
Apresentador, coordenador, autor e subdiretor de Programas da SIC, Daniel Oliveira é também diretor da SIC Caras, cujas emissões arrancaram no dia 6 de Dezembro. Aos 32 anos, o profissional de Carnaxide não tem mãos a medir. O segredo para conseguir desempenhar múltiplas tarefas, garante, está na autodisciplina e no método.
"Quando eu e a Andreia [Rodrigues] vimos todas as temporadas de Breaking Bad em três semanas ou quando decidi ler a Guerra e Paz, de Tolstoi, quando vou jogar futebol ou brincar com os meus sobrinhos. Só nestas alturas não penso em mais nada. Há uma dimensão da vida que é a mais importante e que tem que ver com a família, a mulher, os amigos e os interesses pessoais. Só aí a minha mente não sente necessidade de trabalhar." A exceção, confessa o próprio, é em todas as outras horas do dia. Daniel Oliveira, o apresentador de Alta Definição da SIC, é também subdiretor de gestão e desenvolvimento de conteúdos da estação de Carnaxide, além de autor e coordenador dos programas Fama Show, E-Especial e Gosto Disto!. Agora, acumula essas funções com a de diretor do novo canal SIC Caras, que se estreia hoje em exclusivo na Zon.
As múltiplas tarefas que desempenha fazem-se notar no olhar constantemente focado e no rosto quase sempre cerrado, sem grande margem para sorrisos rasgados. Não por antipatia, mas por concentração. O seu 1,92 metros de altura permitem-lhe percorrer os corredores da estação de Carnaxide em passo que parece acelerado, mas que é apenas proporcional ao comprimento das suas pernas. Um passo entre cá e lá, entre ali e aqui, sempre com várias missões às costas: ter a capacidade de contribuir para uma SIC mais forte, evoluir enquanto profissional, prosseguir com o Alta Definição e, finalmente, ajudar a construir a SIC Caras. Afinal, agora, "já não são [apenas] quatro programas para gerir. São esses quatro da SIC generalista, mais todos os outros da SIC Caras", desabafa.
O segredo para gerir dias atarefados como os seus está na "autodisciplina e no método". Além da equipa que trabalha consigo, e que faz que "a máquina esteja bem oleada" e o liberte "de funções mais executivas", Daniel Oliveira admite que, acima de tudo, o segredo de conseguir tocar "vários instrumentos" está na sua capacidade de trabalhar depressa. "Atenção: Não sinto que tenha mérito algum nisso. Trabalho rápido no sentido de não perder tempo, de conseguir identificar o que é essencial em cada momento e de aproveitar muitas alturas do dia aparentemente perdidas ou banais para fechar uma série de assuntos na minha cabeça, para encontrar determinada solução. Não gosto de perder tempo. Preciso de sentir utilidade e consequência a todo o momento", sublinha à NTV.
Quatro cafés e 15 a 20 reuniões por semana
"Tens de me dar uma lista com os nomes de todos os comentadores da Passadeira Vermelha e preciso de saber a que marcas estão associados", diz Marta Elias ao irromper pelo gabinete de Daniel Oliveira. Não sai um único som das quatro televisões, sintonizadas na SIC, SIC Notícias, SIC Radical e TVI. O diretor deixa de olhar as imagens que acompanham a notícia do acidente na obra do estádio do Mundial em São Paulo, no Brasil, para agarrar o teclado do computador. "Olha que são imensos", refere, ao mesmo tempo que envia um e-mail com o pedido da responsável pela publicidade da SIC Caras.
Nas últimas semanas, as que antecederam o lançamento, hoje à noite, do novo canal, o diretor tem andado numa roda-viva, principalmente porque não deixou de cumprir as tarefas que desempenha desde que, há seis anos, faz parte da estrutura da direção de Programas da estação de Carnaxide. Mais do que serem tarefas que não se confundem, nenhuma delas o confunde. "Gerir as responsabilidades é possível se compartimentar cada uma dessas realidades. Quando tenho de preparar uma entrevista para o Alta Definição procuro estar focado o mais possível apenas nessa entrevista. Quando estou a gravar faço exatamente a mesma coisa. No entanto, há uma série de tarefas que são passíveis de fazer em simultâneo", explica, para a seguir enumerar: "Posso estar a acompanhar a edição do Alta, a fazer o alinhamento de um outro programa e ainda a tratar, por exemplo, do follow up de e-mails pendentes."
Daniel Oliveira estaciona o seu carro nas instalações da SIC entre as 09.30 e as 10.00. Por vezes, chega já com um ou outro assunto extra resolvido. Como quando, na passada segunda-feira, esteve na Rádio Renascença para dar uma entrevista sobre o seu primeiro romance, A Persistência da Memória, editado em novembro. Mas esse, o mundo da escrita e também o da leitura, são diferentes e ocupam-lhe apenas as horas vagas, que Daniel também as tem. "Leio livros sobretudo à noite ou ao fim de semana. Preciso dessas ilhas de repouso, de mergulhar noutras realidades. Para escrever é diferente, porque exige um comprometimento com a história, uma disponibilidade mental e uma predisposição que nem sempre acontece", confessa. Talvez por isso, nesta nova etapa da sua vida, um segundo romance não esteja nos planos para um futuro mais próximo. "Tenho algumas ideias, mas nada prioritário neste momento", frisa.
De resto, o dia é passado num eixo que compreende o seu gabinete, as ilhas de grafismo do novo canal e as de edição dos programas que coordena. Os da SIC e os da SIC Caras. "Mostras-me como é que vais abrir a entrevista ao [João] Manzarra, por favor?", pede a um dos profissionais da edição das entrevistas de sábado à tarde. As brincadeiras do apresentador de Factor X fazem-no sorrir. "Começa o programa com a outra frase dele", decide. O apresentador ainda retém na memória a conversa que manteve com Manzarra, a mesma que foi para o ar no sábado passado, embora, cinco horas antes de ajudar na sua edição, tenha estado com Mariana Monteiro num hotel em Lisboa, a gravar o Alta Definição de amanhã.
São 15.30. Segue-se uma passagem pelos gabinetes de áudio. E depois uma outra, desta vez pelos do grafismo, em que o genérico do programa-âncora da SIC Caras está a ser montado. "O Passadeira Vermelha é produzido pela FremantleMedia, a mesma do Factor X, o que nos dá garantia de sucesso", refere. "Agora vou só ali num instante ao Boa Tarde. Vou falar com a Conceição Lino sobre o novo canal", anuncia.
Daniel Oliveira atravessa a rua que separa as instalações da SIC do Parque Holanda, de onde são emitidos os programas de entretenimento do day time da SIC. A sua entrada em direto está agendada para as 16.40. "Sou pontualíssimo. Em condições normais chego antes da hora", atira, sem tirar o cachecol castanho que lhe cobre o pescoço. "Vou só retocar a maquilhagem que me sobra de ter estado a gravar com a Mariana da parte da manhã", anuncia.
Os quatro cafés que bebe durante um dia normal não o impedem de bocejar enquanto espera a sua vez de entrar em estúdio. "Durmo cerca de seis a sete horas todas as noites. Deito-me tarde. Gosto de estender os dias", adianta à nossa revista. Os dez minutos de conversa com a apresentadora do programa das tardes não lhe alteram a postura. O olhar permanece concentrado. É assim que atravessa novamente a rua, de volta ao seu gabinete, onde além do computador, do telefone fixo, da secretária, das televisões e de alguns livros existe apenas um quadro com a inscrição "keep calmand show what your eyes say" (mantém a calma e mostra o que dizem os teus olhos). Cumprimenta quem passa por si e responde a quem o saúda. Antes de uma reunião com apresentadoras da estação - mais uma entre as cerca de 15 a 20 que tem por semana -, ainda há tempo para uma conversa com Aida Pinto, subdiretora de programação, antena e grelhas do universo SIC, com Pedro Boucherie Mendes, diretor dos canais temáticos de Carnaxide, e ainda com a produtora Vanda Frutuoso.
Acertar os horários dos programas e optar pela melhor sequência em grelha são as grandes preocupações. "Só a reunião que vou ter com a Andreia, a Vanessa [Oliveira], a Sofia [Cerveira] e a Liliana [Campos] não é sobre programas, mas sobre a festa de lançamento de sexta-feira [hoje]", diz. Quanto ao resto, parece simples, até porque a ajuda de Boucherie Mendes tem sido fundamental: "O universo dos canais temáticos tem lógicas, métodos e orçamentos substancialmente diferentes, mas o Boucherie, que é um dos melhores profissionais com quem já trabalhei, tem sido inexcedível em todos os processos de estruturação da SIC Caras e na identificação de possíveis problemas. Ele coloca todas as perguntas difíceis em cima da mesa e o facto de ambos respirarmos televisão torna tudo mais fácil e estimulante", diz Daniel Oliveira, para quem a "pouca tolerância ao erro" é um dos seus piores defeitos profissionais. "Tenho vindo a melhorar, não sendo permissivo, mas construindo algo em cima disso", admite, ao mesmo tempo que mastiga uma banana acabada de retirar de um cesto de verga colocado à entrada do seu gabinete. "Na maior parte das vezes consigo almoçar de faca e garfo, embora também esse seja um processo rápido. Os meus colegas não me dizem, mas sei que preferiam que as refeições fossem um pouco mais lentas e saboreadas", reconhece o profissional.
"O valor não tem idade"
Desta sua nova etapa, Daniel Oliveira espera "estar à altura dos desafios que se colocam, e que não são poucos num mercado em constante mutação". "Da responsabilidade que me foi atribuída sei estar à altura, mas em televisão não basta saber fazer ou, se quisermos, para saber fazer é necessário saber antecipar os imponderáveis, de forma a não sermos tomados pelas circunstâncias", justifica o diretor da SIC Caras, referindo ainda que quer que este canal "seja ativo e reativo e que isso seja percecionado pelo público". "Não nos podemos dar ao luxo, no momento atual, de fechar um canal de televisão em si mesmo. Vivemos a era dos conteúdos, em que a qualidade dos mesmos prevalece sobre os métodos de visionamento", sublinha.
Sempre com dois telemóveis, que vai espreitando e manuseando como se fossem uma continuação natural das suas mãos, o apresentador, coordenador, autor, subdiretor e diretor admite ter consciência das suas capacidades, mas também realça que isso é "bem diferente de ter expectativa de que todos tenham a mesma opinião". "Sobre a visão dos outros nada posso fazer, mas nunca olhei para a minha idade como um óbice ou vantagem para qualquer desafio que me tenha sido proposto. O valor não tem idade. Tenho a particularidade de ter começado muito cedo e ter feito muitas coisas, mas isso aconteceu sobretudo porque me propus a fazê-las e, claro, porque me foram dadas oportunidades. Não tenho uma visão superlativa de mim mesmo", frisa Daniel Oliveira, que diz que os objetivos que tinha quando aos 16 anos começou a trabalhar eram os mesmos de hoje em dia: comunicar e mostrar o seu trabalho. "Ser agora diretor da SIC Caras foi uma evolução do trabalho que tenho vindo a fazer, mas não uma consequência, até porque não vejo isto como um ponto de chegada", enfatiza.
E se, por acaso, aparecesse um rapaz ou uma rapariga à porta da SIC, tal como Daniel Oliveira fazia quando era adolescente? Teria o novo diretor um lugar para lhe oferecer? E que conselhos lhe daria? "Depende das circunstâncias. O mundo mudou muito. Recebo muitos pedidos de conselhos através do Facebook e dou-os na medida da minha disponibilidade. Metaforicamente, esses são os miúdos que estão a bater à porta da SIC", argumenta. "Mais do que isso: têm acesso direto a muitos dos profissionais que cá trabalham. Não são tempos comparáveis, mas sensibilizo-os muitas vezes para verem os "nãos" da vida sempre como uma oportunidade", termina.
Antes de ir para casa, Daniel Oliveira ainda tem tempo para abrir a correspondência que, entretanto, alguém deixou no gabinete. Mais CD e mais livros, que folheia cuidadosamente e empilha ali ao lado. Sempre com o olhar focado no futuro. "Viste os cartões? e viste o e-mails da Susana?", interrompe Vanda Frutuoso. A resposta é afirmativa. "Esta é uma das minhas vantagens: a de trabalhar com profissionais que são realmente os melhores nas suas áreas e esse é o melhor combustível que alguém pode ter", remata Daniel Oliveira.
NTV