Viu o pai fechar-lhe a porta de casa, mas isso não a fez desistir de representar. O Brasil e Portugal agradecem-lhe: Lília Cabral soma 30 anos de carreira e duas nomeações para o Emmy. O segredo? Recomeçar, sempre, do zero. A idade gravada no bilhete de identidade não denuncia a adolescência. Mas Lília Cabral, nascida em São Paulo a 13 de julho de 1957, estava longe de ser uma jovem de indecisões ou devaneios. Filha de Almedina Cabral, cidadã portuguesa, e Bertolli Gino, italiano, Lília Cabral, que por esta altura aparece na antena da SIC na pele de mulher-homem Griselda Pereirão, na novela brasileira ‘Fina Estampa’, cresce e é educada num ambiente de repressão. É na escola que encontra espaço para, aí sim, falar e agir livremente. A vontade de comunicar e expressar-se leva Lília a aventurar-se no teatro. Paralelamente, começa também a participar em reuniões de grupo e em encontros de jovens promovidos pela Igreja, onde conquista toda as atenções. Aos 14 anos, questiona-se: "Terei o dom da palavra?" O gosto pelas artes reforçam o desejo antigo de investir naquele que era desde criança o maior sonho: ser atriz. Inscreve-se na Escola de Artes Dramáticas da Universidade de São Paulo e é lá que faz o primeiro trabalho, ao participar na peça de teatro Feliz Ano Velho. A primeira atuação em televisão dá-se em 1981, na novela Os Adolescentes exibida na Rede Bandeirantes. Mas é em 1984 que desempenha o seu primeiro grande papel. A convite do diretor Dennis Carvalho que a viu atuar no teatro, é desafiada para trabalhar pela primeira vez numa novela da Rede Globo, Corpo a Corpo. Na trama, assinada pelo argumentista brasileiro Gilberto Braga, Lília Cabral interpreta a personagem Margarida Meireles Fraga Dantas, uma alpinista social. Os pais tomam conhecimento da proposta feita à filha e intimidam-na para que volte para casa. Mas a consagrada atriz, que estava decidida a vingar no mundo do espetáculo e a tentar uma carreira, decide ficar na capital carioca, Rio de Janeiro. A decisão não é, porém, recebida com agrado pelos progenitores e leva Lília a romper os laços por dois anos. O pai não aceitava a sua profissão e queria que ela estudasse Administração: ''Ele foi categórico: 'Já que vais para o Rio de Janeiro fazer teatro, não precisas de voltar mais'', conta Lília Cabral em entrevista, em 2011, à revista brasileira Contigo!. A atriz fica três anos sem ver os pais. O reencontro ficaria marcado pela dor: é diagnosticado um cancro no pâncreas à mãe, Almedina Cabral, que viria a morrer quando a atriz tinha 30 anos. O pai morre oito anos depois. Lília entra em depressão e desenvolve a síndrome do pânico. Refugia-se no trabalho.
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30 anos de entrega à Globo
Ao escolher ficar no Rio de Janeiro, Lília Cabral não sairia mais da cidade e da Globo. Ano após ano, conquista um sucesso que poucas atrizes brasileiras alcançariam. Alguns dos seus maiores sucessos televisivos incluem a participação em Tieta (1989); Pedra sobre Pedra (1992); Laços de Família (2000). Em 2003, surpreende tudo e todos quando surge à frente das câmaras de cabelo rapado na novela Chocolate com Pimenta. O seu trabalho e dedicação ganham repercussões fora do Brasil. Torna-se a única atriz brasileira a ser nomeada por duas vezes para o prémio Emmy. A primeira nomeação acontece em 2007. Foi indicada na categoria de Melhor Atriz por ter vivido na novela Páginas da Vida a amargurada Marta, que perde a filha grávida num acidente de viação e cria a neta, que sofre da síndrome de Down. Já em 2010, volta a ser indicada para o mesmo prémio pelo seu papel em Viver a Vida. Na novela de Manoel Carlos, a atriz interpretou o papel de Tereza, mãe de Luciana (Alinne Moraes), uma modelo que fica tetraplégica. O argumentista Aguinaldo Silva e autor de Fina Estampa - em que Lília assume o papel de protagonista - descreve a atriz como uma profissional dedicada e inteligente. "Ela é uma grande atriz, com grande capacidade de compreender as personagens. Por exemplo, na personagem a Griselda, ela cedeu-lhe um andar parecido ao Charlie Chaplin. Ela é uma atriz perfeccionista, preocupa-se com tudo, até com pormenores como o vestuário ou o calçado das personagens", conta à Notícias TV o argumentista brasileiro Aguinaldo Silva. A dedicação e entrega à frente das câmaras de é total. "Em Fina Estampa chegou a gravar 80 cenas por dia, mas nunca a ouvi queixar nem reclamar", conta o escritor e dramaturgo brasileiro. E acrescentou: "Às vezes, ela é até um pouco impaciente. Fica inquieta com o trabalho quando o realizador lhe diz que a cena está perfeita."
Atriz valoriza mais a família do que a carreira
Lília Cabral casou-se, pela primeira vez, com o cineasta João Henrique Jardim, mas o matrimónio durou pouco. Volta a casar-se, em 1994, com o economista Iwan Figueiredo, pai da sua única filha, Giulia, que nasce quando Lília tem 38 anos. Aguinaldo descreve-a como mãe exigente: "A filha dela quer ser atriz. Mas Lília já avisou: 'Você pode ser o que quiser, mas até lá terá de estudar e muito. E isso é a prova de que ela é uma mãe exigente no que respeita à educação de Giulia." É no conforto do lar que a atriz Lília Cabral é mais feliz. "A Lília é uma pessoa muito caseira. O que ela mais valoriza é a família, mais do que os prémios. Ela gosta da vida em casa." No palco, nos estúdios da Rede Globo ou em casa, Lília Cabral foi e é fiel ao seu coração. Talvez por isso continue a dizer: "Tudo o que a gente faz com amor vale a pena."
NTV
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