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26 de dezembro de 2014

Entrevista ao António Cordeiro e à Rosa do Canto




A equipa da revista Notícias TV entrou na cozinha dos Pelicano e entrevistou os atores António Cordeiro e a Rosa do Canto, que interpretam as personagens de Laurinda e Henrique da telenovela 'Mar Salgado', em exibição em horário nobre de segunda-feira a sábado. Cúmplices e divertidos, dizem que a história da SIC ganha à concorrência porque a comida deles "tem melhor tempero". E não é que estão babados com os quatro filhos que a ficção lhes deu?
Leia um excerto da entrevista aos dois atores em seguida!


Como é quase meio-dia, se a Laurinda tivesse de pegar nos tachos e nas panelas que iguaria preparava o almoço?

António Cordeiro (A.C.) - Qualquer peixinho que não fosse da aquacultura dela. Eu trago peixinho fresco do mar...

Rosa do Canto (R.C.) - [interrompe] Eu tenho imenso cuidado com os oceanos, não vou com os arrastões dar cabo do fundo do mar. Por isso, é que embirro com ele...

A.C. - [interrompe] Nós temos uma relação muito curiosa

R.C. - [risos] Temos, temos!

São a típica família portuguesa com certeza?

R.C. - [risos] Mas não temos quartos.

A.C. - Não nos veem nunca na cama, o que já não é mau [risos]. Com a nossa idade não valia a pena [maisrisos]. Os nosso filhos quando querem, alugam um quarto no Hotel Salinas, como fez o Mateus [José Mata] depois de roubar as poupanças da mãe.

Qual é o segredo da família Pelicano ser tão credível aos olhos do público?

A.C. - Criámos uma relação com um carácter extraordinário, de grande proximidade e cordialidade, que está patente na imagem. Como gostamos uns dos outros, isso facilita em cena.

R.C. - Temos dias...[risos]

A.C - Em regra geral damo-nos muito bem. Aliás, até temos um jantar de Natal marcado.

Um jantar de Natal fora da ficção?

A.C. - Sim. Iremos sem as nossas personagens jantar a um restaurante simpático.

R.C. - Nesse dia não terei de cozinhar, alguém irá fazer o jantar por mim [risos].

Como é que vai ser o Natal da família Pelicano em Mar Salgado?

R.C. - A ceia será com o tradicional bacalhau com couves e batatas, mas também com polvo à moda do Minho porque sou minhota, e muitos doces: rabanadas, sonhos, arroz-doce e bolo-rei. E, claro, não vai faltar vinho do Porto.

O António e a Rosa não têm filhos e agora são pais de quatro, Filipe (Luís Barros), Eva (Liliana Santos), Mateus (José Mata) e Madalena (Filipa Areosa). Como é que se adaptaram a ser mãe e pai?

A.C. - Pensei como é que seria ser pai de quatro filhos crescidos e cada um com a sua personalidade. Por isso, quando criámos este coletivo, pedi-lhes para darem, além do contributo artístico, o contributo humano, de modo a entender como é que cada um deles se ligava comigo e com a Rosa. Faço justiça à Rosa por ser uma pessoa notável e atriz extraordinária.

R.C. - [agarra-lhe o braço] Obrigada. Mas, muito se deve ao trabalho do António que já me dirigiu algumas vezes e tirou-me alguns vícios.

Então, foi fácil criar o núcleo familiar?

A.C. - A nossa relação de amizade fez que eles, os nossos filhos, se sentissem em casa. No início disse-lhes: "Temos de parecer uma família à séria e, como tal, damo-nos bem e mal como outra família qualquer."

R.C. - Mas tivemos imensa sorte porque os nossos filhos, além de serem excelentes pessoas, são muito profissionais, ótimos atores e lindos.

Parecem ter sido desenhados com um lápis.

A.C. - Soubemos fazer bem a coisa [risos]. Os nossos filhos são todos muito bem parecidos e a única coisa má cá de casa é, de facto, aquele cunhado [Bento, personagem de João Ricardo]. Ele é uma desgraça e vai levar com um par de patins do Henrique e da Laurinda, como as pessoas irão ver lá mais para a frente.

R.C. - O nosso mais velho é parecido com o pai. Já as miúdas são bonitas como a mãe.

A.C. - O rapaz mais novo também é todo mãe.

R.C. - Mas olha [vira-se para ele]: o Filipe até é parecido contigo. Está a perder o cabelo [risos].

A.C. - Por isso é que me escolheram para o papel. Escolheram-no primeiro a ele e depois a mim para encaixar bem [risos].

Se tivessem tido filhos podiam ter a idade destes atores, os vossos filhos na ficção?

A.C. - É curioso que quando me tocou este papel comentei isso com a Rosa. Eu não tive filhos porque não calhou.

R.C. - Eu esqueci-me de ser mãe. Podia estar arrependida mas não estou. Nem quero ser olhada de lado por isso. Ter ou não filhos é opção de qualquer mulher. Costumo dizer que sou mãe solteira de dois gatos, o Tuga e a Mel. O António também tem gatos e adora-os.

Como é que se chamam os gatos?

A.C. - São quatro gatas. Não vou dizer os nomes porque isso é coisa de senhoras e elas são muito discretas.

R.C. - Diz lá... [pede a fazer beicinho].

A.C. - Tita, Mimi, Nina e Lolita.

O António é casado mas a Rosa esqueceu-se de dar o nó?

R.C. - Fui uma mulher muito amada, tive as minhas paixões, os meus namorados. Só que tenho um problema, não consigo dividir o meu espaço com ninguém porque sou muito independente. Já em Mar Salgado partilha a cozinha e a sala com o António Cordeiro.

A.C. - Quando me disseram que ia ter uma família, uma mulher e filhos, perguntei à Patrícia Sequeira [diretora de projeto]: "Por amor de Deus, quem é que vai ser a minha mulher?" Ela respondeu-me: "Não sabemos ainda." Fiquei um bocadinho preocupado porque se fosse alguém com quem não tivesse uma relação de alguma franqueza, simpatia e carinho era uma chatice. Defendo que os núcleos têm de ser muito fortes, pois só assim se é credível e isso passa lá para fora. Ultrapassamos as dificuldades com as pessoas em que acreditamos.

Como é que reagiram quando souberam que iam ser marido e mulher?

A.C. - Quando o telefone tocou e me disseram que era a Rosa do Canto suspirei de alívio. A seguir ligou-me ela e dissemos: "Uau!"

É a primeira vez que fazem um casal?

A.C. - Nunca trabalhámos como colegas. Dirigi a Rosa em várias produções. Uma delas foi numa armadilha que me pregaram, a DoceFugitiva (TVI), mas agora não interessa falar sobre isso. Na SP Televisão quando começámos a trabalhar na VilaFaia (RTP1) disse logo à Patrícia [Sequeira] que a Rosa tinha de integrar o elenco. Seguiu-se o Pai à Força.

Há quanto tempo é que se conhecem?

A.C. - Há 30 anos, quando vi a Rosa meio desnuda na peça Tanto Barulho [risos], em Lisboa.

R.C. - Nessa altura ainda estava na idade para me despir [risos].

Conheceram-se em Lisboa, mas o António é alentejano. Afinal, é de Serpa ou de Pias?

A.C. - Posso dizer à alentejana?

Mas tem de ser com sotaque...

A.C. - Sou das Pias, porra!

E foi logo "casar-se" com uma minhota?

R.C. - [a imitar o sotaque alentejano] Então não é que eu consegui um rapaz tão jeitoso e mais novo do que eu?

Voltando à ficção, em Mar Salgado são um casal muito unido. A vossa relação com os filhos é que, por vezes, se torna difícil.

R.C. - Acho que os educámos muito mal [risos].

A.C. - Isso acontece nas famílias. Cada pessoa segue o seu caminho. Não é por acaso que a nossa filha mais nova, a Madalena, se apaixona por um homem mais velho, o Sebastião [Ricardo Carriço], e está numa guerra pegada com o pai.

Isso vai resolver-se agora no Natal?

A.C. - O Henrique é um pai condescendente e como quer que os filhos sejam felizes vai aceitar as opções que eles fizerem. Tem de haver um desenlace louvável, agradável e bom para todos nós. Esta mulher [aponta para Rosa do Canto] quer tanto ter netos e, para já, vai ter um.

Isso quer dizer que a Vitória [Ana Guiomar] desiste do aborto e tem o filho?

R.C. - Sim, sim [risos]!

A.C. - Esse neto acaba por vir de um caminho tortuoso, já que pensávamos que o nosso filho Mateus não iria dar-nos essa alegria.

R.C. - Mas acho que a Sara [Bárbara Norton de Matos] também irá ter um bebé.

A.C. - Der por onde der, temos de ter, nesta família, um grande casamento ou dois...

R.C. - E nós? Se calhar, também vamos ter um, o que é que achas?

A.C. - Outro casamento?

R.C. - Não. Mais um filho.

A.C. - Tu já não estás em condições. O teu peixe já não te permite.

A Madalena está encaminhada com o Sebastião, o Felipe e a Sara vão ser papás, tal como o Mateus, e a Eva?

A.C. - Vai encantar-se com um homem, depois desencanta-se e encontra outro. Andará à procura do seu caminho..

Haverá famílias da classe média que se sentem retratadas em Mar Salgado?

A.C. - Podem existir. Já os ricos... não sei.

R.C. - A minha mãe era como a Laurinda.

Foi uma inspiração?

R.C. - Sim. Pensei bastante nela para fazer a personagem. Como mãe, era a melhor do mundo, já como sogra deixava muito a desejar. Amava tanto, mas tanto os filhos, que não havia lugar para amar alguém que pudesse entrar--lhe em casa e roubar-lhe a atenção dos filhos. Podia dizer mal dos filhos, mas não admitia que ninguém o fizesse. Era fantástica!

"Aqueles filhos são uma canseira"

Voltando ao almoço e ao peixe...

A.C. - [interrompe] Cá em casa não comemos só peixe, mas também cozido à portuguesa, ensopado de borrego.

E a Laurinda carrega no sal?

A.C. - Não, não. Temos muito cuidado.

R.C. - É mais na pimenta.

Então, é mais por causa da pimenta do que do sal que a novela ganha à concorrência?

R.C. - A nossa comida tem mais tempero.

A.C. - A Rosa, como inteligente que é, já está a dar um bom título para a entrevista. As pessoas apaixonaram-se pela novela desde o início porque é uma história macabra, tenebrosa e pesada. Toda a gente está à espera de um desenlace feliz para a Leonor [Margarida Vila-Nova] e que os maus sejam punidos.

Qual tem sido a reação do público?

R.C. - Há muito tempo que não era tão assediada. Durante anos, as pessoas vinham ter comigo e diziam-me: "Olhe, você tem tanta graça, gosto tanto de si, mas o Fernando Mendes"... Era a grande frustração.

Foi tantas vezes casada com ele na ficção que até correu o rumor de que namoravam...

R.C. - Nunca tivemos nada. Demos uma vez um beijo na boca e foi na ficção. Na altura em que trabalhava com o Mendes tínhamos uma empresa e trabalhava lá uma secretária. Um dia ela entrou numa loja, entretanto o Mendes tinha acabado de se separar da mãe dos filhos, e ela ouviu este comentário: "Eu até gostava da Rosa do Canto, mas desde que ela foi a desgraça daquele lar..." [gargalhada]

Agora, com a vossa cumplicidade na novela, ainda vão começar a brincar em relação ao António Cordeiro?

R.C. - É diferente. Ainda há alguns dias, quando andava às compras no supermercado, uma senhora veio ter comigo e disse-me que gostava muito da novela porque estão sempre a acontecer coisas. Essa é uma mais-valia de Mar Salgado, mantém o espectador preso à trama.

A.C. - Esse é o sal de que falávamos à pouco...

O público já separa a realidade da ficção?

A.C. - As pessoas vão sempre para o lado da ficção. Começam por me dizer que gostam de mim como ator, mas depois acrescentam: "Aqueles seus filhos são uma desgraça, uma canseira. Como é que vai lidar com cada um deles?" Digo-lhes que não posso contar a história e aí respondem-me: "Pois é, não conte."

R.C. - Eu quero pensar que o público separa as coisas porque já fiz de prostituta numa novela e não me apetece que as pessoas pensem que ando para aí a prostituir-me.

R.C. - Foi nessa altura que desgraçaste a casa do Mendes [risos].

Voltando a Mar Salgado, que outras mais-valias tem para ter caído no goto das pessoas?

R.C. - Acho que não há erros de casting. Todos os núcleos estão a representar e a defender muito bem as suas personagens.

Vai ser possível manter o ritmo ao longo dos 300 episódios?

R.C. - Quero acreditar que sim!

A.C. - A minha sensibilidade diz-me que pode vir a ter mais. Não digo 100 ou 200, mas 50. Os espectadores estão a gostar da novela e os atores irão deliciar-se com mais episódios.

R.C. - E muito provavelmente podemos vir a ganhar um Emmy?

A.C. - Ah! [suspira]

O António já tem um Emmy Internacional por Laços de Sangue. Mar Salgado pode trazer a terceira estatueta dourada para Portugal?

A.C. - Não tenho capacidade de adivinhar, nem sou de me preocupar muito com esses prémios. O mais importante é ver e gostar da novela.

R.C. - Eu também não me preocupo com os prémios. Mas achava piada se Mar Salgado ganhasse um Emmy.

A.C. - Tu andas é doida para ter em casa uma fotografia com um Emmy [risos].

Mar Salgado foi apresentada na recente edição do MIPcom, em Cannes, como uma das 20 histórias mais promissoras. Pode vir a ser emitida lá fora, como Laços de Sangue.

A.C. - Eu já estou em Itália a parlare [falar] italiano.

R.C. - E podemos ganhar mais algum?

A.C. - Mais o quê? Dinheiro? Toma juízo.

R.C. - Fazia uma obras aqui na cozinha, pintava os móveis de branco. Estou a brincar. Se pudesse levava esta cozinha para a minha casa, porque é moderna.

Enquanto não chega o Emmy, as audiências devem deixar o elenco eufórico. Desde a estreia, a 15 de setembro, que Mar Salgado apenas perdeu seis dias.

R.C. - A sério?!

A.C. - E para quem?

Para o final de O Beijo do Escorpião [4 de outubro], Casa dos Segredos 5 [15, 17 e 24 de outubro] e para o futebol [25 de novembro].

R.C. - Para o futebol até percebo e se foi um jogo do Benfica, então, entendo perfeitamente.

Foi para o Sporting-Maribor [Liga dos Campeões]. A vantagem média de MarSalgado sobre Casa dos Segredos 5 tem sido de 200 mil espectadores. É revelador que o público prefere a ficção à novela da vida real?

A.C. - Para mim continua a ser preocupante que os números da novela da vida real sejam esses [1,238 milhões], quando aquilo não é vida real, mas ficcionada. A nossa ficção é mais interessante do que aquela. As nossas personagens representam melhor. Gostos são gostos e não se discutem. Algumas pessoas podem optar por ver outras coisas, não obrigatoriamente Mar Salgado. As generalistas não estão muito apetecíveis, mas há tanta coisa no cabo...

A Rosa referiu que o casting de Mar Salgado ajuda ao êxito da novela. O elenco da Casa dos Segredos 5, e usando uma expressão dos próprios concorrentes, já não dá canal?

A.C. - Dá Canal Caveira ou Canal da Mancha [risos]. A mim parece-me que a qualidade de Mar Salgado, para os amantes de novelas, faz todo o sentido estar à frente nas audiências e ganhar da forma como tem ganho [com uma média de 1,426 milhões].


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