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7 de abril de 2013

Dois homens e um beijo para despir a TV de preconceitos, na telenovela ‘Dancin’ Days’

A SIC volta a arriscar e vai exibir o beijo de Germano e Aníbal em 'Dancin' Days'. Autor explica que a cena é natural. O presidente da ILGA congratula-se, mas frisa que ainda há um "longo caminho a percorrer".

O casamento, geralmente onde se reúne todo o elenco, é uma cena quase obrigatória no final de uma novela. Mas o casamento de um casal homossexual com beijo na boca incluído é uma autêntica estreia na ficção nacional. E é precisamente isso que os espectadores da SIC vão poder ver no final de Dancin' Days, que está previsto acontecer em setembro. Na reta final da trama, Aníbal (Vítor Norte) e Germano (Paulo Pinto) vão oficializar a relação e beijam-se perante os convidados.

Ainda que não seja uma cena comum na ficção portuguesa, Pedro Lopes, autor da novela em questão, encara a situação com naturalidade. "Para mim, essa parte [o beijo] é a que menos me interessa [risos]. O beijo é uma demonstração de afeto normal num casal, seja ele hetero ou homossexual. Vejo isto como um afeto e não como algo que tem o objetivo de chocar ou de ser o primeiro a fazê-lo", considera o autor.

Para Paulo Côrte-Real, presidente da ILGA (Intervenção Lésbica, Gay, Bissexual e Transgénero) o facto de a SIC vir futuramente a exibir um beijo de um casal homossexual é motivo de regozijo, mas não apaga o longo caminho que ainda há a percorrer. "O facto de isto ser notícia só prova que a homossexualidade ainda não é um tema assim tão banalizado como deveria ser. Mas é muito positivo que estas cenas sejam exibidas e espero que se repita mais vezes no futuro", frisa o responsável.

O ator Paulo Pinto, que em Dancin' Days dá vida a Germano, revelou à nossa revista que "foi fácil" gravar a cena em que teve de trocar um beijo com Vítor Norte. "Eu e o Vítor [Norte] tínhamo-nos conhecido no Equador [em reposição na TVI], ficámos dois meses no Brasil e tornámo-nos amigos na altura. Quando soube que ia contracenar com o Vítor fiquei satisfeito, já havia entre nós alguma cumplicidade e gosto muito do trabalho dele. Além disso, sentirmo-nos à vontade com os nossos colegas é muito importante, principalmente num caso destes que é muito delicado. Isso foi logo meio caminho andado", explica.

A homossexualidade, de resto, tem sido um tema cada vez mais recorrente na ficção portuguesa e são raras as novelas em que não exista pelo menos uma personagem com esta orientação sexual. Pedro Lopes dá a sua justificação. "Estes temas só começam a aparecer na ficção porque cada vez mais as pessoas aceitam. E, por outro lado, as pessoas aceitam porque a ficção também tem tido um papel importante", destaca.

Na versão original de Dancin' Days, que foi exibida pela TV Globo no Brasil em 1978 e 1979, não existia este casal homossexual. O autor do remake reconhece que em Terras de Vera Cruz este é um tema sensível. "Há mais censura. Tem havido uma grande resistência nas nas várias novelas que tentaram ter personagens homossexuais e muitas vezes essas personagens têm sofrido alguma alteração ou uma diminuição de importância", salienta.

Paulo Pinto não tem dúvidas de que as novelas têm como função entreter e também educar o público. Nesse sentido, o ator que dá vida a Germano destaca que as novelas podem "desmistificar certos buracos negros" que existem na nossa sociedade e diz que a reação do público no dia em que o beijo for para o ar é uma incógnita. "Aqui, em Lisboa, acho que a reação vai ser mais normal, mas no interior pode haver algumas pessoas que fiquem incomodadas por ver dois homens a beijarem-se", reconhece.

O presidente da ILGA aplaude que a ficção nacional inclua cada vez mais personagens homossexuais nas tramas, mas deixa um alerta para a falta de diversidade. "É muito mais comum vermos homossexuais retratados nas novelas através do sexo masculino do que do sexo feminino. Outra questão prende-se com os transexuais, que são uma minoria ainda mais minoritária, passo a redundância. E é preciso que estas pessoas também tenham visibilidade na ficção e se revejam nas histórias", diz Paulo Côrte-Real.

Tanto Pedro Lopes como Paulo Pinto garantem que têm recebido um feedback muito positivo do público. No caso do autor, por ter dado a conhecer a realidade da mulher e dos filhos de um homem que a dada altura assume a homossexualidade e, no caso do ator, pela sua naturalidade na novela de horário nobre da SIC.

Homossexualidade na ficção sim, mas com moderação

Se é verdade que as novelas abordam cada vez mais personagens homossexuais, o mesmo não significa que se tenha tornado um tema banal ao ponto de os autores as tratarem como as heterossexuais. Custódia Gallego, que em Dancin' Days dá vida a Áurea, mulher de Aníbal, reconhece que a TV "tem medo de chocar", uma vez que "o objetivo dos canais de televisão é agradar às pessoas".

Na novela Podia Acabar o Mundo, da SIC, Ana Guiomar e Diana Chaves também trocaram um beijo e o tema deu que falar na altura. "Podíamos ter dado muito mais para aquilo realmente fazer sentido. Acho até que foi pouco explorado, podíamos ter tido uma relação muito mais forte", adianta Ana Guiomar.

NTV

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