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9 de dezembro de 2012

"O público não é estúpido. É preciso é puxar por ele",Entrevista à Margarida Carpinteiro

Quase desistiu de fazer novela. Ganhou novo fôlego aos 69 anos e, agora, pede trabalhos “mais desafiantes” e na área do humor.

Gosta do seu papel em ‘Dancing’Days’?

Gosto. É o papel de uma matriarca de uma casa com muita gente, com muitos conflitos para gerir, mas uma mulher que sabe conduzir a família, e isso agrada-me.2012-12-07125217_CA967162-B341-4FEB-88DD-FECB0766BF67$$738d42d9-134c-4fbe-a85a-da00e83fdc20$$e2415497-cdf0-476c-a791-42b3756d8612$$img_carrouselTopHomepage$$pt$$1

É exclusiva da SIC?

Nunca fui exclusiva. Nunca quis. Não gosto de exclusivos.

Porquê?

Há uma parte da minha liberdade que me tiram, e isso não faz parte do meu feitio. Prefiro viver com preocupações. Quem é actor nunca tem nada de nada. Há coisas que o dinheiro não paga.

Por exemplo?

Fazer o que me apetece na estação em que me apetece, se for convidada para tal. E a obrigatoriedade de ir a esses espaventosos espectáculos de passadeira vermelha que agora se diz ‘Red Carpet’...

É mais feliz aceitando um trabalho de cada vez?

Sou. Sou actriz e quando vim para esta profissão sabia o que estava a escolher. Nós, actores da minha geração, desempregávamo-nos para nos empregarmos no desemprego. Nunca sabíamos o que nos ia acontecer, quanto íamos ganhar, se no dia seguinte tínhamos que comer… Isto dá uma disciplina de vida que me reconforta.

As novas gerações de actores têm essa disciplina?

Talvez não tenham. Mas é-lhes difícil manter os títulos que conseguem, porque há mais gente. Por outro lado, a disciplina era conquistada com muito sacrifício. Muito, mesmo. O sacrifício de não comprar quase nada durante um mês, a não ser o essencial, o sacrifício de não fazer férias, o sacrifício de ir para o estrangeiro e viver lá muito mal, mas estar muito feliz por se ter conseguido estar além-fronteiras.

A descrição corresponde aos actuais tempos de crise que vivemos….

Nessa altura, não se chamava crise. Chamava-se ser actor! A crise do meu tempo era ser actor. Mas a cultura esteve sempre em crise. E vai manter-se com as pessoas que governam este País. Não acredito que um país possa sobreviver sem cultura, sem conhecimento.

‘Dancin’ Days’ ganha ou perde pelo facto de ser um remake?

Os remakes têm duas facetas. Têm um lado negativo porque é uma história que já se viu, e que chatice pode ser ter de se ver outra vez. Por outro lado, os remakes são feitos tantos anos depois dos originais – e a vida hoje é tão alarmantemente evolutiva –, que depois achamos graça à historia. Foi o que aconteceu com ‘Vila Faia’ (RTP 1). Gostei muito de ver o remake, porque havia modernidade na história. Um remake nunca será uma repetição.

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Porque estarão agora na moda os remakes?

Não queria dizer, mas acho que se calhar há aqui alguma crise de criatividade. Nas novelas há os ricos, os pobres, os bons e os maus; mas se pegar neles com criatividade há histórias fabulosas. E a literatura é imensa.

Podia fazer-se melhor?

Podia. E há uma coisa que odeio: pensar que o público é estúpido. Se puxar pelo público, ele entende. Se o obrigar a pensar numa coisa que viu, é melhor do que ele ver e acabou. Não estou a defender que se façam coisas muito intelectuais, mas tem de haver um pequenino crescimento nestes formatos, um bocadinho de cada vez.

Em ‘Laços de Sangue’ foi uma florista, agora em ‘Dancin’ Days’ é uma matriarca. Estes papéis enchem-lhe as medidas?

Por um lado, tenho de aceitar o que me dão, porque vivo do meu trabalho. Por outro, gostaria muito de ter desafios.

Faltam desafios na ficção nacional?

Faltam. Às vezes até é melhor um actor estampar-se um bocadinho, mas sair desta rotina. Uma vez fui à Covilhã fazer um espectáculo sobre o Gil Vicente. Era uma encenação do Alberto Barroca, com algo de moderno. No final veio uma senhora, muito idosa, ter comigo que me disse: "Ai menina, dê-me cá um abraço. Não percebi nada, mas gostei tanto!" Gosto que o público sinta isto porque se não percebeu, mas gostou, vai voltar mais vezes. E é esse público que nós temos de chamar.

A televisão tem aproveitado as suas potencialidades no registo humorístico?

Gostava muito de fazer humor, ainda que seja mais difícil escrevê-lo e interpretá-lo. De graçolas estou farta. Agora, humor a sério é muito bom. E é um desafio tremendo. Gostaria, ainda antes de me ir embora, de fazer mais trabalhos de humor.

Foi uma boa opção ter trocado a TVI pela SIC?

No momento em que aceitei a SIC, estava disposta a não fazer mais novela. E foi-me lançado o desafio de tal modo que não pude rejeitar. Gostei de ter feito ‘Laços de Sangue’. Foi um emaranhado de emoções boas. Não fui para a SIC porque na TVI estava pior. Vim por circunstâncias da vida e, na altura, até pensei que não faria mais novela. A mudança aconteceu numa hora boa.

Porque achou que não faria mais novela?

Porque estava cansada! Fazer novela cansa muito,

É mais apelativo fazer séries?

É, ainda há pouco tempo fiz ‘Maternidade’ (RTP 1). E adorei!. Mas isto que estou a dizer é rapidamente apagado com uma frase: não há dinheiro. Hoje vive-se assim, todos queremos ganhar dinheiro. E acho que a vida não é isto.

E esta crise vai prová-lo?

Vai! Nem que seja obrigar-nos a pensar em quem votamos para acabar com este espírito de carneirinhos bem-comportados. É preciso puxar pela educação, pela disciplina, pelos valores, pelo rigor, pelo trabalho, pela dificuldade...Porque a vida é difícil.

Que mudou no modo de fazer novela desde ‘Vila Faia’?

Mudou a parte tecnológica, a escrita, que é mais rigorosa, mais cuidada, os figurinos, os cenários…

E a interpretação?

Sem dúvida, porque o actor tinha a preocupação de projectar a sua voz por causa do teatro, e hoje nem o teatro é assim. E isto notou-se muito na novela.

E o que piorou?

A facilidade com que se é actor. Basta ter jeitinho para, ter corpinho para … e actor não é isto! Um actor tem de ser um monstro quando é preciso, porque trabalhamos com emoções, e estas nada têm que ver com um corpinho esbelto. Todos gostamos de ver uma pessoa bela, mas se estamos a ver ficção queremos ver a verdade na cara do actor, a transparência, gostamos de acreditar na história que nos contam, e quando isso acontece, o actor tanto pode ser belo, como coxo e feio.

E como é estar no plateau a contracenar apenas com um "corpinho esbelto"?

Há jovens actores muito bons, que estão apenas no começo, mas que já julgam ser grandes. Há pouca humildade nas novas gerações. E com razão. Quem tem o apoio da imprensa? As grandes manifestações da fotografia, dos prémios, das marcas, dos patrocínios, da publicidade? Os novos actores! Mas em Espanha não é assim. A isto chama-se cultura.

E o teatro ganha com a novela e com os actores que a fazem?

O teatro não perdoa. O teatro é outra coisa. É cara a cara, olho no olho, não há desculpa, nem cenário, só uma verdade. Falo do teatro a sério porque agora fazem-se muitos teatrinhos.

Tem saudades do teatro?

Tenho, mas os convites não são muitos. E, em Portugal, para actrizes velhas há ainda menos.

É difícil arranjar papéis para mulheres da sua idade?

É. Até porque não se fazem grandes peças. Os clássicos são muito caros. Os modernos têm elencos muito reduzidos.

Em 1985, lançou o seu primeiro livro. Como viveu essa fase?

Fiquei aflita com o burburinho todo… Era chamada a todo o lado. Talvez por ser conhecida, acabou por ser mau para mim. Se fosse uma anónima, as pessoas liam o livro, gostavam ou não gostavam, e não se falava mais nisso. O público adorou. Os críticos arrasaram-me. Aquilo já não era fazer crítica, era dizer mal.

E escreveu mais três livros...

Porque escrever é uma paixão para mim. Continuarei a escrever até poder.

Tem algum projecto entre mãos?

Estou a escrever um livro de contos. Escrevo ao meu ritmo, porque não tenho tempo. Não consigo produzir em catadupa. Preciso de inspiração e tempo.

PERFIL

Nasceu "com muito orgulho" na Maternidade Alfredo da Costa, há 69 anos. Foi professora e funcionária pública. Fez teatro, cinema e é um dos nomes mais respeitados na televisão. Estreou-se com ‘O Passeio dos Alegres’. Ao lado de Herman José, fez ‘O Tal Canal’, ‘Hermanias’,‘Humor de Perdição’ e ‘Casino Royal’. Foi Mariette em ‘Vila Faia’, primeira novela portuguesa. Integrou elencos de novelas da RTP, SIC e TVI. Com ‘Laços de Sangue’ partilhou a alegria de vencer um Emmy. Fez várias incursões no cinema e recebeu, há semanas, o prémio de melhor actriz secundária com o filme ‘Assim, Assim’, de Sérgio Graciano.

CM

 

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