e nos intervalos de Casa dos Segredos, as pessoas vão lá espreitar.
NA – E a Teresa a apresentar o programa dos gordinhos?
TG – Adorava. Eu tenho esta tendência para engordar porque adoro comer. Portanto, adorava conhecer aquelas realidades.
BG – Mas eu também tenho tendência para engordar. Não és só tu e o Herman. Eu também…
[Herman e Teresa dão uma gargalhada conjunta]
TG - Tens um corpo perfeito. Olha a rapidez com que tu ficaste em forma mesmo depois de teres os bebés.
BG - Mas dá muito trabalho. O que eu acho estranho é o Nuno não nos perguntar onde é que nós gostávamos de estar no fim de ano.
NA - Mas pergunto, pergunto. Onde é que gostavam de estar no fim de ano?
TG - [risos] No Rio de Janeiro, que está sol e calor.
BG - Eu gostava de estar em Tróia, com o Herman [A emissão da RTP1 de fim de ano, com Herman José e o elenco do Estado de Graça, foi gravada. O humorista vai fazer um espectáculo no Casino de Tróia].
TG - Eu gostava de estar no Rio, porque assim não trabalhava.
HJ - Que engraçado, eu só sou feliz no fim de ano quando estou a trabalhar.
NA - E não se vai encontrar com o ministro Vítor Gaspar encarnado pelo Manuel Marques?
HJ - Não, mas ele faz brilhantemente. Aliás, o Manuel Marques faz brilhantemente tudo.
TG - É verdade, o Estado de Graça é óptimo.
NA - O Manuel Marques é o último dos seus "filhos" a florescer...
HJ - Com uma única diferença. É que o Manuel Marques é infinitamente grato. Ao contrário de outros.
BG - Vá lá Herman, isto é um almoço de festa. Ai, este homem...
HJ - Há uns que nem se lembram como é que eu me chamo [gargalhadas]. O Manuel é um tipo de grande carácter. E eu gosto muito disso nele.
NA - Portanto, se o Herman tivesse o seu próprio canal, o Manuel Marques tinha emprego...
HJ - Ah, claro que sim.
BG - E se nós tivéssemos, cada um, o seu próprio canal? Já pensaram nisso?
TG - Eu gostava. E vou ter. A programação do meu canal teria tudo aquilo que eu acho que as pessoas deviam saber. Olha, teria conselhos para não desperdiçar dinheiro em aquecimentos em Azeitão. Informar as pessoas sobre o que se passa no mundo e sobre aquilo que elas podem ter de graça ou a custo reduzido. Coisas do além, claro que também teria. Na verdade, o meu próprio canal seria um pouco do que eu fiz no Eterno Feminino. Mas em grande.
BG - E não terias um programa para falar com os mortos, tipo Anne Germain?
TG - [pausa] ...
NA - Boa dica, Bárbara. Já agora, acredita naquele programa? O que é que acha da Anne Germain [medium que diz falar com os mortos no programa Depois da Vida, na TVI]?
TG - [engole em seco]...
(risos) Até o atum custou a descer [Teresa Guilherme pediu naco de atum marinado em poejo]...
TG - [risos] Não, não. Apanhaste-me com o atum na boca. A Anne Germain? Não sei. Uma vez pedi para me encontrar com ela e ela não quis. Não sei porquê.
BG - Eh lá, eh lá!
E o seu canal, Herman?
HJ - Seria um canal dedicado ao luxo. Tout court. Charutos, vinhos, relógios, restaurantes. O meu canal seria para partilhar com as pessoas tudo o que há de fascinante por esse mundo fora. Mas realidades tão fora que nem sequer seja um desconforto não as ter. A maior transacção imobiliária individual na história dos Estados Unidos foi um apartamento no Central Park, n.º 15, 7.º andar, que foi vendido por 88 milhões de dólares, 70 milhões de euros. É tão interessante falar da vida daquela gente que dava para um canal. Eu abria o canal a especialistas.
TG - Portanto, o Herman fazia um canal sobre o sonho, eu um canal prático, para o dia-a-dia.
BG - Eu fazia um canal-teste, em que nós ensaiássemos formatos e que déssemos às pessoas o que realmente elas querem ver. Sem a pressão das audiências. Mas o teu canal sobre os prazeres também seria interessante, Herman. Olha, uma pessoa de quem eu gostava muito, e que tu também conhecias, era o Alfredo Saramago, o epicurista.
HJ - Mas eu não acompanhava muito as coisas que ele dizia. Eu estou noutro campeonato [risos]. Ele via a vida a partir de Portugal e eu vejo-a a partir do Palácio de Versalhes.
BG - Estamos entendidos [risos].
HJ - Peço desculpa por ser tão arrogante, mas eu sou assim. É como o livro do Sousa Tavares, que fala da perdiz... que se tempera com sal. Mesmo à portuguesa. Fica ali, tipo caldeirada, não é preciso mais nada. Não, falta tudo. Falta mariná-la, falta desossá-la, falta ir à procura dos cogumelos certos para fazer o recheio, falta tirar os fígados para os cozer ao vapor. É como a história das viagens. As pessoas dizem: "Ai, o hotel é indiferente, o que interessa é mudar de ares, é ver coisas novas." Mentira. Men-ti-ra. Um bom hotel é imprescindível.
TG - Concordo absolutamente.
BG - Mas isso também tem que ver com o nível de rendimentos das pessoas.
HJ - Não, não tem. Sabes porquê? Quando eu era puto, tinha o mesmo dinheiro que os meus colegas. Eles iam 15 dias para o parque de campismo de Lagos e eu, com o mesmo dinheiro, ia três dias para o Hotel da Balaia. Preferia três dias de sonho a fingir que era rico do que 15 estimulantes dias em parque de campismo.
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