Entrevista ao apresentador Daniel Oliveira, 'Alta Definição': Quatro anos recheados de 'altas' confissões

Ao longo dos quatro anos de existência de "Alta Definição", Daniel Oliveira arrancou as mais inesperadas confissões aos seus convidados. Na última semana foi a vez de Daniela Ruah fazer uma revelação surpreendente, ao anunciar que estava grávida. Quem já passou pelo programa explica que o apresentador "sabe fazer as perguntas de maneira certa".

Sábado, 14 de setembro. Los Angeles serviu de cenário para uma notícia de última hora: Daniela Ruah está grávida de um menino. Mas a notícia não surgiu através de um comunicado emitido pela atriz ou da especulação de um qualquer tabloide. Foi no programa Alta Definição, exibido na SIC, que Daniela Ruah decidiu fazer essa mesma revelação. E não é um caso isolado, já que outras figuras da televisão como Ricardo Carriço, Vítor de Sousa ou João Ricardo também escolheram o programa conduzido por Daniel Oliveira para fazer revelações inéditas.

À Notícias TV, o apresentador mostra-se satisfeito por ter conseguido uma revelação especial quando o programa celebra o seu quarto aniversário. "Conjugaram-se a nossa intenção de voltar a gravar com a Daniela [Ruah] passados quase quatro anos desde a primeira vez e desta feita em Los Angeles e o momento em que ela está prestes a fazer 30 anos. Para nós era importante que o programa fosse especial em todos os sentidos do termo", explica Daniel Oliveira à nossa revista.

Para garantir que a notícia seria dada em primeira mão, o apresentador admite que houve "uma série de cuidados extra no tratamento desse facto novo e indisfarçável". "Não usámos planos abertos na autopromoção do programa ou nas fotos publicadas nas redes sociais e fizemos o mesmo no programa até ao momento da revelação. Não tinha a certeza de que conseguiríamos preservar a notícia até à emissão do programa, mas penso que a forma como tudo fluiu foi especial para a Daniela como queríamos que fosse e também para nós pela confiança que foi depositada em nós", esclarece.

Confrontado com a extensa lista de confissões que já conseguiu obter nos mais de duzentos programas emitidos, Daniel Oliveira considera que não "existe um segredo" e sim "um conjunto de fatores para que isso aconteça". "A Christiane Torloni disse uma coisa engraçada na nossa entrevista que foi que na comunicação, como na representação, há uma energia, uma química, uma cumplicidade que acontece somente entre aquelas duas pessoas que se olham e dialogam. Porque é que acontece? Como é que acontece? São perguntas para as quais haverá mais do que uma resposta. O que me parece é que nós conseguimos que essa cumplicidade se estenda ao público, que cada espectador sinta essa energia e cumplicidade e faça parte daquele momento", argumenta.

"Senti-me tranquilamente num confessionário"

Mas há quem consiga dar uma explicação mais concreta. O ator Vítor de Sousa assumiu a sua homossexualidade no programa Alta Definição e chegou mesmo a dizer que foi alvo de assédio na sua juventude. "Na igreja de Benfica que frequentava, tinha na altura 18/19 anos e cheguei até a ser sacristão, apareceu lá um sacerdote que me levava para o confessionário, acariciava-me e conduzia a conversa sempre para o sexo", disse na altura. E não foi só. O ator chegou mesmo a confessar que pensou suicidar-se por causa de um desgosto de amor. "Tomei comprimidos com álcool. Foi um ato de cobardia", atirou.

Olhando agora para trás e recordando a sua passagem pelo programa, Vítor de Sousa atribui o mérito a Daniel Oliveira. "Se disse o que disse foi graças a ele e porque achei que a conversa foi muito bem encaminhada. Vi-me subitamente no meio de um diálogo empolgante, com perguntas tão bem preparadas que era impossível arranjar desculpas ou rodeios", sublinha. O ator vai mais longe e revela: "Senti-me tranquilamente num confessionário, no qual seria pecado se não dissesse a verdade."

A opinião é partilhada por Ricardo Carriço. Na altura em que foi convidado para o programa de entrevistas da SIC, o ator assumiu pela primeira vez que consumiu substâncias ilegais, como cocaína, quando era mais jovem. "Começou por ser uma brincadeira e acabou por ser uma coisa sociável", confessou.

O ator explica à Notícias TV o que o levou a fazer uma revelação tão intensa. "É incrível a capacidade de comunicação que o Daniel Oliveira tem. Ele conduz a conversa de uma forma tão tranquila que acabamos por nos sentir os seus melhores amigos, é como se estivéssemos em nossa casa. E é por isso que, a meu ver, acabamos por revelar coisas que de outra forma jamais revelaríamos", constata.

No programa foram feitas várias outras confissões que surpreenderam o público. A atriz Rita Blanco, que sempre se tinha recusado a falar sobre o seu passado, sobretudo sobre o suicídio do pai, acabou por quebrar o silêncio no programa de Daniel Oliveira, esclarecendo que o que aconteceu com o progenitor não a mudou. "Faz parte da vida, não me modificou. Os meus pais ensinaram-me o que é ser livre. Aprendi a respeitar as escolhas das pessoas, mesmo que doam. A vida era dele e o meu pai fez o que quis com ela", disse na altura.

O rol de confissões estendeu-se a João Ricardo, que fez uma declaração surpreendente ao revelar que fugiu de casa quando tinha 16 anos para encontrar a "independência de que precisava". "Cheguei a dormir na rua", disse o ator. Também a atriz Oceana Basílio abriu o coração e falou sobre a dependência de drogas que teve no passado. "Por mais que existam momentos de lucidez, tudo passa para segundo plano. O meu objetivo era só um - o consumo", admitiu.

"Há uma relação de confiança entre a equipa e o entrevistado"

Lágrimas e confissões têm marcado os quatro anos de existência de Alta Definição. Terá o programa já conquistado um estatuto que faz que seja quase obrigatório o entrevistado cumprir estes dois requisitos? Daniel Oliveira considera que "é natural que a credibilidade que o programa granjeou faça que as pessoas se sintam mais confortáveis", mas sublinha que isso não explica tudo. "Há uma relação de confiança entre equipa e entrevistado. As pessoas sabem que podem confiar em nós, que podem levar-nos a conhecer a sua "casa" sem que arrombemos portas ou nos coloquemos numa posição que não seja a de quem quer fazer uma boa conversa e produzir um bom programa de televisão para todos", frisa.

Sobre os quatro anos de existência do formato, o apresentador acredita que o programa pode ter uma vida longa se cumprir alguns requisitos. "Se conseguirmos manter a frescura, o entusiasmo, a coerência e o sentido crítico na produção e execução das entrevistas, isso é meio caminho andado para fazer sempre mais um programa", enumera.

Daniel Oliveira descarta comparações com Oprah Winfrey, por se tratar de "registos, métodos e estilos diferentes" e atira: "Aconteça o que acontecer, o Alta Definição já é uma marca da história moderna da televisão portuguesa."

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