Após 179 episódios, 'Avenida Brasil' despede-se hoje dos portugueses. Na hora do adeus, a Notícias TV foi saber que mudanças trouxe esta trama à ficção e quais as influências para projetos futuros. "Provou que é possível produzir um produto de qualidade a um ritmo industrial", responde o diretor de núcleo Ricardo Waddington.
Há um ano, o Brasil parou para saber quem matou o Max. A noite de 19 de outubro de 2012 foi memorável em terras de Vera Cruz e chegou a temer-se um "apagão" devido ao consumo excessivo de eletricidade dos aparelhos que não iam perder o desfecho de Avenida Brasil. Hoje à noite, a partir das 22.00, os portugueses despedem-se da trama que tem conquistado o segundo lugar no pódio de audiências nas últimas semanas.
"Um elenco de luxo", uma imagem "quase cinematográfica", "uma vilã com V maiúsculo" ou o "improviso" são alguns dos ingredientes que especialistas, atores e autores dizem ser "essenciais" para a receita do sucesso desta trama cujo argumento é assinado por João Emanuel Carneiro.
Na hora do adeus à novela, a Notícias TV foi ouvir atores portugueses que ficaram rendidos a Avenida Brasil. "Quem é que pode não ser fã desta novela? É difícil haver uma novela melhor do que esta, a fasquia está muito alta e agora vamos sempre compará-las com as próximas mesmo sem querer", atira Lídia Franco, que desde o arranque é uma fiel espectadora desta produção. Porquê? "É a novela perfeita. O texto, a direção de atores, realização, iluminação, sonoplastia, cenários, figurinos, sentido de humor. Mesmo alguns atores que não eram fabulosos acabaram por crescer durante a novela. É o caso do Marcello Novaes e do José de Abreu que nesta novela tiveram os papéis das suas vidas", justifica a atriz.
Ricardo Carriço realça o retrato feito da sociedade brasileira. "É a imagem perfeita da vida real no Brasil. O texto e o desempenho dos atores é magnífico, bem como a imagem em si." Conhecedor da realidade portuguesa e da brasileira, Ricardo Pereira, no Brasil a gravar Joia Rara, cuja equipa de realização é a mesma de Avenida Brasil, elogia o desempenho de Carminha. "Avenida Brasil foi um sucesso cá e lá e isso deve-se a uma grande história, com um elenco maravilhoso e com uma Adriana Esteves fantástica. A história é muito bem estruturada e bem dirigida", enaltece o ator.
A liberdade que era dada aos atores para trabalhar o texto, algo pouco habitual em novelas, é outra das premissas da trama da SIC. "Avenida Brasil trouxe às novelas um género novo, uma espécie de teatro ao vivo. Os atores têm uma forma diferente de trabalhar porque não estão tão presos ao texto. E para quem vê é ótimo porque faz que a história pareça muito próxima da vida real", elogia Ricardo Pereira. Outra fã da novela, Ana Guiomar acredita que a novela "é um marco" e destaca precisamente a "naturalidade" dos atores. "As cenas são muito sujas, ou seja, falam uns por cima dos outros, pisam-se uns aos outros sem qualquer tipo de problema e isso é algo que não estamos habituados a ver em televisão", destaca a Sónia de Dancin" Days.
Maria Vieira, que estava no Brasil no arranque da novela, sentiu de perto o fenómeno em torno da história protagonizada por Nina e Carminha. "Apercebi-me logo que iria ser um sucesso, o que veio realmente a confirmar-se. Todos os atores que conheço no Brasil me disseram que esta era uma novela muito bem feita", diz a atriz.
"AVENIDA BRASIL", O INÍCIO DE UMA NOVA ERA NA FICÇÃO
Rui Vilhena, que durante vários anos escreveu novelas de sucesso para a TVI e que neste momento trabalha para a TV Globo, não tem dúvidas de que há uma "era antes e uma pós Avenida Brasil" não só na ficção brasileira mas um pouco por todo o mundo. "A novela marcou muito. E quando isso acontece as novelas deixam as suas raízes e acabam por influenciar outras histórias." E Vilhena admite que há atributos nesta trama que servirão de inspiração para produções futuras. "É óbvio que a partir do momento em que há um grande sucesso como este vou tentar, de alguma maneira, apanhar coisas que a meu ver funcionaram, que seduziram, neste caso, o público português. E vou tentar incluí-las num próximo trabalho meu", acrescenta o guionista à Notícias TV. Lídia Franco também não tem dúvidas. "Claro que há uma era antes e uma depois de Avenida Brasil. Já tinha visto novelas muito boas, mas esta é um marco para a televisão", aponta a atriz.
Mais comedida, Ana Guiomar prefere não falar em era, embora reconheça que a partir daqui "todos os projetos" terão um crescendo de responsabilidade. "Sem dúvida que a partir de agora o grau de exigência vai ser bastante maior. Acho, inclusivamente, que vai trazer mudanças nas ficções de outros países porque vão começar não a copiar o modelo mas a tentar aproximar-se do modelo desta novela", reconhece.
Em conversa com a Notícias TV no Rio de Janeiro, Marcos Caruso, o Leleco da trama, acredita que tal como aconteceu na terra do samba também por cá, a partir de amanhã, os portugueses vão sentir falta deAvenida Brasil. "Pelo sucesso que tem feito em Portugal, com certeza que também marcará a memória dos portugueses, que vão sentir-se órfãos, como aconteceu cá [Brasil]. Um ano depois de a novela ter terminado no Brasil ainda há quem fale do último episódio", ressalva.
Por sua vez, José de Abreu, o Nilo de Avenida Brasil, diz que a importância desta trama para a indústria da ficção só pode ser comparada ao que aconteceu na década de 80 no Brasil. "Esta novela deu mesmo certo ao ponto de ser comparada ao impacto que Roque Santeiro teve. É inexplicável", refere, realçando as barreiras que esta novela quebrou. "Numa Globo em que noutras tramas nem se pode fumar nem beber um whisky nas novelas das nove, ali bebia-se litros de álcool. A minha personagem bebia, arrotava quando, em casa, estava toda a gente a jantar!", destaca o profissional.
Mais de 1,2 milhões são espectadores assíduos da novela na SIC
Se no Brasil Avenida Brasil foi vista, em média, por 46 milhões de espectadores, números que a colocaram na maioria dos dias como o programa mais visto da televisão brasileira, por cá a novela protagonizada por Débora Falabella e Adriana Esteves repete o sucesso e é um dos programas mais vistos da SIC, somando desde a data de estreia, 24 de setembro de 2012, até à passada quarta-feira [data de fecho desta edição] a média de 1 223 500 espectadores, conquistando quase sempre nas últimas semanas o segundo lugar da tabela diária.
O sucesso de Avenida Brasil estende-se aos quatro cantos do mundo, tendo já sido exportada para 106 países, como a Rússia, Croácia, Grécia, Uruguai, Panamá e Equador, e dobrada em 14 línguas, entre as quais grego, russo, inglês ou espanhol.
Depois de ter sido capa da conceituada revista Veja no Brasil, a trama fez furor também na imprensa internacional, do Reino Unido a França, dos EUA à Austrália, os media internacionais não deixaram de lado o "fenómeno" Avenida Brasil. Jornais como o The Guardian, FinancialTimes, Los Angeles Times, The WallStreetJournal, Le Figaro a agência France-Presse, a estação britânica BBC ou a revista Forbesapresentaram artigos sobre o poder de Avenida Brasil para cativar multidões. Esta última publicação adiantou que a trama de João Emanuel Carneiro "é a novela mais bem-sucedida comercialmente da história da televisão brasileira".
Segundo dados da Forbes, o encaixe financeiro da TV Globo foi de mais de 760 milhões de euros. 172 mil euros foi quanto custou cada um dos 179 episódios e, segundo o mesmo estudo, os ganhos com publicidade nos intervalos da novela cobriu por completo os custos de produção.
Também na Internet e sobretudo redes sociais a novela foi um fenómeno, com várias páginas dedicadas a personagens da história que ganharam vida pelas mãos e pela imaginação de seguidores ou memes [imagens animadas com citações divertidas]. E os próprios atores, como José de Abreu, trocaram impressões com os fãs de Avenida Brasil nas redes sociais. "Para ver a novela é muito interessante porque tem-se um feedback imediato, sem censura. É até mais importante do que os focusgroups que a Globo faz", disse o ator.
Maria Immacolata Vassallo de Lopes, professora da Universidade de São Paulo [USP] e coordenadora do Observatório Ibero-Americano da Ficção Televisiva [Obitel], estuda o fenómeno da telenovela há mais de duas décadas e acredita que este sucesso é sinónimo de que "o público se apropriou da novela". "A interação da televisão com as redes sociais é fantástica! Fala-se de telenovela nas redes sociais enquanto se está a assistir, mas também se faz produto sobre essa telenovela coloca-se no YouTube. Feito por quem? Pelo público! É uma mistura, a televisão manda para a rede, a rede manda para a televisão. É a chamada convergência transmediática, aproveitada pelos produtos comunicativos", referiu à Notícias TV.
Substituta de "Avenida Brasil" já faz sucesso no horário nobre da SIC
Ao contrário do que aconteceu no Brasil, por cá é Amor à Vida a novela que ocupou o horário de Avenida Brasil na SIC. Estreada na passada segunda-feira, a trama já conquistou os portugueses e nos dois primeiros dias de exibição conquistou sempre o primeiro lugar do pódio, com resultados que a antecessora nunca alcançou. No primeiro dia, mais de um milhão e 500 mil espectadores seguiram a novela protagonizada por Paolla Oliveira e Mateus Solano.
"Por cá, Amor à Vida não tem sido tão falada como Avenida Brasil, mas tenho a certeza de que esta nova novela tem tantas ou mais razões para fazer sucesso em Portugal. Devido às surpresas dramatúrgicas que o autor criou e vai criando ainda, até porque acho que não vai parar", antevê António Fagundes, o César da trama, em conversa com a Notícias TV no Rio de Janeiro.
NTV
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