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7 de outubro de 2012

Entrevista ao Francisco Pinto Balsemão: "Se pudesse voltar atrás,não teria a mesma opinião"

GI05052010Mário Ribeiro000

'Vinte Anos de Televisão Privada' é um livro da investigadora Felisbela Lopes, que passa em revista a história do audiovisual português, através de entrevistas da própria a 20 personalidades diretamente ligadas à privatização do mercado televisivo. A obra chega esta semana às livrarias portuguesas.

Preside a um dos mais antigos e poderosos grupos mediáticos. O que levou a Impresa a candidatar-se, em 1991, à licença para a concessão de um canal privado?

O projeto vinha de trás. Em 1987, lançámos a primeira ofensiva. Produzimos uma cassete, que depois mandámos a várias entidades e personalidades, em que ouvíamos pessoas da área dos media e outras fora deste campo sobre a necessidade de haver televisão privada em Portugal.

Quando a Constituição Portuguesa ainda o impedia...

Sim. Essa alteração ocorreu em 1989, mas talvez isso tenha resultado da pressão que se fazia sentir. Quando a TV privada tinha vingado em toda a Europa, era inacreditável que isso não fosse uma realidade em Portugal. Começámos a preparar-nos para isso na década de 1980, criando duas empresas: uma de aquisição de direitos para filmes e reprodução em cassete desses filmes e outra para a respetiva venda. Começámos a ir aos mercados e a perceber como é que eles funcionavam, pelo menos na compra de direitos audiovisuais.

Que expectativas tinha para o novo canal?

Tive logo a certeza de que precisava de um aliado, de um sócio que soubesse mais de televisão do que eu. Fui ao Brasil. Falei com os principais proprietários de redes de televisão. Entre eles, com o fundador da Rede Manchete, Adolfo Bloch, que me disse: "Quer ter um ataque de coração, quer passar noites inclementes, quer sofrer? Então meta-se num projeto de televisão!" Desencorajou-me completamente. Mas a conversa que mais me impressionou foi a que tive com o fundador da Rede Globo, Dr. Roberto Marinho, e decidi que era com ele que queria trabalhar. Não foi fácil porque, naquela altura, a Globo tinha uma má experiência em Itália, através da Tele Monte Carlo, que lhes tinha corrido mal. Se a minha primeira preocupação foi arranjar um aliado que soubesse de televisão, a segunda foi arranjar sócios portugueses da área dos media: desde a Castello Lopes às Publicações Europa-América, ao grupo O Jornal, a outros sócios ligados ao cinema como foi o caso da Lusomundo. Também tive a preocupação de integrar grupos financeiros e empresariais de Lisboa, como Espírito Santo ou Mello, e do Norte, como Riopele ou Porto Editora.

Em que medida a Globo ajudou a SIC?

A Globo ajudou-nos a vários níveis. Tivemos pessoas da área técnica que nos aconselharam sobre, por exemplo, o tipo de equipamento a adquirir. Finalizado o projeto de grelha, fui ao Brasil ouvi-los e eles destruíram boa parte do que tinha levado, levando-nos a reformular a programação.

Não era suficientemente forte para atacar a RTP?

Eles achavam que não, mas o propósito não era só atacar a RTP. Era preciso ter uma presença nova, mais marcante, para captar audiências. Nesse momento inicial, a ajuda da Globo foi decisiva. A partir daí, tivemos de andar pelos nossos próprios pés. Por outro lado, é preciso dizer que a luta pela programação da Globo, nomeadamente pelo exclusivo das novelas, só foi vencida em 1995, quando começámos a ganhar as audiências. Até aí, a Globo teve o cuidado de continuar a vender à RTP.

Porque é que a SIC arrancou no dia 6?

Quando posso, arranco com os meus projetos num dia 6: o Expresso começou a 6, o PSD foi anunciado num dia 6, a Caras saiu num dia 6. A SIC Notícias só não iniciou as emissões a 6 porque era um sábado. Não sou supersticioso, mas, se puder ser a 6, é.

Olhando para trás, que leitura faz da rápida conquista das audiências por parte da SIC?

Não acho que tenha sido muito rápida.

Em 1994, a SIC era líder de audiências depois do Jornal da Noite e, em 1995, começou a liderar o horário nobre...

Foram precisos quase três anos. Achei que tudo ia ser quase instantâneo pelo contraste, pela diferença. Todavia, as pessoas são mais conservadoras, agarram-se àquilo a que estão mais habituadas e, até mudarem, demoram algum tempo. Passámos alguns anos complicados, porque eu tinha dito aos acionistas que só precisava de um determinado capital e acabei por lhes pedir dois aumentos e, em cada um deles, para não perder posição, tive, pelo meu lado, de arranjar dinheiro.

Pensava conquistar a liderança de audiência em quanto tempo? Um ano? Dois?

Até antes. Mas convém lembrar que a RTP gastou muito dinheiro na programação, tendo comprado conteúdos, por exemplo, filmes e séries americanos que nem sequer emitiu. Também os direitos de desporto, nomeadamente do futebol, estavam todos acautelados.

Uma das marcas da SIC é a informação, promotora de um jornalismo pró-ativo em relação aos vários campos sociais. Que jornalismo foi esse que desenvolveram?

Foi um jornalismo mais independente e mais irreverente em relação ao poder político, feito com gente mais nova, mais atrevida e, sobretudo, focando assuntos que normalmente não eram tratados em televisão. O Praça Pública é o exemplo sempre citado. É um bom exemplo.

A política foi sempre um dos campos mais mediatizados na TV. De que modo nestes anos a SIC condicionou a política?

Nós não devemos existir para condicionar a política. Existimos para relatar o que acontece e hierarquizar os assuntos conforme a sua importância, segundo critérios jornalísticos deontologicamente aceitáveis. Depois, as pessoas formam a sua opinião e isso, que é uma consequência da prática do jornalismo, é que pode ou não condicionar a política.

(...)

Num documentário feito por Mariana Otero, Cette Télévision c'Ést la Vôtre, emitido a 21 de outubro de 1997 no ARTE, o então dire- tor-geral da SIC, Emídio Rangel, dizia que "uma televisão com mais de 50% de share pode vender tudo, até um presidente da República". Concorda com esta frase?

Esse documentário acabou por ser um abuso de confiança por parte da equipa que o produziu e a que demos todas as facilidades de circulação dentro da SIC. Não se pode usar desgarradamente tudo o que se grava. A frase que cita, e que se tornou um soundbite, pode ajudar a explicar a influência que um canal de TV tem. Mas devia ter sido inserida no contexto em que foi proferida porque, como é óbvio, não se pode vender um presidente da República como se vende uma pasta de dentes. Esta será uma interpretação talvez benévola, mas aceitável.

Sendo a informação um vetor tão importante, porque é que, a partir de 2000, a SIC generalista a subtraiu da grelha depois do Jornal da Noite?

Tínhamos efetivamente um noticiário ao final da noite. Deixámos de ter porque chegámos à conclusão de que não tinha audiências. Não fomos só nós a fazer isso. O canal de serviço público também não tem noticiário à meia-noite, pois não?

Mas a SIC e a TVI deixaram de emitir informação depois do noticiário das 20.00, preferindo apostar no entretenimento...

Porque os programas com mais qualidade informativa deixaram de funcionar. Um exemplo claro é o do fantástico programa da BBC O Século do Povo que nós comprámos, solicitando ao Dr. Mário Soares comentários sobre cada episódio. A primeira emissão foi para o ar por volta das 22 horas, mas as últimas foram emitidas por volta da meia-noite, porque havia o compromisso de as passar, embora soubéssemos que mal o programa começava dezenas de milhares de telespectadores mudavam imediatamente de canal. As pessoas não parecem interessadas neste tipo de conteúdos, a não ser em momentos marcantes, como os períodos eleitorais. Nesses, a televisão continua a fazer enorme diferença em relação a qualquer outro meio, por mais que se fale da internet e das redes sociais.

A SIC Notícias compensou esta redução de informação na SIC generalista?

A SIC Notícias é um grande projeto do qual eu tenho muito orgulho, mas que serve um público muito mais restrito, esse, sim, que quer ver informação. Talvez atinja as pessoas que contam, quer em Portugal quer noutros países, como é o caso de Angola, onde o canal tem muita audiência. Este projeto demonstra que há uma grande apetência de um grupo de telespectadores que põe a informação como prioridade em termos de consumo televisivo. Aliás, só em Portugal é que os três jornais de televisões generalistas da noite têm mais de uma hora, sendo vistos, diariamente, por cerca de três milhões de pessoas.

Para continuar a ler a entrevista ao Dr. Francisco Pinto Balsemão, clique em Ler Mais!

Como é que interpreta isso?

Acho que os portugueses gostam desse tipo de informação. Os noticiários também evoluíram, misturando a notícia pura e dura com outras estórias.

Isso é bom ou é mau?

É bom! No tempo de Manuel Fonseca [diretor de Programas da SIC até 26 de setembro de 2005, cargo que ocupou durante quatro anos], tentámos terminar o Jornal da Noite às 21.00 em ponto. Sabe o que acontecia? As pessoas mudavam para os outros canais, pois queriam mais notícias.

O Telejornal hoje é muito mais do que um alinhamento de notícias. Como o podemos caracterizar enquanto género?

Mantém uma parte de telediário, pois não deixa de dar as notícias do dia, nacionais e estrangeiras, de desporto, de economia, de cultura, etc. Até para preencher um tempo que ultrapassa os 60 minutos, também inclui programas que nós incorporamos aí, mas que são reportagens mais ou menos intemporais.

(...)

Voltemos a falar da SIC Notícias. O que falta a este canal?

Cada espectador terá uma opinião diferente. A mim, como espectador, faltam-me mais notícias do estrangeiro.

E do chamado resto do país...?

Temos uma boa rede de correspondentes e procuramos não dar a Lisboa mais importância do que aquela que na verdade tem.

A opinião não é muito concentrada em Lisboa?

Com os novos estúdios do Porto e com o reequipamento que estamos a fazer, espero que isso melhore. Mas acho que se podem fazer mais coisas no Norte. Em termos de opinião, o país, além de Lisboa, estará pouco representado com regularidade. É possível melhorar isso, pois hoje existem facilidades técnicas que o permitem.

Não ter comprado o formato Big Brother foi um erro colossal para a SIC?

Continuo a achar que, na altura, isso não foi um erro. Se pudesse voltar atrás, e tendo em conta a programação que depois surgiu a esse nível, se calhar não teria a mesma opinião em termos comerciais. Mas é o tipo de programa de que não gosto, não apenas pela devassa da vida privada que o formato potencia e que os candidatos também permitem, mas pelo lado da denúncia e da expulsão. Sempre odiei quem denuncia, quem faz queixas... a PIDE. Isso choca-me. A Casa dos Segredos talvez seja pior.

Mas não o incomoda também a devassa da vida privada?

Incomoda-me muito. No entanto, quando nas redes sociais as pessoas se predispõem a isso voluntariamente, se calhar sou eu que estou enganado. Indignamo-nos por sermos filmados por câmaras de videovigilância na rua, num elevador ou numa loja, mas não experimentamos a mesma indignação ao ver fotografias, pensamentos íntimos, descrições da vida privada no Facebook ou vídeos pessoais no YouTube. Isso aflige-me.

O que também mudou foi a preferência dos portugueses relativamente às novelas da Globo.

Não diria que mudou completamente.

Mas houve uma progressiva preferência pela ficção nacional.

Sim, houve uma revolução e aí a TVI teve mérito. A SIC foi um pouco atrás. Agora estamos a conseguir competir.

A que se deve esta alteração de preferências da ficção brasileira para a portuguesa?

Talvez a uma questão de guião, de encenação, de realização... Acho que as pessoas, a partir de determinada altura, começaram a gostar mais de ver ambientes em que se reconheciam. A conclusão a que chegámos é que também tínhamos de ter novelas portuguesas e estamos a fazê-las, mais uma vez com uma boa parceria com a Globo, mas não deixamos de emitir as novelas da Globo, que, com altos e baixos, como sempre aconteceu, continuam a proporcionar boas audiências e, de uma maneira geral, são de grande qualidade.

Sempre foi muito crítico do serviço público de televisão. O que deve ser o serviço público de televisão e como deve ser financiado?

Teoricamente, gosto do modelo americano, em que uma parte substancial do financiamento é assegurado, com encorajamento fiscal, pela comunidade, ou seja, os indivíduos, as empresas, as fundações, as associações, havendo outra parte do financiamento que é estatal. Aí, as estações de serviço público existem porque as pessoas que esses operadores servem querem tê-las. Na Europa, este modelo não é possível por razões históricas. Temos um sistema de coabitação entre operadores públicos e privados que em alguns países foi mais bem resolvido do que noutros.

Em Portugal não foi bem resolvido?

Acho que não. Mantém-se a publicidade. A BBC nunca teve publicidade.

A RTP não deveria ter publicidade?

Não.

E um canal de informação?

Não vejo qualquer razão para que tenha.

Quantos canais deveria ter um operador público?

Basta um, que deveria ser generalista, universal e gratuito.

Não deveria ter um canal internacional?

A minha proposta, desde o princípio, foi que nos associássemos para ter uma programação melhor do que aquela que cada um de nós pode dar separadamente.

Parece ser a tese do ministro Miguel Relvas.

Vem tarde. Entretanto, montámos a SIC Internacional, cuja programação, na minha opinião, é melhor do que a da RTP Internacional. É um negócio que dá dinheiro. Criámos uma marca SIC Internacional, que vai daqui até à Austrália e que também vale dinheiro. Se me compensarem pelo negócio que perco e pela marca que deixa de existir, estou disposto a conversar. É o que tenho dito ao atual governo [primeiro governo de Pedro Passos Coelho]. Se não me compensarem, não me venham pedir sacrifícios, depois de terem recusado, na altura, o que propus.

Falemos da Impresa e da respetiva relação com outros grupos, nomeadamente com a Impala e com a Ongoing.

A Impala também fazia parte do tal grupo inicial que referi.

Mas, ao longo destes anos, a Impresa teve alguns diferendos, quer com a Impala quer com a Ongoing, embora muito diferentes um do outro...

Sim. O diferendo com a Impala deu-se logo nos primeiros tempos da SIC. Havia um conceito de televisão por parte da Impala que não coincidia com o nosso e a Impala entendeu que se tinha equivocado no apoio ao projeto e acabou por sair. Quem conhecer as publicações da Impala, verificará que há uma certa diferença em relação àquilo que nós fazemos. A história da Ongoing é completamente diferente. A Ongoing tomou uma posição crescente dentro da Impresa, comprando ações na Bolsa. Na sequência disso, foi-lhes oferecido um lugar no conselho de administração, que aceitaram. Depois disso, tentaram comprar uma posição relevante na Media Capital e a ERC entendeu que tal não era compatível com a presença que tinham na SIC. Nessa altura, reconheceram que a situação em que se encontravam era equívoca e tiveram o bom senso de voluntariamente renunciar ao cargo que ocupavam no CA. Mas como não conseguiam vender a posição que tinham na Impresa pelos valores que pretendiam, iniciaram, a partir da AG de 2010, uma imprevisível e injustificada luta contra a Impresa. O primeiro passo que deram foi pedir na AG ordinária da sociedade que lhes fossem fornecidos elementos de gestão que são confidenciais, para mais tratando-se de uma sociedade concorrente, como é o caso da Ongoing. O que lhes foi evidentemente recusado, não só por nós, mas também pelo tribunal no processo cautelar que interpuseram. Lançados na vertigem judicial, partiram para um imenso rol de ações judiciais contra a Impresa, ao todo, até agora, oito, das quais já perderam duas na 1.ª instância e uma na 2.ª, sem que tivessem ganhado o que quer que fosse.

(...)

Sente-se magoado com este posicionamento?

Os meus sentimentos pessoais interessam pouco. O meu maior amigo de toda a vida era o Eng. Luiz Vasconcellos [pai de Nuno Vasconcellos] e penso que, se ele cá estivesse, possivelmente nada disto teria acontecido.

Acha esta situação dispensável?

Completamente.

Mas é irresolúvel?

Nada é irresolúvel, se a Ongoing deixar de ser acionista...

E isso é possível?

O problema é deles, não é meu. Se não estiverem bem... Eu mantenho a minha posição, os outros sabem qual é. Portanto...

Por onde é que irá desenvolver-se o grupo Impresa?

Estamos numa fase de crise. É preciso ter muito cuidado com aquilo que fazemos. Por outro lado, a aceleração da revolução tecnológica concede-nos oportunidades. Um exemplo que lhe posso dar é o das apps para os tablets.

E como é que esse negócio se pode aplicar à televisão?

Na televisão, vamos ter de caminhar cada vez mais para a interatividade, para uma associação com as telecoms que permita aproveitar o seu potencial tecnológico e para uma associação com os próprios fabricantes de equipamentos em que as televisões já venham elas próprias equipadas com widgets e com conteúdos nossos. Por outro lado, o crescimento que temos tido com a venda de assinaturas dos nossos canais para países de língua portuguesa, como é o caso do Brasil e de Angola, são sinais positivos. Em termos mais genéricos, temos de conseguir que os nossos conteúdos, sejam os da imprensa, da internet ou da televisão, possam ser considerados como um todo, colocável nas várias plataformas, conforme as características de cada uma e os destinatários.

(...)

Uma televisão do futuro, a curto prazo, será uma televisão muito diferente daquela que temos agora?

A curto prazo não, mas a over the top television vai funcionar cada vez mais, o que coloca problemas de distribuição diferentes dos atuais. Penso que isso não será a curto prazo. Em Portugal não é com certeza. As pessoas tenderão a querer fazer uma programação mais pessoal, mas continuará a haver muita gente que gosta de chegar a casa, cansada do dia de trabalho, sentar-se no sofá e ser uma audiência passiva.

Onde estarão as maiores dificuldades nesta mudança de paradigma: nas enraizadas práticas jornalísticas, nos hábitos das audiências, nas limitações tecnológicas?

Em tudo isso, mas a inovação também será uma questão de capacidade de investimento. Vamos ter de cometer erros para chegar a resultados. E os erros, mesmo que sejam cautelosamente praticados, custam caro.

Em 2012, deu-se o apagão analógico. O que correu mal na transição para a TV digital?

O processo da TDT, entre o momento em que foi decidido e agora, tornou-se tecnologicamente obsoleto. Quando tudo estiver montado, já não vai ser preciso. Preocupa-me o facto de se ter gasto muito dinheiro com uma tecnologia que já está velha. Insistiu-se cegamente num processo, sem se prever que, quando concretizado, tudo já estaria desatualizado. Estou a falar a nível europeu. Claro que, com isto, o Estado pode ganhar muito dinheiro, porque tem à sua disposição um espaço radioelétrico que não existia. Veja-se agora o concurso para o 4G, feito em espaço libertado por nós, sem nada ganharmos com isso. O famoso dividendo digital vai para o Estado, mas nós também deveríamos beneficiar do valor monetário de uma parte do espaço que disponibilizámos ao abandonar o analógico, até para nos equiparmos para a alta definição, para o 3G.

(...)

Quais foram as personalidades que marcaram estes vinte anos de TV privada?

José Eduardo Moniz e Emídio Rangel têm de estar presentes na lista, para o bem e para o mal. Almerindo Marques também. Cavaco Silva, que era o primeiro-ministro quando se decidiu a privatização, é também um nome importante. Na TVI, escolho Miguel Paes do Amaral.

O que lhe falta fazer no mundo dos media?

Vencer este desafio da crise, aproveitando as oportunidades que, entretanto, a aceleração da revolução tecnológica está a conceder.

É um grande desafio?

É, mas primeiro é preciso vencer e ultrapassar esta tempestade.

É um dos momentos mais difíceis que atravessamos?

É. Para mim, isto só é comparável com o momento do PREC, em que os bancos foram nacionalizados. Só que, nessa altura, os montantes em causa eram bastante inferiores. Estamos a atravessar uma fase difícil, muito difícil. Não calcula o que me esforço para não pensar só em contas e em custos e pensar no que podemos fazer mais. É preciso não nos deixarmos dominar pela psicose da crise, mas também não posso esquecer que ela existe. No entanto, sei que é fundamental animar as pessoas, mesmo quando eu estou um bocado desanimado.

 

 

 

NTV

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