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7 de julho de 2013

Entrevista ao jornalista Hernâni Carvalho: "A RTP não trata bem os seus profissionais"

Entrou para a RTP, há 31 anos, por concurso público. Depois de duas décadas de jornalismo na estação pública, tem dado cartas ao longo dos últimos seis anos como comentador nas manhãs dos canais privados. À Notícias TV, Hernâni Carvalho não esconde o seu espírito crítico.
Quando lhe ligámos a pedir esta entrevista, a sua primeira reação foi perguntar "o que é que eu fiz de mal desta vez?" É seu costume fazer assim tantas coisas "mal"?
[risos] Não. As pessoas é que se incomodam muito com alguns comentários. A verdade é que tenho trinta anos de carreira e nunca fui condenado em tribunal, mas passo lá a vida.
Porque é que as pessoas se incomodam assim tanto com o que diz?
Provavelmente por ser assertivo no que digo. Não sou mais nem sei mais do que qualquer um de nós, mas olho de forma desassombrada para as coisas e chamo-as pelos nomes. Um touro é um touro. Ponto final.
E agarrar esse touro pelos cornos, como se diz, traz-lhe problemas?
Tem-me trazido ao longo da vida. O importante é fazer as coisas com honestidade. E falar com o advogado para lhe dizer "vamos ter mais um processo porque vou falar esta verdade" [risos].
Sabe quantos processos tem em tribunal?
Não [risos]. Acho que nem o advogado sabe.
Foi o seu percurso profissional que o levou a ser assertivo ou o facto de o ser é que o encaminhou para o jornalismo?
Provavelmente foi mais esta maneira de ser.
Sempre foi assim?
Sempre. E sempre paguei caro por dizer na cara das pessoas o que pensava delas.
Até que ponto é que a sua opinião está presente nos comentários que faz no Querida Júlia, na SIC?
Quando a dou a minha opinião, digo que o vou fazer. Quando um juiz dá como provada uma agressão sexual de um adulto a um menor e a seguir lhe suspende a pena, isto é um facto. É escandaloso? É, mas não deixa de ser um facto. Quando digo que, provavelmente, isto está mal, já é a minha opinião.
Passar os dias a lidar profissionalmente com o "lobo mau" da sociedade não lhe traz consequências enquanto pessoa?
Claro. Mas não é essa a vida dos médicos? Dos enfermeiros? Dos psicólogos? Estes só têm uma vantagem que eu não tenho: ajudam a curar. Eu não.
Nestes anos em que tem denunciado casos de criminalidade e justiça, houve algum que o tivesse chocado ou consegue distanciar-se de todos de igual forma?
Como jornalista, mesmo quando as coisas nos chocam, temos a missão de a partilhar, de a denunciar. Se estamos em missão, vamos até ao fim. Às vezes é difícil, mas é nessa altura que existem as esquinas, as almofadas e os cantinhos para poder chorar.
Fez em dezembro do ano passado 30 anos de carreira. Porquê jornalismo?
Não sei... já em miúdo escrevia nos jornais de liceu, da paróquia... Depois, em 1982, entrei para os quadros da RTP por concurso público. Foi na estreia das instalações da RTP na Avenida 5 de Outubro, em Lisboa. Comecei a colaborar na redação do Telejornal de fim de semana, na altura dirigido pelo Rui Tovar. Lembro-me da primeira investigação que fiz, sobre a aquisição de carros em grupo. Foi uma investigação dolorosa porque nessa altura as câmaras ocultas não estavam assim tão disponíveis [risos].
Ou seja, começou a trabalhar desde logo na área da investigação e do crime...
Logo. Eu só queria ser jornalista, mas quando somos novos fazemos aquilo que nos deixam. Tinha a vantagem de ter sido militar e voluntário na Cruz Vermelha, por isso estava minimamente dentro dos assuntos da Administração Interna. Como na altura esta área não dava muito glamour e ninguém a queria fazer, lá fui eu.
Acabou por ficar na RTP durante 21 anos. Como é que olha para a estação de hoje?
Como a melhor escola de formação deste país. Tem excelentes profissionais, gente extremamente honesta e que está sempre pronta para vestir a camisola pela casa. Entendo é que a RTP não trata bem os seus profissionais. Não é só os jornalistas, mas todos os que lá trabalham. Se calhar por ter uma estrutura grande, muito apetecida do poder político, instrumentalizada aqui e ali. Mas foi a grande escola de muita gente. Tudo o que sei aprendi ali. Agora, em termos do serviço público de que tanto se fala, de certeza que este não é andar a desperdiçar dinheiro à grande a imitar os canais privados.
É isso que acontece?
Basta olhar para as grelhas de programação. Mas eu não vejo a RTP. Preocupo-me mais com o meu trabalho.
Se olharmos para os canais privados, também se imitam um ao outro, ou não? Falo, por exemplo, dos programas da manhã, que são muito semelhantes...
Isso também é verdade, tenho de ser justo. Alguém, um dia destes, vai ter de ganhar coragem e romper com isso.
Quando diz que a RTP não trata bem os profissionais é em que sentido?
Não os valoriza. Uma vez vi um grande profissional apresentar um trabalho que tinha acabado de fazer no Sul de Espanha sobre emigração clandestina vinda de Marrocos ser destratado de tudo e esse trabalho ser mais tarde premiado. Portanto... não valoriza muito os seus profissionais. Basta pensar que a maior parte dos quadros da SIC e da TVI foram feitos com pessoas da RTP que estavam descontentes e ansiosas por outras oportunidades.
Alguma vez o trataram mal a si ou fala apenas do que viu acontecer com colegas?
[silêncio] Posso dizer que fui processado porque perdi um telemóvel em zona de guerra. Fui alvo de um processo disciplinar ao regressar do Afeganistão depois de fazer a célebre reportagem com o Nuno Patrício na zona dos talibã... Aquela reportagem que me deu uma menção honrosa que, enfim, soube-me bem, mas não dá de comer a ninguém [risos].
Não a viu como um reconhecimento?
Sim, isso sim.
Saiu da RTP em 2003 por estar incompatibilizado com opções editoriais relativas ao processo Casa Pia e foi trabalhar com jornais e revistas. Acabou por ir para as manhãs da SIC, depois para as da TVI e novamente para as da SIC. Quando se está em televisão há tantos anos, pensa-se em audiências?
Depende do mentiroso que estiver a entrevistar.
Estou a entrevistá-lo a si. É mentiroso?
[risos] Claro que as audiências me preocupam. Sou pago para ser visto. As pessoas que dizem que não se preocupam são mentirosas, pelo menos nesse momento. Já vi muito senhor dizer que não quer saber e depois a ter ataques porque as coisas não funcionaram.
E porque é que Júlia Pinheiro ainda não conseguiu ganhar o horário?
Isso não sei!
É consumidor de que tipo de televisão?
Vejo de tudo um pouco.
Menos a RTP...
Estava a ironizar quando disse isso. É claro que vejo a RTP, que tem excelentes profissionais.
Vê porque tem excelentes profissionais ou porque é um bom canal de televisão?
Bem, isso... Parece-me que ultimamente as apostas têm sido patetas.
Está a falar de algum caso especial?
É olhar para a programação e compará-la com a de há dois anos.
Hugo Andrade, diretor de programas da RTP, não tem feito um bom trabalho?
[silêncio] O que é preciso é saber alguma coisa de programação. Não podemos passar de uma área para outra apenas porque nos convidaram, nem ter acesso ao poder apenas pelo poder. Eu vejo maus resultados. Até se pode gostar muito de um treinador, ele pode ser bom rapaz e empenhado, mas se a equipa não ganha é porque ele não serve para o lugar.



Trocou o jornalismo pelo comentário. Esse reconhecimento não o fez querer continuar no jornalismo?
Mas se eu amanhã for convidado para ir para uma redação, estou aberto a isso. Têm é de me pagar o que eu mereço [risos].
Porque passou de jornalista a comentador?
Porque com todos os defeitos que os espaços da manhã possam ter, acabam de fazer mais para esclarecer as pessoas sobre algumas matérias do que 24 de informação. Ali há tempo para isso.
Sente-se a voz de muita gente?
Sinto que há muita gente que se identifica com muitas opiniões ou com os factos. Quando conto que um doente tem urgência em ser operado aos olhos, que o médico lhe diz que só daí a oito meses, é natural que muitas pessoas se identifiquem comigo porque isto é o pão nosso de cada dia dos portugueses.
Pedem-lhe muitas vezes ajuda?
Sim... sim... As pessoas pensam que nós resolvemos os problemas.
O Hernâni é pai e já disse em tempos, à Notícias TV, que os seus filhos foram ameaçados. Isso não o faz ponderar ser menos frontal?
Muito.
O que é que fala mais alto?
A noção que tenho de lhes dar de comer.
O que mais lhe dizem na rua?
Uma expressão muito engraçada: força!










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