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28 de julho de 2013

Entrevista à apresentadora Andreia Rodrigues: "A minha vida não é um 'Fama show'"



Destemida, radical e com um "bocadinho de loucura" à mistura. É assim Andreia Rodrigues, a apresentadora da SIC que a partir de domingo vai pôr à prova as fobias dos portugueses em Cante se Puder. Sem medo de cobras e lagartos, está apaixonada pela televisão e garante que é mais do que a namorada de Daniel Oliveira.

Veja toda a entrevista em baixo!

Já afinou a sua voz?

[Risos] Afinadíssima. Acho que cantar não é aquilo que melhor faço, mas porque não?! Se me pedirem para cantar...canto, sem problemas. Agora, não posso cantar muito para os espectadores se manterem do outro lado.

Cante se Puder marca a sua estreia como apresentadora dos domingos à noite. Está preparada para este novo horário?

O que dita o meu empenho não é nem nunca foi o horário no qual estou inserida. Por exemplo, se estivesse a fazer o Gosto Disto! num outro horário, não iria empenhar-me de forma diferente. Estou sim concentrada em retribuir ao canal a aposta que fez e muito feliz por essa aposta. Estou entusiasmadíssima com o projeto e a preocupação é ir ao encontro das expectativas. O meu empenho, esse, é sempre o mesmo independentemente dos programas em que estou inserida. Entrego-me sempre de corpo e alma àquilo que faço.

Mas sabe que os programas de horário nobre ao domingo são aqueles em que as estações investem mais atualmente.

Acho que as estações não são feitas de um só horário, são feitas de muitos horários. Todos os horários são importantes porque os espectadores da SIC quando falam da estação falam de um conjunto e este é feito pelos programas de entretenimento, pela ficção, pelo day time... por todos os projetos que a SIC tem.

O karaoke vai "matar" a concorrência?

Acho que a questão das audiências é sempre colocada de uma forma muito agressiva. Sei que vamos matar as pessoas de tanto rir, isso sim. Tenho a certeza de que o público vai divertir-se, que este formato tem grande potencial, desafios hilariantes e que vai agarrar os espectadores. E estamos concentrados, empenhados em fazer um bom programa de televisão que agrade aos mais pequenos, aos adultos. Que seja transversal e que seja também desconcertante.

O César Mourão, com quem vai fazer novamente dupla na apresentação, já disse que "agora há a mania de entrar em casas e saltar para as piscinas" e que não vão entrar nesse jogo. Em que jogo é que vão entrar então?

[Risos] Nunca se sabe o que pode acontecer, não é? O César canta, eu gosto de cobras, podemos sempre fazer aqui alguma brincadeira. Tenho a certeza de que o programa vai estar recheado de surpresas. Mas o objetivo não é que os apresentadores participem no programa. Temos concorrentes para isso. Enquanto apresentadores vamos é moderar um bocadinho o que está a acontecer e, em determinadas situações, vamos ajudar a que o momento tenha mais tensão. Eu posso agarrar numa cobra, num escorpião, numa aranha...

No programa, cinquenta por cento dos desafios implicam contacto próximo com animais exóticos. Algum receio?

Há animais que me fazem alguma impressão, as ratazanas é de conhecimento geral. E nem é pelo animal em si, a cauda da ratazana é que me faz alguma confusão.[Carro da Tortuga Petshop, loja responsável pelos animais exóticos do programa e desta sessão fotográfica, aproxima-se.] Estão a chegar os nossos animais, eh, eh! Sei que vêm ratazanas para esta sessão fotográfica e não me nego a desafios. Mas não tenho medo de nada, tenho sim um grande respeito pelos animais, pelas regras. Sei quando não devo interferir para os salvaguardar e a mim também. Respeito-os, sobretudo.

E na vida, também não tem medo de nada?

Gosto de olhar para a vida de uma forma positiva e olhar para as coisas que a vida me pode dar. Óbvio que tenho medo de perder as pessoas de quem gosto, mas em geral não tenho medo de nada. Esta é a minha forma de estar na vida. Sou destemida, mas tenho cuidado onde ponho os pés, ou seja, tenho sempre em atenção o que me rodeia. Preciso de adrenalina, de um bocadinho de loucura.

Na versão norte-americana, o Steve-O, do Jackass, é conhecido por ser radical e um apresentador muito participativo nos desafios. Que postura vai a Andreia assumir?

Vi alguns episódios do Jackass e ele é completamente louco. Eu sou radical, não pondo em causa a minha segurança nem a de ninguém. Vão poder ver-me com uma postura mais radical, de levar aos desafios que me são propostos momentos mais intensos porque realmente nada me faz assim grande impressão, as baratas, as larvas... Creio que posso criar ali alguns momentos interessantes e mais radicais, nesse sentido.

Sente-se em desvantagem por ir concorrer com um programa gravado contra o Dança com as Estrelas da TVI, apresentado por Cristina Ferreira?

[Pausa] Antes de mais, respeito imenso o trabalho que está do outro lado. Mas acho que a televisão não pode ser feita a olhar para o lado. Nós temos de estar a olhar para aquilo que estamos a fazer. E este formato já está criado assim porque o internacional já era gravado e a complexidade dos jogos assim o exige. E o facto de trabalharmos nestas condições permite-nos ter também uma dinâmica enorme. Acho que as pessoas, assim que começarem a ver o jogo, vão ficar presas, até porque acho que em casa vão colocar-se no lugar dos concorrentes.É um bocadinho divertirmo-nos com o medo dos outros.

Este programa é um aproveitamento do medo das pessoas pelo espetáculo?

Não necessariamente. Temos um jogo que é o fantoche, em que a pessoa está a cantar mas quem controla todos os movimentos da pessoa é um assistente. A pessoa está só a cantar, quem controla o movimento de braços e pernas é o assistente. Não há aqui nenhum medo ou fobia, há pura diversão. Por isso, aqui não há nenhum aproveitamento do medo.

Diz que sente os programas em direto, mesmo quando são gravados live on tape. Gostava de apresentar este programa em direto?

Não pensei nisso, quando me apresentaram o projeto, soube, logo à partida, que seria gravado e o meu empenho também não varia por ser gravado ou ser direto. E apesar de ser um programa gravado, será live on tape, as únicas paragens serão para mudança de jogos. A ideia é que as pessoas sintam a energia de que o que está a passar-se é verdadeiro, que aquilo que estão a sentir não estão a sentir uma segunda ou terceira vez.

Os portugueses gostam mais que lhes deem música ou que os ponham a abanar o capacete?

O português gosta de ouvir música e a música é a base de tudo na realidade, para um lado ou para o outro.

Já conhecia o formato?

A anos de saber que a SIC ia ter este formato já o conhecia. Até porque o Gosto Disto! nos obriga a fazer uma série de pesquisas e eu e o César [Mourão] somos proativos na busca de conteúdos para o programa. Alguém me tinha sugerido ou eu descobri. Mas pensava "deve ser tão divertido fazer este programa".

É um programa que se lhe adapta?

Sim, se a SIC acha que sim. Eu própria acho que tem que ver connosco. Eu e o César podemos dar o nosso contributo e estou muito feliz pelo facto de a SIC ter feito esta aposta.

E se pudesse dedicar uma música à concorrência num karaoke, qual escolhia?

[Longa pausa] Sou péssima para letras, portanto estar a escolher... acho que não arriscaria. Não, não arriscaria porque não conheço as letras todas na íntegra, por isso prefiro não arriscar.

Desde que começou a falar-se sobre o programa que o nome de César Mourão foi apontado como garantido. A dúvida era quem iria juntar-se-lhe ou se haveria mesmo alguém a coapresentar. Sentiu-se a última escolha da SIC?

De todo, de todo, de todo. A SIC é um canal que aposta nas pessoas que tem. E eu já estava no Fama Show antes e a estação apresentou-me o Gosto Disto! como um novo projeto. Portanto, de forma alguma.

Como recebeu a notícia?

O convite chegou-me através da Gabriela Sobral e da Júlia Pinheiro [diretoras de produção e conteúdos da SIC, respetivamente] e fiquei entusiasmadíssima por saber que podia estar neste programa que eu já conhecia, mas não pensava sequer nisso. Eu gosto de estar focada naquilo que estou a fazer e tenho dois projetos que me preenchem, que requerem muito de mim. O facto de isso ser falado era apenas isso. Apenas algo falado.

Neste momento, a vossa dupla quanto é que vale a nível de mercado?

Pois, eu e as finanças...

Sabe que não estou a falar só de finanças.

Pois é uma questão à qual não sei responder e acho que nós nem sequer pensamos nisso. [Agente da apresentadora intervém: "Tem de se pedir um estudo à Marktest."] Pois é, é isso, temos mesmo de pedir um estudo à Marktest [risos].

Mas sabe que são uma dupla valiosa.

Acho que funcionamos bem, temos química, completamo-nos e conseguimos criar uma dinâmica muito interessante entre os dois. Agora, o valor que temos ou não, não sei.

É o reconhecimento do seu trabalho no Fama Show e no Gosto Disto!?

O Cante se Puder acaba por ser o resultado da evolução do trabalho que eu e o César temos vindo a fazer no Gosto Disto!. Em relação a mim, acho que sim. A SIC está a apostar em mim e é lógico que acho que é um resultado do trabalho que tem vindo a ser feito, a entrega que tenho tido para com o canal, a forma como me empenho. Agora só quem decidiu que eu e o César seríamos as caras deste novo programa é que pode dizer-lhe a razão.

Depois deste programa, passa a ver a sua participação no Fama como secundária?

Não há programas secundários. Vou continuar a entregar-me como me entregava a tudo como antes de fazer o Cante se Puder. Faço questão de ser assim, não há cá meia entrega. Ou nos entregamos ou não nos entregamos. Pelo menos para mim é assim, não vejo nenhum programa como menos importante, todos eles fazem parte do percurso.

O seu percurso tem crescido. O seu ordenado também?

[Risos] Lá está, essa é uma questão que me dirá respeito a mim e à SIC.

Mas aquilo que recebe está em linha com o que dá à SIC?

Acho que a SIC é um canal justo e tem sido assim sempre, mas para mim o que importa não é a compensação monetária que existe. Não é pela compensação monetária que faço seja o que for. É pelo desafio, pelo prazer, e pelo projeto. É isso que me move, não o resto.

Na apresentação do programa, Luís Marques [administrador da Impresa, empresa que detém a SIC] disse que a vossa dupla já era a cara do canal. Como foi ouvir isso?

Todas as pessoas que dão a cara pela SIC são a cara da SIC. Eu já me sentia uma das caras da SIC desde que entrei para a estação. A SIC tem o cuidado de fazer com que todos se sintam parte da família e desde que entrei que me sinto parte da família SIC. E fico orgulhosa de sentir que a estação aposta em mim e que me vê em registos diferentes.

E o Gosto Disto! termina aqui?

Não, o Gosto Disto! vai só de ferias. Volta depois do verão. Sei que em julho e agosto não haverá, depois só a SIC é que sabe.

O formato já foi por várias vezes renovado pela SIC. Acha que é por ser um programa barato ou bom?

Na minha opinião, o Gosto Disto! é um programa que reúne uma série de fatores que permitem que o programa esteja no ar com bons resultados e isso é o principal. O Gosto Disto!, no seu conjunto, consegue ser um bom programa para a SIC. Se é barato, lá está, não tenho noção disso, porque não sou da área financeira da SIC.

A própria Andreia já admitiu que os programas que apresenta vivem muito da sua imagem. Acha que as pessoas não conseguem separá-la da imagem de menina bonita?

Acho que televisão é imagem. A imagem é importante, mas não é tudo, longe disso. Lógico que temos de ter cuidados, que há preocupações que estão associadas ao facto de trabalharmos em televisão. Mas mulheres bonitas - e agora falando especificamente em mulheres - há muitas. Umas mais, outras menos; umas loiras, outras morenas. O que marca a diferença não é a beleza, é a entrega, o sermos ativos, o não nos acomodarmos, o estarmos constantemente à procura de melhorar. Porque não há pessoas insubstituíveis.

Não é só uma cara bonita?

De todo, nunca me considerei só uma cara bonita. Acho que a beleza é uma coisa passageira, o que faz a diferença e faz agarrar o lugar é tudo o resto que não é visível apenas aos olhos de alguém.

Qual é a imagem que acha que transmite lá para casa?

Não me preocupo muito com a imagem que transmito. Preocupo-me em ser eu própria, divertir-me com o que faço, viver o que estou a fazer. Se há uma coisa que me deixa mais emocionada, não evito emocionar-me, deixo que passe aquilo que estou a sentir. Gosto de me divertir, de desafios, de testar alguns limites e de me ver em vários registos.

Acha que tem uma imagem que lhe permite apresentar vários registos, ser multifacetada?

Há formatos em que me vou enquadrar, em que vou encaixar, e outros que não.

Em que formatos é que acha que não se encaixaria, por exemplo?

Não sei, até agora encaixei em todos os formatos que me têm sido propostos pela SIC e a estação tem essa sensibilidade. Há uma série de caras e a SIC atribui às caras que tem os programas que acha que fazem sentido.

A sua vida é um Fama Show?

Não, não. A minha vida é muito discreta, gosto de calma e tranquilidade. O Fama faz que passemos muito tempo em eventos, a acompanhar o dia a dia das caras que aparecem na televisão, e eu preciso de compensar. Não sou muito de ir a festas. Gosto da minha casa, ali é que me sinto bem, no meu cantinho. Gosto da natureza, do silêncio. A minha vida não é um Fama Show, mas tem um Fama Show dentro dela aos sábados, agora.

Alguma vez se sentiu rotulada por fazer este programa?

Não, nunca me senti rotulada. Acho que provamos com o trabalho que fazemos que não somos apenas caras bonitas e quem me conhece e priva comigo tem a oportunidade de verificar quem é que eu sou e como é que eu sou. Quando se faz um programa dito magazine cor-de--rosa, onde há vestidos, o glamour, o salto alto, há pessoas que podem achar que tudo isso é só caras bonitas. Mas não fazem ideia do trabalho que o Fama Show exige de cada repórter. Há trabalho de visionamento, de preparação de entrevistas, de edição.

Não acha que as suas colegas do Fama Show a invejam pelas oportunidades que está a ter, tendo em conta que nenhuma conduziu um programa desta dimensão?

Não, não. Até porque se avaliarmos bem todas as apresentadoras têm tido outros projetos paralelos. A Rita [Andrade] está agora a fazer o Não Há Crise, a Vanessa Oliveira na altura esteve no SIC ao Vivo, a Vanessa chegou a fazer daytime, a Cláudia Borges faz sempre o PortugalFashion e a Iva [Lamarão] tem as Sextas Mágicas e uma série de projetos paralelos. Todas nós vamos fazendo o nosso percurso.

"Não sou o prolongamento de ninguém"

Já foi entrevistada pelo seu namorado [Daniel Oliveira] no Alta Definição, sendo a única doFama Show a fazê-lo. Teve dúvidas em aceitar o convite?

Não, o Alta Definição é uma marca do canal. O programa já entrevistou nomes como o Artur Agostinho, o Miguel Sousa Tavares, portanto foi uma honra poder ter ido ao Alta Definição. Se decidiram que era o momento, eu aceitei logo, claro que sim.

Sente que as pessoas podem achar que chegou até aqui porque é namorada do Daniel Oliveira?

Sinceramente, não me preocupo muito. Estou onde estou porque trabalho, porque me esforço, porque não me acomodo, porque se for preciso trabalhar vinte horas seguidas de trabalho, o faço. A minha consciência é o que importa.

É-lhe indiferente o que possam pensar?

A este respeito, sim. Quem me importa - e falo dos responsáveis da SIC, das pessoas que trabalham comigo - sabe que estou onde estou por mim.

Portanto, não é só a namorada do Daniel Oliveira?

Isso nem faz sentido. Para mim nunca fez sentido. Eu sou a Andreia porque sou a Andreia, porque tenho uma identidade própria, porque faço as coisas como faço, porque vivo as coisas como vivo. Não sou o prolongamento de ninguém. Sou sim a Andreia que partilha uma vida com o Daniel Oliveira. Sou a apresentadora, a amiga, a namorada, divertida, às vezes zangada, mas sou eu própria porque vivi o que vivi, porque a vida me fez ser quem sou. Não me passa pela cabeça ver-me como a continuação de alguém. E faço questão na minha vida e no meu trabalho de provar isso.

Começou como assistente do Um, Dois, Três [RTP] e passou pelo Toca a Ganhar (TVI) antes doFamaShow. Tem vergonha por ter começado como a menina do telefone?

Vergonha? Impensável. Não, faz parte. Estar duas horas em direto deu-me estaleca. Aprendi muita coisa e a arranjar formas de contornar aquilo que muitas vezes não existe para ser dito. Somos nós também que fazemos os programas. E se eu estava ali, aquilo era o que era, mas cabia-me a mim que o programa pudesse ser, dentro do registo, um pouco mais interessante. Seria para umas pessoas, para outras não. Faz parte.

O que é que ainda lhe falta fazer em televisão?

As coisas acabam por acontecer de forma natural, não vou estar a fazer o Cante se Puder a pensar no que é que pode vir depois. Se fizer um bom trabalho, as outras coisas hão de surgir, se tiver de ser. Não vivo ansiando um programa. Na minha vida sou assim, acho que é a forma como estamos no presente que influencia o nosso futuro. Se estiver a pensar no futuro o presente é descartado.

Quais são as suas referências, em termos de apresentadores, em Portugal?

Temos profissionais fantásticos e tenho algumas inspirações e referências, mas não tenho alguém que seja "a" inspiração. Gosto de uma determinada coisa numas pessoas, noutras gosto de outra coisa. Não me preocupo em ser igual a ninguém.

A sua carreira começou na moda. Como é que chegou a essa área?

Tinha 16 anos quando comecei a fazer alguns trabalhos. Sempre fui muito independente e nunca gostei de pedir mesada aos meus pais e a moda dava-me trabalho, dava--me dinheiro. Nunca quis ser manequim, de todo. Era um complemento, até porque trabalhei muito mais em publicidade. Acabei por me apaixonar pelo meio, porque na altura o caminho não era por aqui.

Por aqui?

Por aqui, televisão. Sou apaixonada por números, matemática, física, química. Houve ali uma altura, no nono ano, quando segui a área de Ciências, que pensava fazer biologia ou química aplicada. Sou uma pessoa que tem sempre em mente a busca pelo conhecimento e o querer saber sempre mais do mundo que nos rodeia. Consumo horas sem fim de National Geographic e de Odisseia.

Perdemos uma boa bióloga?

Não se perdeu nada. A realidade é que o caminho foi outro e sou feliz. Houve uma altura em que achei que o caminho não seria a comunicação social. E nada me impossibilita de tirar Biologia ou Química Aplicada. Não ponho nada de parte. Quem sabe um dia temos uma apresentadora que é química [agente da apresentadora diz: "Ou és contratada pelo National Geographic"]. Nunca se sabe, adoraria um dia poder fazer trabalho de investigação para o National Geographic.

Voltando à moda, em 2008 representou Portugal no concurso Miss Mundo. O que retirou da experiência?

Confesso que não gosto muito do título Miss. Quando fui com o título Miss Mundo 2008 representar Portugal é porque é assim que chamam as candidatas no concurso. Não acho que Miss seja um estatuto, eu ali era só uma candidata. Não me considero Miss, porque em 2008 nem sequer houve um concurso oficial. Foi alguém que disse "Gostava que fosse esta pessoa." Propuseram-me e eu não aceitei logo à partida porque este tipo de concursos não tem que ver comigo. Mas depois comecei a pensar na oportunidade que era poder conhecer um país diferente... Era uma experiência e valeu por isso.

"Em momentos decisivos estamos preparados para sobreviver"

Do que é que se recorda mais da sua infância?

Foi muito feliz, muito vivida, sempre junto à terra com os animais por perto. Foi uma infância com campismo à mistura, muita praia, mar, muito salgada e doce também. Os meus pais sempre foram preocupados, mas não demasiado preocupados, sempre me deixaram viver. Se eu caísse, caía e para a próxima já sabia que tinha de ter cuidado. Tive um ouriço-cacheiro em casa, piquei-me imensas vezes, os meus hamsters andavam à solta em casa, tive um morcego durante dois dias.

Era uma maria-rapaz ou menina das bonecas?

Um misto. Nunca gostei muito de lacinhos na cabeça nem de saias, gostava de estar confortável. De subir às árvores porque gostava de saltar por cima das coisas, gostava de brincar com os animais e gostava de me sujar.

É saudosista?

Não, porque ainda tenho essa energia, a família à volta e momentos de pura diversão com aqueles que me são próximos e especiais. Não tenho saudades da minha infância. Antes subia à árvore, agora atiro-me da ponte e faço bungee jumping. É por aí, mas a minha essência continua lá.

Aos 17 anos sofreu um grave acidente de viação e o carro onde seguia acabou por ficar submerso numa ria. Sentiu-se zangada com o mundo?

É um assunto que está arrumado, foi um grande susto na altura. Foi mais uma experiência e todas elas nos alteram e vão fazendo de nós aquilo que somos hoje. Parte de mim deve-se também ao que aconteceu naquela noite.

Acredita no destino?

Nós fazemos o nosso destino. A vida tem uma série de caminhos, não acho que seja uma linha reta e aquilo é só aquilo. Nós tomamos decisões e sofremos as consequências Naquela noite tomei a decisão de estar ali e aconteceu o que tinha de acontecer, mas a vida é também feita de sorte.

Foi a sorte que a salvou naquela noite?

Foi a sorte e o facto de eu ter uma grande resistência dentro de água. Mas em momentos decisivos como aquele nós estamos preparados para sobreviver e fazemos de tudo para continuar cá. Não me sinto mais por ter sobrevivido, fiz o que qualquer um faria, que é lutar pela vida.

Está quase a celebrar 30 anos. Assusta-a o passar dos anos, o envelhecer?

Não, estou feliz por isso. A mulher aos 30 atinge o equilíbrio perfeito entre a sabedoria e o facto de fisicamente estar ótima. Já tem maturidade, está mais apurada aos 30 anos. É uma idade fabulosa.

Ainda não tem uma década de carreira. Quantas décadas se vê a celebrar em televisão?

Vejo-me a fazer televisão enquanto achar que faz sentido fazer televisão. À luz do que é a minha vida hoje, quero continuar a fazer televisão "para sempre", entre aspas. Se bem que é muito mais difícil para uma mulher fazer televisão com o avançar do tempo do que para um homem. A passagem do tempo é um mais drástica para as mulheres, nesse sentido. São poucas as mulheres que, a partir de uma determinada idade, têm espaço em televisão. Aquelas que são realmente boas têm espaço e eu vou esforçar-me para tê-lo.

E se um dia as luzes da ribalta se apagarem?

Sou apaixonada pelo meu trabalho, mas tenho muitas coisas que me preenchem e alimentam em paralelo. Não vejo a televisão como o único caminho da minha vida. E se um dia as luzes se apagarem, apagam-se as da televisão, não as da minha vida.


























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